Quais são as mulheres que você mais admira?
Se te perguntassem quais são as mulheres que você mais admira, quem você responderia? E por que a síndrome de impostora te impede de admirar a si mesma?
Se te perguntassem quais são as mulheres que você mais admira, quem você responderia? E por que a síndrome de impostora te impede de admirar a si mesma?
28 de março de 2023 - 9h52
Provavelmente, uma série de famosas, como políticas, ativistas, artistas. Talvez, sua mãe entrasse na lista. Quanto tempo demoraria até você citar o seu próprio nome? Essa é uma provocação que me impacta bastante porque vejo no dia a dia tantas amigas – e até eu mesma – sofrendo da chamada síndrome da impostora, aquela sensação de que o sucesso atingido não foi merecido. Mesmo com qualificação, experiência, muitas de nós se angustiam com a falta de confiança em nós mesmas e nas nossas habilidades. É raro nos sentirmos merecedoras ou dignas de admiração. Também tendemos a minimizar nossas realizações atribuindo nossos sucessos ao suporte e benevolência alheia: fulano que me ajudou, o sistema me apoiou. Isso tem sido falado no universo do trabalho, mas vai além dele.
Temos dificuldade de enxergar o nosso próprio valor nos diversos papéis que desempenhamos. Para se ter uma ideia, 70% das pessoas já se sentiram impostoras em algum momento da vida, segundo uma pesquisa publicada no International Journal of Behavioral Science. Embora atinja também os homens, acontece muito mais com as mulheres. E desde cedo. Um outro estudo, publicado na revista Science, mostrou que as meninas começam a duvidar da sua capacidade aos 6 anos. Nessa fase, elas já têm dificuldade de acreditar que são “brilhantes”, mas acham isso dos meninos. Dá para acreditar? O estereótipo de gênero surge sim muito cedo.
Na origem do problema estão as expectativas que recaem sobre as mulheres e também os vieses inconscientes que nos limitam inclusive diante de oportunidades de ascensão na carreira. Segundo a pesquisa “Acelerando o futuro das Mulheres nos Negócios”, da KPMG, 47% das executivas relataram que sofrem com a síndrome porque nunca esperaram atingir o nível de sucesso que alcançaram.
É claro que isso tem a ver com a forma como as mulheres são criadas. Somos ensinadas desde cedo a sermos submissas, dóceis, a não nos aventurarmos. Tem todos aqueles estereótipos: “menina é mais calma”, das roupas com dizeres princesas X heróis, dos esportes que somos estimuladas a praticar como balé e ginástica enquanto os meninos fazem futebol ou luta. Apesar de eu ter tido uma criação livre dessas imposições, enfrentei questionamentos quando fui promovida a diretora, ainda com 29 anos. Toda a minha equipe era mais velha do que eu. Eu me questionei bastante se estava preparada, se ia dar conta e não é fácil sair desse lugar. Se para mim, uma mulher branca, heteronormativa, é difícil, imagino para as minhas colegas negras e trans.
Uma busca rápida na internet rende milhões de resultados com soluções para a síndrome da impostora: uma delas sugere falar as próprias realizações na frente de um espelho, nos lembrando de nossos pontos fortes regularmente. Ajuda, mas a questão é que a culpa não é só das pessoas, enquanto indivíduos. Há contextos históricos e culturais que são fundamentais para a forma como a síndrome se manifesta nas mulheres. Nós podemos até demonstrar força, ambição e resiliência, mas enfrentamos microagressões e batalhas diárias por conta do machismo estrutural que acabam nos derrubando como quando somos taxadas de arrogantes por falar nossa opinião de forma assertiva.
As perguntas que eu fiz no início do texto fazem parte da campanha do perfume Idôle Nectar, de Lancôme, que convida as mulheres a reconhecerem e a manifestarem sua admiração por outras mulheres “comuns”. É difícil porque os termos endeusar, idolatrar, venerar parecem apenas restritos a quem está nos palcos ou fazendo sucesso no Instagram ou no TikTok. Mas não somos dignas de nos sentirmos ídolas? Somos inspiradas por mulheres da vida real e as inspiramos também. Eu posso citar várias: a começar por mim, minha mãe e minhas colegas de trabalho Roberta Salvador, Ingra Gomes, Milla Siqueira e Renada Dourado. Cada uma por um ou vários motivos especiais.
Eu acredito muito que, se você não é parte da solução, você é parte do problema. Podemos fazer parte da transformação. Quer começar? Que tal falar para a amiga ou colega de trabalho: “você é incrível! Te admiro muito porquê…” E que tal fazer o mesmo exercício se olhando no espelho? Como diz a campanha: “Você também é uma ídola”. Junte-se a elas.
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