Isolamento e conexões
Trabalhando remotamente há cerca de um mês, indústria de comunicação vê disparar a audiência da mídia, mas ainda se ressente com queda nas verbas de marketing
Trabalhando remotamente há cerca de um mês, indústria de comunicação vê disparar a audiência da mídia, mas ainda se ressente com queda nas verbas de marketing
A temporada do Big Brother Brasil esticada, lives com cantores sertanejos batendo recordes mundiais e uma explosão no consumo de conteúdo jornalístico. São muitos os exemplos que mostram a sede de conexão dos brasileiros, neste momento em que boa parte de nós está isolada em casa há cerca de um mês. No período, as telas que informam, entretêm e aproximam parentes e amigos são, para muitos, o único horizonte.
Na semana de 6 a 12 de abril, os brasileiros passaram 20% mais tempo em frente à televisão, em relação à primeira semana de março. O mesmo índice de crescimento foi registrado pelo conjunto dos canais pagos, no período de 24 de março a 5 de abril, na comparação com o mesmo período de 2019. Além da TV, serviços de streaming, portais de conteúdo, sites de jornais e emissoras de rádio também experimentam alta nas audiências e conquista de espectadores, leitores e ouvintes. Os números da Kantar Ibope Media ilustram a reportagem publicada na edição impressa de Meio & Mensagem desta semana, que discute o paradoxo da maior audiência não se reverter, necessariamente, em ganho de arrecadação publicitária pela mídia, já que há verbas de marketing cortadas ou congeladas.
Neste primeiro mês de confinamento, o interesse público alçou o jornalismo ao topo dos rankings de audiência. A busca por informação confiável levou a GloboNews à liderança da TV por assinatura brasileira pela primeira vez. Também injetou ânimo nas semanas de estreia da concorrente CNN Brasil, que em seus primeiros 30 dias colocou no ar 500 horas de programação ao vivo e conquistou o segundo lugar na TV paga em São Paulo, no horário das 7h às 24h. Na TV aberta, Globo e Record tiveram audiências puxadas pelo aumento do espaço jornalístico. De 16 de março a 12 de abril, a audiência da Globo cresceu 15% em relação à média deste ano.
Paralelamente à conquista de público, e precisando de mais agilidade para atender às mudanças de estratégias de muitas marcas anunciantes, a mídia teve de rever práticas, estabelecer novas rotinas comerciais e investir em formas de networking virtual com agências e anunciantes. Um caso emblemático foi a estreia, na semana passada, do quadro Solidariedade S.A., no Jornal Nacional, principal telejornal do País. Com a iniciativa inédita, a Globo passou a citar marcas e empresas em reportagens que destacam ações positivas e doações para o combate aos efeitos da pandemia no Brasil — algo inusual e que, antes, feria a linha editorial da emissora.
Mudar para reagir à crise tem sido uma receita para muitas empresas, não só no segmento da mídia. Alterar trajetórias anteriormente planejadas, redimensionar estratégias e até lançar novos produtos e serviços são práticas que têm ajudado a atravessar um período difícil, pontuado por incógnitas.
Com acertos, erros e correções de rotas, nos últimos 30 dias Meio & Mensagem também experimentou recorde histórico de audiência em seu site (alta de 58% no total de usuários em março, na comparação com fevereiro) e adotou diversas iniciativas. Abriu o conteúdo de suas edições semanais nas versões para tablets, lançou o site Acervo, que além da edição corrente contém todo o arquivo de 42 anos de história da publicação, e passou a transmitir a live diária Conectando o Mercado, sempre às 15h, com entrevistas com lideranças da indústria.
Na edição impressa desta semana, a novidade é a estreia de novos articulistas, que passam a se revezar nos espaços semanais de opinião. Com isso, Meio & Mensagem agradece a inestimável colaboração prestada nos últimos anos por Ana Cortat, Cintia Gonçalves, Joanna Monteiro, João Livi, Marcos Caetano e Mauro Cavalletti. E dá as boas-vindas a André Kassu (sócio e CCO da CP+B), Carol Sevciuc (diretora de transformação digital da Nestlé), Dipanjan Chatterjee (vice-presidente e analista principal da Forrester Research), Fiamma Zarife (CEO do Twitter), Igor Puga (diretor de marketing e marca do Santander) e Miriam Shirley (CEO da Sapient AG2). Kassu volta a integrar a equipe de colunistas, desta vez sempre acompanhado por ilustrações de seu sócio e dupla Marcos Medeiros. Na reestreia, Kassu faz uma bela reflexão sobre a revalorização do tempo e deixa um pertinente alerta, que vale para avaliarmos todas as nossas conexões: “estamos confundindo velocidade de consumo com capacidade de apreensão”.
*Crédito da foto no topo: Brandi Redd/ Unsplash
Compartilhe
Veja também