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Comunicação

Agências gaúchas relatam pausas em projetos e mobilização de funcionários

Sediadas em Porto Alegre, Escala, Paim United Creators e W3haus compartilham movimentos internos e em relação a entregas para clientes em meio à catástrofe que assola o Rio Grande do Sul


8 de maio de 2024 - 18h58

Nota atualizada em 09/05 às 12h54

empresas ajudam o RS

Inundações em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, 2024 (Crédito: Picture Alliance/ Getty Images)

Na manhã desta quarta-feira, 8, o número de mortos pelos temporais que atingem o Rio Grande do Sul subiu para cem, de acordo com boletim divulgado pela Defesa Civil do estado. Segundo o relatório mais recente, mais de 1,3 milhão de pessoas foram afetadas e 155 mil pessoas estão desalojadas.

Desde o início desta semana, diversas empresas vêm anunciando medidas para assistir a população afetada pelas chuvas, como Ambev, Claro, Gol, BRF, iFood e Sicredi.

Enquanto isso, empresas como Arezzo, Chandon, Riachuelo e Salton, que produzem na região, estão remanejando suas operações e, sobretudo, adotando medidas de assistência às suas respectivas equipes.

De maneira similar estão operando as agências de publicidade cujas sedes ficam em Porto Alegre: a prioridade é, no momento, ajudar pessoas da equipe que ficaram desabrigadas, que tiveram suas casas inundadas ou que têm familiares nessas situações.

Na Escala, duas pessoas foram diretamente afetadas, enquanto outras 12 foram impactadas de forma indireta. Já na Paim United Creators, cinco colaboradores perderam a casa e cerca de 20 tiveram que deixar suas casas por medidas de precaução. A sede da empresa, localizada no Instituto Caldeira, um espaço de inovação, está inundado.

Plano de contingência

“Já na quarta-feira de 1º de maio foi um dia com muita chuva e, na quinta-feira, reunimos lideranças do nosso time para entender o que faríamos dali para frente, vimos que o quadro começaria a se agravar. Então pessoas tiveram que deixar para trás suas casas alagadas às pressas. É um dano material e emocional muito grande”, relata Mateus Gobbi, head de pessoas e cultura da Paim United Creators.

Ele e as lideranças da empresa colocaram em ação um plano que inclui vaquinha para instituições parceiras, com o intuito de custear itens básicos para aqueles que perderam todos os seus bens. Além disso, também entraram em contato com uma fundação para prestar auxílio psicológico para os colaboradores.

Renata Schenkel, CEO da Escala, conta que a agência está focada em preservar os empregos e equilibrar apoio emocional e financeiro à equipe, que hoje conta com 75 pessoas. “Muitas pessoas se afastaram do trabalho, inclusive as que tiveram parentes próximos afetados. Temos de respeitar isso”, diz.

Tanto na Escala quanto na Paim United Creators, assim como na W3haus, partes das equipes estão totalmente focadas em outro job que não o publicitário: assumiram a função integral como voluntárias em diferentes regiões metropolitanas para ajudar as vítimas a ter acesso a itens básicos, como água, alimentos e itens de higiene.

“Alguns desenvolvedores do grupo Stefanini, em conjunto com profissionais de outras empresas de tecnologia, atuaram no desenvolvimento de um app que faz a gestão dos abrigos de Porto Alegre e região, com cadastros de desabrigados, necessidades de cada um e um dashboard com disponibilidade de vagas”, afirma Guilherme Stefanini, CMO global da holding que da qual a W3haus faz parte.

O app mencionado pelo executivo está sendo utilizado pela prefeitura de Porto Alegre, pelo Ministério Público e pela Defesa Civil.

Outro tipo de job

“Hoje, temos um grupo de 70 pessoas da agência fazendo voluntariado. Hoje mesmo fizemos uma grande doação de insulina. Nesse meio tempo, nós, que continuamos no dia a dia da operação, estamos negociando com todos os nossos clientes, que atuam por todo o Brasil”, detalha Mateus, da Paim United Creators.

Na Escala, a parte do time que não foi impactada pelas chuvas está se debruçando sobre o suporte à comunicação de clientes, que precisam mudar suas estratégias no curto e médio prazo. As Lojas Colombo, um dos clientes da agência, teve seis lojas danificadas e 500 funcionários afetados.

Outro cliente, a cooperativa Santa Clara, de laticínios, doou 50 toneladas de leite para evitar que determinadas áreas do Rio Grande do Sul não sofra com o desabastecimento de derivados de leite.

Nos casos de campanhas maiores, como as de Dia das Mães, a veiculação foi pausada ou cancelada. “Pausamos todas as mídias no Rio Grande do Sul nesses casos, porque não há clima”, afirma Renata.

Novos planos de comunicação

Parte das entregas para os clientes têm girado em torno do combate às fake news sobre o que está acontecendo na região – sobretudo no que diz respeito ao envio de doações para entidades de cunho duvidoso e para criar canais certeiros, com o objetivo de fazer com que os mantimentos cheguem aos locais corretos. Segundo Mateus, da Paim United Creators, há uma confusão na questão logística que tem demandado muita atenção.

Porém, enquanto clientes com atuação local estão concentrados em priorizar as pessoas e, com isso, os planos de comunicação estão suspensos, algumas marcas de atuação nacional continuam veiculando mensagens otimistas e bem-humoradas na região, o que vem gerando repercussão negativa.

“Está soando super mal. Ninguém vai pensar em comprar presente para a mãe nesse momento. Além de ser de uma tremenda falta de sensibilidade, é um desperdício de investimento”, diz Renata.

ESG e humanidade

A profissional sugere que as marcas nacionais se unam às locais para que haja solidariedade e benefícios reais para a população. “Deem descontos relevantes, não de apenas 5%. Fala-se tanto em ESG, este é o momento de evitar o greenwashing e de adotar iniciativas reais de ESG, pois esse episódio foi impulsionado pelo gás de efeito estufa. Quem ainda não fez nada, está atrasado e precisa correr”, alerta.

Mateus relembra que o papel fundamental das agências – ajudar clientes a desenvolverem suas histórias ao longo do tempo – não pode ser executado sem as pessoas que compõe o negócio. “Que a gente olhe para nossa comunidade, porque a comunicação não é nada sem as pessoas. Se não tivermos pessoas alimentadas, hidratadas e um lugar para morar, não adianta. O cuidado agora é com as pessoas”.

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