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Como a taxa de compartilhamento da Netflix pode impactar o streaming

Plataforma começou a cobrar uma taxa adicional de usuários que emprestam login e senha a outras pessoas em alguns países da América Latina


5 de agosto de 2022 - 6h00

A Netflix anunciou, em março deste ano, que não permitirá mais o compartilhamento de conta entre usuários que residam em endereços diferentes. Na época, a empresa até deu uma opção para esses usuários, uma taxa adicional para isso. Até julho, apenas Chile, Costa Rica e Peru tinham essa taxa extra. Porém, em julho, outros cinco países da América Latina, Argentina, República Dominicana, El Salvador, Guatemala e Honduras, entraram para a lista de cobrança extra pelo compartilhamento de login e senha na Netflix.

No post feito no blog oficial, Chengyi Long, diretor de inovação de produtos da Netflix, afirmou que “o compartilhamento generalizado de contas de hoje entre as famílias mina nossa capacidade de investir a longo prazo e melhorar nosso serviço”. Na mesma postagem, a companhia disse que não fará alterações em outros países até que entenda melhor o que é mais fácil para os seus membros.

 

(crédito: Fabio Principe/Shutterstock)

Além da crise financeira e econômica que o mundo vem enfrentando por conta da guerra na Ucrânia e da alta na inflação, a Netflix também encara outro obstáculo: o aumento da concorrência. A companhia, que por anos reinou sozinha, se vê obrigada a dividir o mercado com gigantes do entretenimento e da tecnologia, como Disney, HBO, Apple, Amazon.

José Roberto Sadek, coordenador da Pós-graduação em Processos Criativos e Gestão da Indústria Cinematográfica da FAAP, entretanto, acredita que essa seja uma concorrência desleal, porque enquanto os demais serviços de streaming têm outras linhas de receita, como os parques na Disney ou os iPhones da Apple, a Netflix conta, ao menos por enquanto somente com as assinaturas como forma de monetização. Apesar disso, a empresa já prometeu, para o próximo ano, o lançamento de uma versão mais barata, com anúncios publicitárias, o que abriria uma nova e importante fonte de receita.

Vale lembrar que a Netflix vem perdendo assinantes nos últimos meses. Em julho, a companhia afirmou que perdeu 970 mil assinantes entre abril e junho de 2022, segundo recuo consecutivo no número de usuários — no primeiro trimestre do ano, a companhia á havia registrado a perda de 200 mil assinantes. Apesar disso, de acordo com os resultados do último trimestre de 2021, a empresa havia conquistou 8,3 milhões de assinantes no mundo, seguindo com mais de 100 milhões de usuários a mais que seu concorrente mais próximo, o Prime Video.

Apesar de a Netflix não confirmar que a decisão de cobrar uma taxa extra pelo compartilhamento de senha tenha sido tomada em busca de adquirir mais assinantes, Sadek entende que essa pode ser uma das razões para essa decisão. “Quando ela fala que não quer mais que divida senha é porque está com expectativa que uma parte dessas pessoas venham a pagar assinatura, porque é o que eles precisam”, comenta, reforçando “A Netflix precisa de renda ou de publicidade, ou de assinatura, porque é o único negócio deles”.

Por outro lado, a consultora do mercado de streaming e audiovisual, Aline Pardos, salienta que é difícil prever se essa medida da Netflix dará resultados positivos para a sua base de assinantes. “Acredito que eles ainda não tenham definido totalmente como será a estratégia. Ainda é um pouco cedo para isso, porque eles ainda estão analisando qual é a melhor maneira de poder aumentar a base. Eles estão num momento agora de sair enxugando gastos, cortando pessoal, reduzindo marketing e custo de produção”, ressalta.

E a concorrência, como fica?

Até o momento, nenhum outro serviço de streaming desenvolveu uma medida parecida com a da Netflix – de cobrar uma taxa adicional para esse compartilhamento de senha. Entretanto, em 2019, a Disney disse que o compartilhamento de senha de serviços de video on demand era, na visão da companhia, pirataria. Na época, nos Estados Unidos, a gigante do entretenimento anunciou uma parceria com a operadora Charter para desenvolver tecnologias de combate à pirataria no mercado de streaming, o que inclui esse empréstimo de contas.

Na visão de Sadek, da FAAP, a tendência é que as concorrentes da Netflix não tomem uma decisão parecida com a companhia em relação à restrição de compartilhamento de senhas. Isso porque elas não dependem tanto dessa fonte de renda (as assinaturas) quanto a Netflix. “Se vão fazer ou não, não sabemos. Se ela vai ser bem sucedida ou não, não sabemos. Porém, o motivo pelo qual ela está fazendo é econômico”, enfatiza o coordenador.

Por sua vez, Aline entende que sendo pioneira e líder no mercado, a Netflix acaba ditando um pouco as regras do segmento. Logo, para ela, essa decisão da Netflix irá, sim, impactar as outras companhias de serviços de streaming. “Esse tipo de limitação de acesso para poder garantir uma base maior de assinantes vai se replicar para outras plataformas, a questão é como isso vai ser feito”, destaca, reforçando que isso poderá ser feito de diversas maneiras, como limitar a quantidade de perfis existentes ou de devices que podem fazer streaming simultaneamente. “O mercado vai começar a fazer regras nesse sentido. Devem colocar algumas dificuldades pelo meio do caminho para poder fazer com que essa base cresça um pouco mais, a questão é que o público vai se adaptar”.

A consultora ainda relata que essa mudança nas plataformas de streaming, inclusive, pode acabar incentivando ainda mais a pirataria. “Alternativa sempre existe e no caso do mercado brasileiro e de outro mercado também existe a pirataria, então esse é um efeito colateral, algo que já vem acontecendo por conta da fragmentação do conteúdo”. Sadek enfatiza que no longo prazo, com tantas opções de distribuidoras, a tendência será o empacotamento desses serviços, como acontece hoje no mercado de TVs por assinatura.

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