Viagens corporativas apontam para disrupção no turismo
Apesar da retração do setor em 2016, devido à economia, as viagens a trabalho representam um filão interessante a ser desenvolvido nas áreas de hotelaria, alimentação e transporte
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Karina Balan Julio
24 de março de 2017 - 9h22
Quando o tema é viagem, um dos primeiros setores lembrados é o de turismo e lazer, com startups e aplicativos como Hotel Urbano e Airbnb, além dos tradicionais resorts e hotéis. No entanto, as viagens corporativas também são um grande vetor de crescimento dessa indústria. Uma pesquisa da GfK realizada para a Associação Latino-Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev) e divulgado nesta quinta-feira, 23, mostra que as viagens de negócio representam 50% das receitas de fornecedores como hotéis e agências de viagens. Os serviços de lazer representam 23% das receitas, e os eventos representam 24%.
O estudo, que faz um balanço do setor de viagens corporativas em 2016, mostra, no entanto, que o mercado teve queda de receita de aproximadamente 9% em 2016, já que é afetado diretamente pelo PIB. No ano passado, movimentou R$ 78 bilhões. Em 2015, foram R$ 85 bilhões. A tecnologia, nesse caso, pode ajudar a integrar diferentes serviços e ajudar as empresas a ter mais flexibilidade nos preços e controle na hora de agendar viagens para seus colaboradores.
“A forma de fazer a reserva era tradicionalmente feita por uma agência de viagem e, hoje, ela faz um papel de auxiliar na gestão, enquanto os aplicativos dão mais liberdade ao usuário. Tudo isso traz novas oportunidades e desafios, e as empresas que não estiverem antenadas vão gastar mais dinheiro para comprar suas viagens. Fornecedores e empresas estão entrando profundamente nesse ambiente de tecnologia na parte de tarifas e controle”, afirma Walter Teixeira, vice-presidente da Alagev.
O interesse em melhorar a gestão também se manifesta nos fornecedores: 48% deles fizeram novos investimentos em TI em 2016, e boa parte fará investimentos na área em 2017. Porém, a pesquisa com clientes revelou que 45% das empresas reduziram seus investimentos em viagens corporativas, e uma das razões para isso é o aumento do uso de conference calls e reuniões virtuais, que eliminam a necessidade das viagens.
Felipe Mendes, pesquisador da GfK, explica que existe um descompasso entre as estratégias das companhias e a expectativa dos fornecedores em relação a viagens de negócio. “As empresas acreditam que vão manter seus investimentos em viagens, enquanto fornecedores acreditam que o número de transações vai aumentar. Essa dissonância vem do desejo do setor de ganhar mercado, porque é uma indústria cujo crescimento depende de se ganhar mercado dos concorrentes. É muito mais difícil crescer com base em market share do que pelo crescimento natural da economia”, avalia.
Do ponto de vista dos fornecedores, outra oportunidade é o crescimento em cidades do interior e regiões fora do eixo Rio-São Paulo. “As agências, redes de hotel e outros fornecedores sabem que precisam fazer mais transações, então precisam gastar menos a cada viagem. O primeiro item que sai é atender a clientes de fora da cidade sede, então começam a surgir oportunidades fora do eixo São Paulo e Rio, e o interior é uma grande esperança”, complementa o pesquisador.
As agências de viagens representam um segmento que puxa boa parte das receitas com viagens corporativas (53%), seguidas dos hotéis, aviação e eventos. Mais da metade das viagens contratadas acontecem nacionalmente, enquanto outra parte ocorre na América Latina, Estados Unidos e Europa.
Devido ao momento econômico ainda difícil, outra modalidade que tem crescido é a combinação entre viagens de negócio e turismo. Um funcionário que teve a viagem paga por sua empresa pode, por exemplo, estender a viagem e aproveitar o destino com sua família, completando o pagamento por sua conta.
Felipe afirma que o Brasil é um dos países onde as pessoas mais adotam essa postura. A questão de proporcionar um momento prazeroso ao colaborador também pesa positivamente. “Não é tão barato viajar no Brasil. As pessoas não têm o costume tão frequente de viajar como em outros países, de pegar um avião no fim de semana. Em função disso, quando ela tem a viagem paga pela empresa, já é uma economia”, conta Felipe.
“Se as empresas tiverem foco na experiência de seu viajante, vão conseguir com que o funcionário e colaborador se engaje mais na sua relação com a empresa”, complementa Walter.
A flexibilidade possibilitada pelas plataformas de hotelaria e companhias aéreas corrobora para o surgimento de novos modelos de negócio para os fornecedores, mas áreas como alojamento e alimentação no local de destino ainda têm muito a se desenvolver. Outro desafio é a integração entre diferentes serviços digitais: hoje, já existem ferramentas de gestão de viagem como o Online Booking Tool (OBT), e outras plataformas integradas com aplicativos de táxi, por exemplo.
Walter acredita que os segmentos estão em diferentes níveis de adoção de tecnologia. As companhias aéreas trazem mais tecnologia pois são grandes players mundiais que investem milhões. A hotelaria, por sua vez, é mais fragmentada. “No cenário americano, por exemplo, mais de 50% dos hotéis são cadeias, e aqui no Brasil a maioria dos hotéis são redes individuais que tem maior custo e esforço para entrar nessa seara de integração tecnológica”, opina.
Ele acredita que em breve surgirão ofertas para nichos específicos (como pessoas que compram passagem de ida e volta e se hospedam só por uma noite) e novas oportunidades integradas a aplicativos de restaurante e novos meios de pagamento.
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