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Terminou março, mas…

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Opinião

Terminou março, mas…

Ainda não falamos o suficiente sobre violência contra mulheres


9 de abril de 2024 - 6h00

Sim, a afirmação pode parecer um pouco exagerada. Afinal, nos últimos anos, testemunhamos um crescimento exponencial do interesse pelo tema da equidade de gênero e mesmo da violência contra meninas e mulheres entre os mais diversos meios e segmentos.

No debate público, no ativismo, nas mídias digitais, nas propagandas e até mesmo nas grandes empresas, proliferam-se iniciativas que escancaram nosso voraz apetite social por mudanças na direção de um mundo menos desigual e mais seguro. Não parecem faltar vontade, instrumentos e mecanismos para avançar na agenda da garantia de direitos fundamentais.

Em março, mês do dia internacional da luta pelos direitos das mulheres, esta movimentação fica ainda mais evidente com campanhas, reportagens e iniciativas sendo amplamente divulgadas, de tal modo que podemos, às vezes, até mesmo nos perguntar: será que já não estamos falando o suficiente sobre o tema? E o quanto nossos discursos e nossas retóricas têm se transformado em ações práticas e que mudam substantivamente a vida de mais da metade de nossa população?

Enquanto sociedade, não temos evidências na direção de que estaríamos avançando mais ou menos em uma velocidade desejável na direção de incentivar e garantir o aumento dos espaços, a segurança e o bem-estar das mulheres no mundo. Muito pelo contrário. O Fórum Econômico Mundial divulgou, em 2023, que, se seguir o ritmo atual, a igualdade de gênero seria alcançada em surpreendentes 131 anos, um horizonte que retrocedeu mais de 35 anos com os efeitos desproporcionais da pandemia da Covid-19 para as mulheres no mundo.

Olhando especificamente para a realidade brasileira, podemos seguir algumas pistas de que nossos esforços têm se mostrado ainda subdimensionados para o tamanho do problema. A Pesquisa Nacional da Violência Contra a Mulher, realizada bianualmente pelo Instituto DataSenado e o Observatório da Mulher Contra a Violência do Senado Federal, apontou em sua 10ª edição que 48% das mulheres brasileiras sofreram, ao longo de suas vidas, alguma forma de violência doméstica e familiar. Ao mesmo tempo, apenas duas em cada dez mulheres brasileiras afirma conhecer suficientemente, por exemplo, a Lei Maria da Penha, que este ano completa a maioridade, tendo sido sancionada em 2006. A pesquisa ainda aponta que há uma correlação entre não conhecer suficientemente a lei e não confiar em serviços institucionais para o problema.

Então, se estamos falando bastante, ainda não chegamos perto de falar o suficiente para que a conversa se transforme em mudança. Precisamos falar ainda mais e melhor, pois nossos esforços comunicacionais, como aponta a pesquisa citada acima, parecem estar sendo demasiadamente tímidos em levar esclarecimento e informação de qualidade para as mulheres.

Mais do que uma resposta, este texto traz uma proposta. Acredito que, do ponto de vista do setor privado, talvez devamos ser ainda mais ousados e em nossas aspirações. Ao invés de promover várias intervenções e campanhas restritas e localizadas, muitas vezes viabilizadas por um conjunto reduzido de organizações, talvez devêssemos mirar mais alto, na direção de uma grande colaboração comunicacional supra organizacional, setorial e institucional com o compromisso de alcançar em massa a população brasileira com conteúdo e mensagens informativas de qualidade.

Será que somos capazes de viabilizar um grande esforço colaborativo e ambicioso, que vise mudanças sistêmicas e mensuráveis, que saia da lógica de iniciativas individuais e caminhe para propostas coletivas? Será que nos próximos meses de março e na próxima mensuração da pesquisa do DataSenado conseguimos mover esta régua com mais brasileiras seguras e cientes de seus direitos garantidos por lei?

É uma máxima dos estudos sobre a sociedade que problemas coletivos não podem ser resolvidos ou mitigados por soluções individuais. Tomemos para nós, do setor privado, esta orientação. Atuemos em redes e coalizões, aplaquemos nossos desejos por protagonismo individual e não dissipemos os recursos já tão escassos deste ecossistema. Espero que na 11ª mensuração da pesquisa, tenhamos outros resultados.

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