Afroempreendedores têm dificuldade em captar investimentos
O Facebook lançou esta semana um programa de aceleração e capacitação para empreendedores negros, também divulgando um estudo sobre os hábitos e desafios do afroempreendedor
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Karina Balan Julio
30 de maio de 2018 - 17h25
Empreendedores brasileiros movimentam aproximadamente R$ 1 trilhão em renda própria por ano. Apesar disso, apenas 36% deste valor é movimentado por empreendedores negros, que, por motivos estruturais, enfrentam dificuldades em acessar os mesmos investimentos e ferramentas de capacitação acessados por empreendedores brancos.
Pensando em alimentar empreendimentos destes profissionais, a Estação Hack, centro de inovação do Facebook no Brasil, anunciou nesta quarta-feira, 30, o programa AfroHub, projeto de capacitação e aceleração de startups lideradas por negros. Lançado no ano em que se completa 130 anos da abolição da escravidão, o programa foi idealizado por empreendedores de três empresas, o Instituto Feira Preta, a startup de turismo Diáspora Black e a plataforma de networking Afrobusiness.
O projeto também inicia hoje uma convocatória para escolher 10 startups de empreendedores negros, que até setembro farão parte de um programa de pré-aceleração e receberão orientação de profissionais especializados.
Durante o evento de lançamento na Estação Hack, em São Paulo, o instituto de pesquisa Locomotiva divulgou informações sobre o perfil dos afroempreendedores no Brasil, baseadas em um estudo quantitativo e em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Segundo a pesquisa, empreendedores negros hoje movimentam aproximadamente R$219,3 bilhões anualmente. Mas, enquanto o empreendedor branco declara receber, em média, R$3,098 mensais pelo seu trabalho, o empreendedor negro recebe 40% a menos, cerca de R$1,3 mil.
“Mesmo em um contexto de escassez e vulnerabilidade, empreendedores negros foram criando conhecimentos fora do âmbito acadêmico. Temos conhecimentos e saberes ancestrais aos quais queremos dar mais visibilidade. Empreendedores negros precisam se apropriar das ferramentas que os empreendedores brancos já dominam”, avalia Adriana Barbosa, fundadora do Instituto Feira Preta, que mapeia o movimento afroempreendedor no Brasil e também atua como incubador de negócios negros.
As investidoras tem uma régua muito alta, e por isso precisamos de um trabalho para que elas reconheçam que o nosso ponto de partida é diferente do de uma startup que já começa com aportes, diz Adriana Barbosa
Para profissionais negros, de maneira geral, o caminho empreendedor é motivado pela necessidade, e não pela oportunidade. Segundo o Instituto Locomotiva, 36% da população negra tem a intenção de abrir um negócio próprio, intenção presente entre 25% dos brancos. Ainda, 86% tem receio de perder o emprego em um futuro próximo, índice maior do que entre a população branca. A dificuldade para acessar investidores-anjo ou conseguir crédito para iniciar um negócio também é um desafio latente entre empreendedores negros.
“O mercado olha para os negócios liderados por negros como artesanato. Claro que para esta população há o desafio de aprender métodos e técnicas, mas, quando chega o momento do investimento, o profissional negro não tem poder econômico: ele não pode contar com o investimento de 5 ou 15 mil de um parente ou de um investidor, por exemplo. O negócio do negro começa realmente com balanço negativo”, diz Carlos Humberto da Silva, CEO e um dos fundadores da plataforma Diáspora Black, rede de turismo e aluguel de acomodações voltada para o público negro.
“As investidoras tem uma régua muito alta, e por isso precisamos de um trabalho para que elas reconheçam que o nosso ponto de partida é diferente do de uma startup que já começa com aportes”, acrescenta Adriana.
De acordo com o Instituto Locomotiva, 57% da população negra acredita que pessoas negras sofrem preconceito ao tentar abrir seu próprio negócio.
Capacitação digital
O acesso às pessoas certas, com poder de decisão no ecossistema empreendedor, também passa necessariamente pela capacitação digital e pela mentoria de negócios. A partir de junho, o AfroHub realizará palestras e encontros de networking gratuitos mensais para profissionais negros.
Outro pilar importante para o projeto é o de capacitação para ferramentas digitais e áreas-chave, como vendas, marketing, tecnologia e gestão de pessoas. A Estação Hack ainda oferecerá cupons de crédito para que os participantes dos workshops possam testar ferramentas de compra de anúncio.
Com o AfroHub, a Estação Hack espera que pelo menos 230 profissionais se beneficiem dos cursos de capacitação e que pelo menos 600 passem pelos encontros de networking. Em novembro, outras capitais também receberão workshops do projeto, entre elas Salvador, São Luís do Maranhão e Rio de Janeiro.
Os hábitos digitais do empreendedor negro
Entre os empreendedores negros brasileiros, apenas 23% se consideram aptos a trabalhar com digital e se enquadram no perfil “muito digital”. Mais da metade, no entanto, se enquadra no perfil “pouco digital”. As ferramentas mais utilizadas pelos empreendedores negros em seus negócios são o WhatsApp, utilizado por 64% deles; Facebook, utilizado por 24%; e Instagram, utilizado por 5%. Além disso, mulheres negras tendem a ser menos familiarizadas com ferramentas digitais do que homens negros.
Quanto à escolaridade, cerca de 53% dos empreendedores negros não-digitalizados não concluiu o ensino fundamental. Já a maioria dos profissionais negros digitalizados, cerca de 40% deles, possui apenas o ensino médio completo.
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