Nova presidente da ABA: a arte do diálogo
Juliana Nunes, vice-presidente de assuntos corporativos, sustentabilidade, RH e compliance da Brasil Kirin, assume comando da entidade nesta quarta-feira, 13
Juliana Nunes, vice-presidente de assuntos corporativos, sustentabilidade, RH e compliance da Brasil Kirin, assume comando da entidade nesta quarta-feira, 13
Fernando Murad
13 de abril de 2016 - 8h57
Engenheira com uma carreira consolidada na área de relações institucionais, atuante em diversas entidades setoriais, mãe de dois adolescentes, Juliana Nunes, vice-presidente de assuntos corporativos, sustentabilidade, RH e compliance da Brasil Kirin, se considera apenas mais um exemplo das milhões de brasileiras bem-sucedidas na vida pessoal e profissional. Nesta quarta-feira, 13, a executiva toma posse na presidência da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), se tornando a primeira mulher a liderar a entidade desde sua fundação em 1959. Ela assume a cadeira num momento em que agências e anunciantes aparam as arestas após o imbróglio que levou o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) para a pauta do no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2015. “O foco de todos é a evolução, é olhar para frente”, ressalta. Em sua primeira entrevista após a eleição, Juliana analisa os avanços da ABA na missão de transformar o marketing e a comunicação, o desafio de manter o legado da gestão do antecessor e ex-colega de Unilever João Campos e os planos de promover um maior intercâmbio com associações de outros países, fortalecer a atuação na área de advocacy e reforçar o trabalho dos comitês da entidade. Tudo com muito diálogo. “Nada é unilateral. Sempre teremos ajustes em ambos os lados, tanto no profissional, quanto no pessoal”.
Meio & Mensagem — A ABA tem quase 60 anos e apenas agora uma mulher assumiráo comando. Qual sua análise desse fato?
Juliana Nunes — É interessante porque é só a confirmação de uma tendência que vem acontecendo na indústria como um todo. Muitas vezes isso acaba chamando a atenção exatamente por nunca ter acontecido antes. Mas quando você olha o mercado de marketing e comunicação, essa configuração já é uma tendência nas empresas há alguns anos. Estou na ABA desde 2005, e eu tive a oportunidade de participar da criação do primeiro comitê de relações governamentais da entidade. Naquela época, era algo muito novo, principalmente por esse trabalho multissetorial. Estou te contando essa história porque foi incrível o aumento espontâneo da participação feminina nos últimos oito anos à frente do comitê. Logo no início fizemos uma pesquisa que foi repetida para averiguar a configuração das áreas de relações governamentais ou institucionais nas empresas e, de fato, é realmente a confirmação de uma tendência natural de mulheres nessas posições.
M&M — Como surgiu a oportunidade de encabeçar a chapa na última eleição?
Juliana — Primeiro, fiquei muito lisonjeada com o convite. Como membro atuante e participante da ABA há algum tempo, estou sempre conversando com o pessoal. Já fazia parte da diretoria, inclusive. Foi um movimento natural quando começamos a conversar com a Sandra (Martinelli, presidente executiva da entidade) e o João (Campos, ex-presidente), e estou muito tranquila pela equipe que temos aqui — uma composição ímpar na diretoria — e, principalmente, pelo convite ter vindo do João, que é uma pessoa com quem tive a oportunidade de trabalhar por alguns anos na Unilever. Além disso, ele continua no conselho, o que é muito importante. Passa para uma esfera mais estratégica onde, sem dúvida nenhuma, essa transformação pela qual a ABA passou nos últimos dois anos vai continuar. Tenho o supermegadesafio de manter tudo que foi feito até agora.
M&M — E quais serão as prioridades da sua gestão à frente da ABA?
Juliana — Em princípio, manter todo o trabalho feito em linha com nossa missão de transformar a comunicação e o marketing. Como membros da WFA (Federação Mundial de Anunciantes, na sigla em inglês), gerar uma retroalimentação e, principalmente, trazer as tendências do que está acontecendo em vários países de diversos continentes. É um grande diferencial e podemos contribuir muito. Com certeza uma das prioridades é a parte de advocacy e sempre pautado por uma coisa que eu adoro fazer e que acredito genuinamente que é a construção, o diálogo, uma sinergia entre as diversas entidades primárias ou correlatas que têm algum tema em comum na pauta. Isso enriquece demais o diálogo e traz um produto fidedigno. Os comitês, sem dúvida, vamos manter, com optimização. Hoje temos nove e sempre estudando temas que sejam prioritários e que venham pelos nossos associados. Tem toda a parte de construção em Brasília e no Rio de Janeiro, que também tem nova diretoria sob comando do Eric (Albanese, diretor de comunicação e marca da Oi) e que tem agora a contribuição de peso do Marco Simões (representante executivo), que é um dos nossos grandes apoiadores e consultores no braço do Rio. Contamos com mais uma mulher de peso em Brasília, que é a Graziela (Godinho Cavaggioni, chefe do departamento de comunicação estratégica dos Correios e representante da entidade na cidade), e que traz outra perspectiva do ambiente da capital federal. Estou superconfiante. O grande desafio é manter o que foi feito, como o trabalho de governança que se estabeleceu. Foi feita uma revisão completa no estatuto e elaborados o código de ética, o manual de governança e o regimento interno. Acho isso muito legal. Concorrentes, com interesses diferentes, sentados na mesma mesa para negociar com regras bem transparentes e claras. Não tenho dúvida de que isso fortalece muito o debate e o diálogo.
M&M — No ano passado, a relação entre agências e anunciantes sofreu um baque quando a ABA questionou o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Como está o diálogo entre as partes?
Juliana — O princípio tem sido esse mesmo de diálogo, de conversa, de aproximação. Está evoluindo com a criação de um grupo de trabalho. Tem algumas frentes com representantes de diversos stakeholders que estão diretamente relacionados ao tema. Esperamos para os próximos meses ter frutos desses grupos de trabalho que estão, em conjunto, discutindo e tentando entender todos os temas de todas as partes, exatamente para ter a posição mais fidedigna possível, que possa retratar as prioridades de cada uma das partes que integram o Cenp e conectar com o que está acontecendo no mundo.
M&M — Na manifestação oficial que fez ao Cade em 2015, a ABA disse que o desconto-padrão e outras regras das normas-padrão do Cenp são “instrumento fora de qualquer contexto político e econômico e sem função positiva para o setor”. Disse ainda que agências, veículos e anunciantes “deveriam ter total liberdade para discutir e negociar seus interesses”. Qual é a atual posição da ABA?
Juliana — Isso está sendo discutido. Em breve teremos uma posição se isso permanece ou se evolui, e se evolui, de que maneira. É importante esperar a conclusão do trabalho que está alinhado em sinergia com temas muito maiores, como questão regulatória. Estamos falando de vários grupos de trabalho. Foi montado um comitê de negociação, composto por dois membros de anunciantes, dois de agências e dois de veículos. Este comitê criou três grupos com a mesma composição, mas com outras pessoas, para trabalhar nos temas remuneração, qualidade e legal. Esses quatros grupos estão trabalhando semanalmente e quando os resultados existirem, teremos prazer imenso em compartilhar com a imprensa.
M&M — O processo da ABA no Cade foi deflagrado após alguns anunciantes terem recebido uma carta do Cenp enquadrando-os como non compliance. Passado todo esse tempo, acredita que uma abordagem mais política poderia ter evitado o imbróglio?
Juliana — É difícil falar como foi no passado. É sempre um momento, e o quanto você consegue convergir. Eu consigo te falar o que estamos esperando daqui para frente. É uma discussão que começou há vários meses. Sem dúvida nenhuma, o foco de todos é a evolução, é olhar para frente, é estar o mais próximo possível do que está acontecendo na sociedade e no mundo como um todo. Sinceramente, não sei se é o principal ponto. Foi assim. Talvez pudesse ser diferente? Talvez sim, talvez não. O principal ponto é que todo mundo está focado em construir junto e olhar para frente.
A íntegra desta entrevista está publicada na edição 1705, de 11 de abril, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.
Compartilhe
Veja também
Natal e panetones: como as marcas buscam diferenciação?
Em meio a um mercado amplo, marcas como Cacau Show, Bauducco e Dengo investem no equilíbrio entre tradição e inovação, criação de novos momentos de consumo, conexão com novas gerações, entre outros
Cimed amplia collab com Fini e lança gel dental e enxaguante bucal
Já foram vendidas 7 milhões de unidades dos produtos para o varejo farmacêutico e projeção é chegar a 100 milhões em 2025, com faturamento de R$ 1 bilhão