CNN Brasil prioriza hard news e quer dar menos espaço à polarização
Em entrevista, Virgilio Abranches, vice-presidente de operações, conteúdo e jornalismo, conta sobre novas diretrizes da redação, com jornalismo mais sóbrio e calcado em análises e menos em debates
Na tarde desta segunda-feira, 18, toda a equipe de redação da CNN Brasil participou de uma reunião com o vice-presidente de jornalismo do canal, Virgilio Abranches, a respeito de novas diretrizes que deverão nortear a programação da emissora de notícias.
Virgílio Abranches é vice-presidente de operações, conteúdo e jornalismo da CNN Brasil (Crédito: Divulgação)
A resolução, na verdade, faz parte de um processo de reformulação que começou no fim do ano passado – e que ainda não tem data para ser concluído – que visa deixar a operação com melhor saúde financeira, ao mesmo tempo em que revigora o prestígio da marca jornalística.
“Todas essas estratégias, que já estamos implementando há algum tempo, têm como objetivo de fazer a CNN ter um conteúdo equilibrado, relevante e sem perder a agilidade”, resume Abranches, em conversa com a reportagem de Meio & Mensagem pouco antes de transmitir às novas diretrizes à redação.
Abranches já era vice-presidente de conteúdo e operações do canal e, há dois meses, abraçou também o pilar do jornalismo, no lugar de Leandro Cipoloni.
Da descrição feita a respeito dos objetivos jornalísticos da CNN Brasil, o VP destaca a palavra ‘equilíbrio’, que, segundo ele, está no centro das mudanças pretendidas pela emissora.
Na visão de Abranches, isso vai além de opiniões ou da apresentação de reportagens mais inclinadas à direita ou à esquerda, como se convencionou classificar nos últimos anos de maior polarização no País.
“Quando pensamos em equilíbrio, me refiro a equilíbrio emocional: um jornalismo sem paixão, que puxa sempre para o racional. Não se trata necessariamente de ouvir uma pessoa de esquerda e, depois, dar o mesmo espaço a alguém de direita. Significa pensar se essas pessoas realmente têm representatividade para contribuir para um debate, sem gerar um tele-barraco ou demonstrar um falso equilíbrio entre as duas partes, sem que daí se extraia nada”, destaca.
Na visão do VP de operações, conteúdo e jornalismo, essa foi a forma encontrada pela CNN Brasil de buscar um público qualificado e que se importe, de fato com a notícia bem apurada e as consequências que aqueles fatos podem gerar. “É a classe política, de empresários, empreendedores, enfim, pessoas que têm desejo por uma informação consiste para que, a partir daí, possam tomar suas decisões”, resume.
Ao revisar os últimos meses e anos de trabalho da CNN Brasil – e também nos canais jornalísticos, de forma geral – o executivo admite que acabou existindo um desejo de, em meio à efervescência de opiniões do País, dar espaço a uma quantidade maior de vozes, o que muitas vezes, pode ter tornado as discussões mais simplistas e gerado a impressão de que os veículos querem promover debates a qualquer custo, em busca de grupos de audiência que já tenham opiniões polarizadas.
“Entendemos que esse não é um caminho estrategicamente correto para uma empresa jornalística e decidimos recalcular essa rota. Com certeza, a espinha dorsal da CNN Brasil foi preservada, com a busca por agilidade, apuração de notícias e análises bem embasadas sobre política, economia e outros assuntos”, explica.
As novidades da grade da CNN Brasil
Um pouco dessa filosofia de priorização do hard news e do factual poderá ser visto pelo público a partir da próxima segunda-feira, 25. No lugar do Grande Debate, marcado pela divergência de opiniões, entra no ar o Brasil Meio-Dia, que ficará no ar as 12h às 14h.
O jornalístico será comandado por Luciana Barreto e contará com análises de política e economia feitas por Basília Rodrigues, Iuri Pitta, Fernando Nakagawa e Jussara Soares.
O VP do canal explica que o Grande Debate não deixará a grade, mas será reformulado e retornará em outra faixa de horário, ainda não definida, com as participações dos comentaristas Caio Coppolla e José Eduardo Cardozo e mediação de Leandro Magalhães.
Para acompanhar as mudanças, o veículo também apresenta na próxima segunda-feira, 25, uma reformulação visual, com novas vinhetas e paleta de cores.
“Não trabalhamos para que a audiência venha a qualquer custo. Trabalhamos na qualidade do conteúdo, que envolve a construção de conteúdo em todas as plataformas. Temos clareza a respeito dos nossos objetivos e qualidade do conteúdo e a audiência será consequência disso”, esclarece o executivo.
Essas movimentações, de acordo com Abranches, ainda estão em curso, como parte da reformulação implementada por João Camargo, que assumiu a liderança da CNN Brasil no fim de 2022.
“Não é possível fazer um processo de reestruturação como esse em alguns dias. Todas as movimentações que estamos promovendo acontecerão até o fim do ano”, disse o executivo.
Contudo, Abranches garantiu que não existe a possibilidade de o veículo deixar de licenciar marca CNN Brasil, como chegou a ser divulgado em algumas publicações da imprensa. “Isso foi uma mentira e nunca chegou a ser cogitado. Temos uma ótima relação com a CNN Internacional”, garante.