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O sucesso e o acaso

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Ponto de vista

O sucesso e o acaso


13 de maio de 2013 - 3h54

"A minha empregada não quer saber da fotografia, quer saber quem ama quem na novela, quem matou quem." A declaração é do diretor Denis Carvalho (UOL 28 de abril) para ressaltar que é um diretor de atores e não um aficionado pela estética das imagens.

Denis é um dos melhores diretores de atores da televisão e em suas mãos Malu Mader, Gloria Pires e Antônio Fagundes brilharam em o Dono do Mundo (TV Globo, 1991).

Mas a declaração tem falhas. Não é verdade que o diretor não se preocupa com a fotografia. Seus trabalhos traduzem uma das melhores luzes (se não a melhor) da televisão brasileira. Tão pouco é verdade que a empregada do Denis não está preocupada com a fotografia.

Há uma tendência nacional à simplificação das coisas como se isso fosse um sinal de objetividade. Não é. A fotografia está para a linguagem audiovisual na mesma proporção que o conteúdo é representado pelos diálogos. Portanto a declaração de Denis Carvalho padece de veracidade e ele sabe disso.

Sabe, mas em um mundo de CQC, Pânico e outros que tais é legal parecer não saber. Assim a percepção que prevalece é de uma incontestável modernidade travestida de descompromisso.

Há algumas semanas o jornalista Mário Sergio Conti, responsável pelo impecável Roda Viva, que quanto mais velho melhor, conduziu uma entrevista com dois dos fundadores da produtora Porta dos Fundos, responsáveis pelo sucesso na internet com o mesmo nome.

No programa houve uma recorrente afirmação sobre a carência de recursos para a produção dos programas. Note-se que falavam de recursos humanos e técnicos, porque também se ouviu insistentemente a afirmação de que as necessidades materiais dos criadores estavam resolvidas e por isso não havia necessidade de migrar para a TV aberta, onde os modelos de negócios (que Deus me perdoe) são mais transparentes.

Denis Carvalho, Ian SBF e Antônio Tabet, esses dois últimos da produtora Porta dos Fundos, simplificam a audiência e tratam os fenômenos da mídia com o descaso de quem não sabe identificar os motivos do sucesso.

William Bonner também não sabe os motivos do sucesso do seu Jornal Nacional e por isso simplificou tudo ao comparar sua audiência ao personagem Homer Simpson, um tipo limítrofe, pai de família, que há muitos anos faz a alegria dos amantes das séries animadas de televisão.

Não saber a fórmula do sucesso só não é pecado para quem faz sucesso. Para o resto da humanidade as coisas não precisam parecer tão simples, tão casuais. Basta assistir alguns dos mais de 90 programas do Porta dos Fundos para perceber que o produto é feito com muito esmero e apuro próprio de quem conhece a linguagem audiovisual. Assim como uma análise histórica do JN transparece o aperfeiçoamento estético pelo qual passou o telejornal. Sobre as novelas dirigidas por Denis Carvalho para as empregadas brasileiras é com orgulho que identificamos, independente do gosto pessoal, uma das melhores produções televisivas do mundo.

Está mais do que na hora de reputar o sucesso aos fatores terrestres tais como pesquisa, estudo, referencias, esforço em fazer bem feito etc… sob pena de se forjar uma geração de brasileiros crentes que o sucesso é obra do acaso. 

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