A Time Magazine e o Huffington Post
Henry Luce, criador da Time, não fazia muito mais do que os editores do Huff Post fazem atualmente: agregar está no DNA do jornalismo. Leia artigo de Carlos Eduardo Lins da Silva
Henry Luce, criador da Time, não fazia muito mais do que os editores do Huff Post fazem atualmente: agregar está no DNA do jornalismo. Leia artigo de Carlos Eduardo Lins da Silva
Meio & Mensagem
6 de junho de 2012 - 8h44
*Carlos Eduardo Lins da Silva é editor da revista Política Externa e diretor do Espaço Educacional Educare
O choque causado (já, há ao menos 20 anos) pelo advento da internet e dos diversos meios de comunicação decorrentes dela sobre a atividade do jornalismo e seus praticantes tem sido imensurável.
Para muitos, ele representa um cataclismo, algo que veio para mudar radicalmente as características essenciais da profissão e encerrar de vez uma era que começou sete séculos atrás, com a adoção do tipo móvel.
De fato, as consequências do mundo virtual sobre o jornalístico têm sido muito mais expressivas do que as nada desprezíveis mudanças que foram provocadas antes por novas tecnologias como rádio e TV.
Mas, no fundo, o que é essencial no jornalismo não é necessariamente alterado quando ele é praticado em veículos como blogs, Twitter e em especial versões online de jornais e revistas.
Fazer jornalismo de qualidade em qualquer dessas novas plataformas exige do profissional (ou amador) que se dedica à tarefa, basicamente, as mesmas virtudes, características de personalidade e acúmulo de conhecimento requeridos de quem fazia jornal impresso nos séculos 18 ou 19.
O Nieman Journalism Lab, iniciativa da Fundação Nieman ancorada na Universidade Harvard e um dos mais instigantes produtores de informação sobre o jornalismo neste século, vem publicando uma série de relatórios que descortinam estes temas com inteligência e acurácia.
Num deles, por exemplo, David Skok, um bolsista da Nieman, demonstra como a “agregação” (aggregation), que é a base do sucesso do Huffington Post e de outros, e considerado por muitos tradicionalistas como um trabalho de valor intrinsecamente menor do que o do jornalismo que busca informações inéditas, está — como ele diz — no DNA da profissão.
A revista Time, por mais de meio século (pelo menos desde a década de 1930 até meados da de 1990) foi considerada um ícone do jornalismo de máxima excelência.
Até Caetano Veloso falou dela na canção Ele me deu um beijo na boca, do LP Cores, Nomes, na qual — 40 anos atrás — já antevia o divórcio entre o establishment jornalístico e o mundo das pessoas mais jovens, que a internet tornaria agudo:
“O Time Magazine quer dizer que os Rolling Stones já não cabem no mundo
Do Time Magazine
Mas eu digo (ele disse) que o que já não cabe é o Time Magazine
No mundo dos Rolling Stones forever rockin’and rollin’ ”
Ele, como muitos gênios, era presciente, mas em geral naquela época e ainda por algum tempo, Time era considerada inexpugnável e absolutamente criativa e original.
Mas o fato é que quando começou, em 1923, Time era apenas um agregador de matérias que saíam nos grandes jornais e revistas da década de 1920, como The Atlantic, Christian Science Monitor e New York World, como comprova Skok em seu relatório para a Nieman.
Henry Luce, que criou a revista, não fazia muito mais do que os editores do Huffington Post fazem atualmente, o que levou Skok a concluir que “agregar está no DNA do jornalismo”.
E, da mesma forma que Luce e a Time evoluíram com o tempo e se tornaram autônomos e economicamente viáveis para gerar seus próprios conteúdos, o Huffington Post e seus responsáveis também podem ir na mesma direção, como, aliás, já vêm fazendo, a ponto de já estarem recebendo láureas jornalísticas como o Pulitzer.
Na verdade, o incômodo que veículos inovadores causam nos tradicionais é típico de qualquer situação de mercado em que os novos aos poucos desbancam os estabelecidos porque têm mais liberdade de ação e mais identificação com os públicos mais jovens.
Com o tempo, tanto os recém-chegados vão se solidificando e se tornam os novos padrões como alguns dos antigos se mostram capazes de se adaptar aos novos tempos e às novas tecnologias e encontram seus nichos (às vezes nem tão pequenos), sobrevivem e até voltam a crescer.
Evidentemente, nem todas as novidades nem todos os velhos mostram capacidade de superar os obstáculos, principalmente os que se acomodam, veem os novos adversários com complacência.
Mas o que a história ensina é que não há vagalhões no ambiente da mídia capazes de destruir integralmente todos os líderes da “velha ordem”.
Historicamente, 20 anos não são muito tempo. Ainda é difícil dizer com mínima garantia de sucesso o que vai ocorrer com o jornalismo no futuro. Mas talvez seja possível afirmar que ele não está em risco de desaparecer.
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