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Treinar antes, quarter e bônus depois

A ideia anacrônica de que treinamento demora, custa caro e não dá resultados imediatos é tão historicamente ultrapassada quanto chamar propaganda de reclame.


11 de abril de 2015 - 8h42

Por Pyr Marcondes, diretor geral da M&M Consulting

Um dos angustiantes gargalos do marketing digital no Brasil hoje é gente. Falta de. Demanda maior que oferta.

Num mercado que mesmo diante das situações adversas da economia insiste em crescer horizontalmente e se diversificar verticalmente, o marketing digital, em toda a sua diversidade (não é só mídia, é todo o ecossistema de tecnologia, hard e softwares)­ está contratando. No contra fluxo de uma indústria que demite.
Só tá faltando quem.

Um gestor de marketing hoje tem dificuldade de montar uma equipe legal, que entregue com qualidade e excelência as demandas digitais das marcas que administra. Provedores de serviços de digital mar­keting caçam a laço profissionais desde a área comercial a programadores, passando por marketing e até CEOs. Agências duelam pelos “pouquissísssimos” nomes da publicidade que entendem de fato de digital. Isso aquelas que estão tentando se mexer e tirar o atraso (BV nutre, é verdade, mas também paralisa, gente, acreditem). Publishers, bem mais atrás — até porque insistem em não se mexer em busca de sua própria digitalização — no seu ritmo (lento), também buscam profissionais que entendam de digital content. Sua distribuição e monetização (raridade no País).

É uma crise de formação e de capacitação. Histórica. Como a crise hídrica. Ou o analfabetismo. Ou a fome. Descaso como causa comum.

As universidades tentam bravamente fazer sua parte criando cursos tanto na grade básica como em especialidades (mais curtos e mais rápidos), mas o ritmo da demanda corre muuuuito mais velozmente do que o da formação acadêmica. Vai melhorar, mas ainda falta.

Aí vem a parte das empresas. Essa é mais fácil. Na nossa indústria, com zero de tradição em capacitação e treinamento, quando está tudo bem, ninguém capacita nem treina ninguém, exatamente porque está tudo bem. Quando vai mal, aí então é que nem pensar.

Fazer o quê?

Vou dar três opções.

1. Fazer nadica de nada. Ficar paradão. Esperar a economia melhorar, a equipe econômica acertar, a Lava-Jato condenar. Boa estratégia. Não capacitar nem treinar ninguém. Tipo moita total. Sacou? O quarter manda: “Preciso entregar. Magina se vou treinar e capacitar gente num momento como esse. Estupidez!” Resta saber de quem.

2. Sondar, mas continuar não fazendo nada. É um avanço em relação à primeira opção, principalmente porque o gestor dorme mais em paz: “Gente, tentei! Conversei aqui e ali, pensei em implantar uns programinhas de treinamento, mas, olha… vamos focar, deixa mais pra frente. Aí, fazemos”. O quarter.

3.Fazer. Ponto.
Nenhuma empresa no Brasil, nem em nenhum lugar o mundo, hoje, poderá jamais prescindir, como nunca antes, de equipes qualificadas e bem treinadas para entregar não o futuro, mas as demandas digitais mais urgentes do presente. A curiosidade aqui é que o quarter está incluso.

Não treinar nem capacitar, porque tem de entregar o quarter, é reduzir dramaticamente a possibilidade de entregar o melhor quarter possível, arrancando tudo de incremental que o digital tem para render, percebe? É a cobra comendo seu rabo (o rabo dela, por favor…).

Só equipes altamente qualificadas em digital é que vão fazer a diferença de agora em diante! No seu bônus de final de ano, inclusive.

A ideia anacrônica de que treinamento demora, custa caro e não dá resultados imediatos é tão historicamente ultrapassada quanto chamar propaganda de reclame. Pelamordedeus, gente!

Digital é crítico. Em agências, anunciantes, publishers e fornecedores. Nunca mais deixará de ser.

É perfeitamente possível, num final de semana, dar um soco na cara da sua equipe de criação bundona que fica lá só criando anúncio e filme e mostrar como digital não é mídia, é uma dinâmica de pensamento.

É assustadoramente possível capacitar a alta gestão de uma empresa, que esconde sua total ignorância em digital, mas tem, e colocá-la diante de referências inspiradoras e de rudimentos de gestão de projetos digitais que já vão ajudar uma barbaridade. Top down. Uma semana já funciona.

É completamente possível, em três meses, criar uma Super Squad, uma Swat de evangelizadores digitais que, com um mínimo de ferramental e método, inoculem o vírus digital entre seus pares. Não fortuitamente, mas como um processo permanente.

É absurdamente possível criar uma biblioteca digital atualizada permanentemente por curadores especialistas de referências e cases digitais inspiradores. Do Brasil e do Mundo. E isso ser o esteio de referências sem as quais muito espertalhão ainda segue inventando a roda e chamando de quadrado. Entende?

É um pouco mais complicado, mas também possível, contratar uma equipe ninja digital que atue em linha e em aliança com a estrutura fixa da agência, anabolizando projetos em alta velocidade e deixando como legado cultura digital na empresa.

Nosso mercado paga hoje o (cada vez mais alto) preço pelo seu próprio anacronismo programado. O preço por sua falta de visão sobre um futuro que esteve gritantemente explícito nas manchetes nas últimas duas décadas e que todos insistiram em negar como uma realidade inevitável. Isso é verdadeiro para os negócios da indústria como um todo e para a formação da nossa mão de obra, em particular. Neste caso, desde sempre.

Treinar e capacitar já. Quarter e bônus em seguida. Um garantindo o outro. Não o contrário.

Artigo publicado originalmente na edição 1650, de 2 de março de 2015, exclusivamente para assinantes, disponível nas versões impressa e para tablets de Meio & Mensagem. Nos tablets, para acessar a edição, basta baixar o aplicativo nos sistemas iOS
 

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