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Opinião

O que você vai fazer sobre isso?

A liderança está disponível para aqueles que querem mudança, inclusão e prosperidade


11 de novembro de 2016 - 9h30

Janice Dias com sua filha Marley em entrevista para a Fox sobre o movimento #1000BlackGirlBooks

Janice Dias com sua filha Marley em entrevista para a Fox sobre o movimento #1000BlackGirlBooks

Marley chegou em casa frustrada. Tinha se dado conta que todos os livros que havia lido na escola até então tinham como protagonista um menino. Um menino branco. Expressou à sua mãe sua decepção. Provavelmente Marley não foi a única criança a constatar que a representatividade de protagonistas negros e femininos nos livros infantis (e livros adultos, filmes, publicidade) é muito baixa. E, provavelmente, a resposta à frustração colocada pelos filhos fez com que muitos pais se sentissem tristes, e tenham tentado ajudá-los a entenderem que o mundo não é justo mesmo, mas que eles são crianças especiais. Mas não foi isso o que a mãe de Marley fez. Olhou séria nos vívidos olhos de Marley e perguntou: “O que você vai fazer sobre isso?” 

O que você vai fazer sobre isso? É o tema da 3% Conference, que acabou de realizar sua 5ª edição no Manhatan Center, em Nova Iorque. A proposta do evento é evoluir o debate a respeito da representatividade de diferentes grupos no mercado de comunicação, de promover as lideranças femininas, em especial na área criativa, e de discutir melhores práticas para transformar o ambiente de trabalho num lugar mais humano, de mais respeito aos indivíduos e de inovação no modelo de negócio e formato de trabalho. A provocação do tema deste ano busca encorajar e dar ferramentas às pessoas para enfrentar os problemas que elas identificam nos seus ambientes de trabalho com ações práticas, desde uma nova política de recursos humanos, brigar por uma vaga de liderança até encontrar financiamento para sua startup.

Se engana aquele que pensa que este foi um evento sobre mulheres, para mulheres discutirem feminismo. É um evento sobre humanidade, inovação e sobre como a colaboração de uma comunidade pode transformar a realidade de todos em pouco tempo. Mulheres e homens, de c-level à juniors, discutindo com seriedade novos caminhos. Um bom exemplo de mudança tem a ver o próprio nome do movimento. Ele se chama 3% porque foi fundado quando a representatividade de lideranças femininas na criação das agências era de 3%. Cinco anos depois, esse número passou para 11%, um crescimento de 360%, que ainda é considerado lento por muitas das altas lideranças que estavam no palco ou como patrocinadores. Um outro exemplo é um dos apoiadores, uma empresa global de relações públicas, que fez um compromisso público na conferência do ano passado de equiparar o porcentual de criativos homens e mulheres nas suas equipes e lideranças e apresentou orgulhosamente os resultados positivos da mudança. 

Falando em patrocinadores, é uma lista invejável de empresas dispostas a dar suporte à conversa: DDB, BBDO, BBH, FCB, CP+B, Havas, 72andSunny, Edelman, SapientNitro, Possible, Huge, The Martin Agency, e a lista vai embora. A cada ano essa relação aumenta, ao lado do engajamento e representatividade dos speakers no palco. Se no primeiro ano foi uma dúzia de speakers, esse ano foram mais de cem, entre o main stage e as sessões paralelas exclusivas para homens, jovens criativos, diretores de criação e recursos humanos.

Dá para ver, sentir e ter certeza de que essa é uma transformação sendo levada a sério por aqui e que tem como meta final um melhor mercado para as pessoas e para os negócios, que precisam como nunca beber de novas fontes e novos pontos de vista. O que pessoalmente me espanta no Brasil é como ainda estamos discutindo se existe ou não um problema de gênero, representatividade, e de práticas ultrapassadas junto às pessoas, enquanto temos suficiente capital intelectual e inovador para fazermos o que deve ser feito. Agora.

O que eu vou fazer sobre isso? Busquei encorajar e fazer parte da primeira delegação brasileira na conferência este ano e, estas incríveis mulheres unidas à apoiadores como a Cindy Gallup, Kat Gordon (fundadora do 3%) e a um importante grupo de líderes no Brasil de agências e clientes pretendemos levar o evento, a conversa e as ações para o Brasil do tamanho que o nosso mercado e nossas pessoas merecem.

Minha proposta é seguirmos todos o exemplo de Marley Dias. Após a conversa com sua mãe, criou o movimento #1000BlackGirlBooks que já conseguiu arrecadar mais de 8 mil livros infantis com protagonistas negras para serem doados (pela hashtag se percebe que já superou 8 vezes sua meta inicial), foi convidada à Casa Branca pela Michelle Obama, entrevistou Hillary Clinton e recebeu coach da Rihanna. Acha que ela está satisfeita? Marley agora quer expandir sua atuação para todo o território dos Estados Unidos e internacionalmente, além de incluir meninos negros, índios e outros grupos. Marley continua indo para a cama todos os dias às 20:30 porque acha que fica chata quando dorme pouco e continua indo bem na sua escola no Harlem, onde acabou de ganhar um grande painel de grafite com o seu rosto em homenagem ao que está fazendo. A liderança para a mudança é uma constante oportunidade e está disponível para aqueles que tiverem disposição e energia para provocar a diferença, independente da senioridade, gênero, raça e orientação sexual. 

E você? Qual problema quer resolver? O que você vai fazer sobre isso?

 

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