Os prós e contras de trabalhar fora do Brasil
Criativos que vivenciaram uma experiência internacional e retornaram para compor a equipe de grandes agências do País falam sobre vantagens e desafios de mostrar talento em terras estrangeiras
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Bárbara Sacchitiello
14 de novembro de 2017 - 8h13
Colocar uma experiência internacional no currículo é o sonho de muitos profissionais. Com a visibilidade que o Brasil teve no cenário internacional nos últimos anos – e também com a boa reputação que a propaganda nacional possui mundo afora – as portas de agências e empresas criativas se abriram para os profissionais do País.
Para compreender as vantagens e, também, conhecer os maiores desafios de quem decidiu deixar seu País para trás para trabalhar e criar em outros mercados, a reportagem de Meio & Mensagem conversou com alguns profissionais de criação que viveram uma experiência internacional e, posteriormente, voltaram ao Brasil para aplicar por aqui um pouco do conhecimento adquirido em outros mercados. Confira alguns depoimentos:
Bruno Oppido, diretor de criação da Wieden+Kennedy SP
“Viajava todo ano para Nova York e tinha o sonho de morar lá. Em 2015 trabalhava na F/Nazca e após a agência ter conquistado o Grand Prix de Film, surgiu a oportunidade de trabalhar na DDB, de Nova York, junto com o Ícaro Doria. Era a chance de viver na cidade que sempre sonhei, trabalhando ao lado de profissionais que admirava. O trabalho lá fora, no entanto, é diferente. Você pode ser o cara mais premiado do Brasil, mas quando vai trabalhar para os gringos, tem de começar do zero. O que mais senti diferença foi em relação aos processos criativos. As pessoas passam mais tempo apegadas à burocracias e a etapas do que criando, de fato. Mesmo assim, a experiência foi ótima e planejava ficar três anos lá. Só voltei porque a oportunidade de vivenciar a criação da Wieden+Kennedy aqui era incrível.”
Claudio Lima, vice-presidente de criação da Ogilvy
Os desafios do publicitário “mochileiro”
Fabio Simões, diretor executivo de criação da FCB Brasil
“Saí da F/Nazca em 2010 após ter passado dez anos na agência. Achei que era um bom momento para viver uma experiência internacional e fui trabalhar na Saatchi & Saatchi, de Los Angeles. Por mais que eu já tivesse até morado fora antes, quando comecei a trabalhar com os americanos foi um choque. A forma do trabalho de criação é muito diferente. Aqui as equipes fazem tudo: layouts, ilustrações, animações, filmes. Lá eles se apegam bem mais aos conceitos e ao desenvolvimento das ideias. As pessoas ainda têm a ilusão de que o trabalho no exterior é muito melhor. Pensam que a agência é mais legal, que as verbas são maiores e que vão trabalhar menos. Boa parte disso é ilusão. Os salários realmente são mais altos mas o custo de vida também é mais elevado. Os quase quatro anos que passei lá me deram uma outra visão para a carreira e me fizeram ter mais objetividade e organização.”
Laila Bergamasco – gerente de conteúdo da Fbiz
“Em 2009 consegui ingressar em um mestrado no exterior que era ministrado em dois locais: Inglaterra e França. Então, conheci a parte acadêmica e também trabalhei na Europa como trend hunter, prestando serviço para agências brasileiras em outros mercados. Ao todo fiquei cinco fora do Brasil e a principal diferença que notei foi a diferença de patamar da evolução digital. Enquanto começávamos a compreender o Facebook aqui no Brasil, na Inglaterra já se discutia sobre as próximas redes sociais. O que mais essa experiência me ensinou foi o exercício da adaptação. Aprendi a conviver bem com as mudanças e a olhar para o cotidiano com a visão de estrangeira, tentando observar as particularidades e diferenças. Quando retornei ao Brasil, em 2014, já tinha uma visão criativa mais integrada e via a necessidade de as agências terem um modelo mais fluido. Queria aplicar várias ideias que tinha visto no exterior mas, muitas vezes, não encontrava tecnologia disponível. Mas acho que a experiência de conhecer outros mercados é incrível. Tanto é que minha ideia é passar alguns anos por aqui para, depois, levar um pouco da visão do Brasil para fora outra vez”.
Marco Monteiro, diretor de criação da FCB Brasil
“Trabalhar fora do Brasil funcionou como um MBA para mim. Após ter conhecido o lado de lá, passei a ver no Brasil um encantamento e uma paixão por propaganda que não existe em outros lugares. O que mais admirei dessa experiência internacional é o apreço deles pela organização. Nada é feito no improviso. Por outro lado, contamos no Brasil com um jogo de cintura diferente para resolver questões de forma mais dinâmica. Mas, trabalhar em Los Angeles foi algo que me trouxe diversos conhecimentos. Estive próximo fisicamente de grandes empresas como Google, Facebook, Snapchat e pude conhecer de perto como eles trabalham e funcionam. É uma experiência incrível, mas recomendaria que, aqueles que pensam em ir, também pensem em voltar para aplicar por aqui os conhecimentos adquiridos. Afinal, o Brasil sempre será o nosso País.”
Ricardo Figueira, diretor executivo de criação da Africa
Wilson Mateos, vice-presidente de criação da Leo Burnett Tailor Made
“A ideia de sair do Brasil ainda está ligada ao desejo de encontrar clientes mais evoluídos e processos mais fáceis. E como nossa mão de obra é mais barata para outros mercados, muita gente se encorajou a tentar. Durante o tempo em que vivi em Los Angeles recebia, semanalmente, pedidos de ajuda de colegas que queriam um emprego lá fora. Nesses casos, fazia questão de explicar que morar fora do Brasil é bem diferente do que trabalhar em uma agência com outra lógica de mercado. Obviamente, a segurança, o padrão de vida e o retorno financeiro que a experiência internacional trazem são muito melhores. Além disso, você trabalha com clientes fantásticos e tem à disposição os melhores profissionais de produção do mundo. Por outro lado, as diferenças culturais fazem com que você não tenha repertório para falar de assuntos comuns àquela população, como futebol americano, por exemplo. O relacionamento interpessoal é muito diferente, também. No Brasil, criamos amizade e nos divertimos trabalhando. Nos Estados Unidos, as pessoas são apenas colegas de trabalho”.
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