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“É preciso bom senso no retoque de imagens”, diz criador do Photoshop

Thomas Knoll fala sobre a criação do software e a transição para o digital


9 de agosto de 2017 - 13h43

Pensar no layout para uma campanha online ou para uma peça em print hoje é uma questão mais criativa do que instrumental – e os softwares de composição e edição de imagem tem muito a ver com isso. O Photoshop ajudou a construir a dinâmica de criação publicitária com um universo de possibilidades para retoques e edição. Ganhou até o verbo “photoshopar”, já internalizado pelos jovens profissionais. No Brasil para o lançamento de sua exposição fotográfica Infinitude, que acontece no MIS SP em agosto,  o criador do Photoshop, Thomas Knoll, conversou com Meio & Mensagem sobre a criação do programa e seu uso pela indústria publicitária.

O retoque excessivo de imagens, tema controverso que cerca a publicidade, é visto como um fator responsável pela criação de propaganda enganosa e proporções impossíveis. Quando questionado sobre o lado ruim da edição de imagens e sobre o movimento “sem Photoshop”, Thomas afirma que existe uma linha tênue para os retoques.

“Existe uma razão pela qual o retoque é tão popular, e a minha teoria é de que, quando você pega uma imagem parada de uma pessoa, é uma situação apática e diferente da sensação de estar no mesmo cômodo olhando para ela. Você pode ver cada rachadura e imperfeição em uma imagem 2D, e a quantidade ideal de retoque suaviza isso e aproxima a imagem da experiência real. Mas certamente é possível ir muito longe e criar uma sensação de se estar olhando para uma boneca de plástico, com proporções impossíveis e esse tipo de coisa”, avalia Thomas.

 

(créditos: Adobe Systems Brasil / Divulgação)

 

Ele afirma ainda que é preciso bom-senso e que ” é importante que o público também entenda o que é possível no processo de retoque, de forma que possam ver de forma crítica a fotografia publicitária excessivamente trabalhada”, disse.

A ideia para o Photoshop surgiu na década de 80, quando o engenheiro fazia doutorado na Universidade de Michigan e seu irmão John Knoll trabalhava como operador de câmera na Industrial Light & Magic, empresa de efeitos visuais de George Lucas (criador de Star Wars). Fotógrafo amador, Thomas começou a desenvolver pequenas aplicações para processamento de imagem e compartilhá-las com seu irmão, que estava aprendendo efeitos gráficos como um hobby.

“Nunca houve a ideia de fazer o Photoshop. Nos primeiros meses, só desenvolvíamos isso para nosso próprio uso, e eu trabalhava no programa porque era muito mais legal do que trabalhar na minha tese de doutorado, era algo onde eu podia procrastinar. Depois de muitos meses percebemos que poderíamos vender o programa”, disse Thomas, que na época estudava computer vision – área que consistia em ensinar computadores a entender imagens.

“O primeiro passo dessa área era o processamento de imagens, pegar um formato e aumentar o contraste, melhorar a resolução e fazer os algoritmos funcionarem melhor”, explica.

A fotografia e edição de imagens ainda era completamente analógica, e a dupla fez um tour pelo vale do silício até licenciar oficialmente o Photoshop para a Adobe em 1989. Thomas continuou a trabalhar no software de forma independente e até hoje presta consultorias para a marca para o desenvolvimento de novos recursos.

Antes da chegada das câmeras digitais, a edição de imagens e negativos era feita na sala escura e as técnicas de composição e colagem eram realizadas manualmente – sem falar na baixa resolução e na demora dos computadores para processar os arquivos. Flavio Castilho Millard, primeiro comprador oficial do Photoshop no Brasil em 1991, era arquiteto e trabalhava em agências de publicidade.

“O estúdio ficou pequeno e a área de computação gráfica foi tomando espaço nas agências. Antes do Photoshop, tínhamos que juntar todas as referências, ampliar a imagem em xerox, fazer todo o texto em Letraset [cartelas com fontes e imagens] e só então começar a pensar no layout de alguma coisa”, relembra Flavio.

O produto teve um boom com a internet e democratização das câmeras digitais, chegando não só a profissionais técnicos, mas a fotógrafos e designers amadores. Antes restrito à criação de peças que eventualmente seriam impressas em um jornal ou publicação, o Photoshop cresceu com a nova demanda por imagens menores para websites. Neste processo, a Adobe também viu a oportunidade  para criar o Lightroom, versão que permite trabalhar em múltiplas imagens ao mesmo tempo.

Apesar da competição com outros softwares emergentes, o Photoshop conseguiu prevalecer no mercado pela interface amigável e vantagens técnicas. “Programadores estavam procurando uma ferramenta de processamento de imagem e o Photoshop já estava pronto, e funcionava muito bem. Lançamos o programa pouco depois de um programa chamado ColourStudio, que tinha muito mais hype na mídia na época, e cuja publicidade era melhor do que a nossa. Mas quando a internet chegou já tínhamos nos consolidado e a Adobe continuou a aperfeiçoar o produto”, explica Thomas.

A ferramenta já conta com opções para mobile e, segundo Thomas, o foco agora está em incorporar novas soluções de IA que realizem outras etapas do trabalho pelo usuário.

 

 

 

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