Como o setor de animação foi impactado pela pandemia
Produtoras notam aumento de demanda, mas há dúvidas sobre a probabilidade da busca permanecer alta
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Thaís Monteiro
15 de setembro de 2020 - 6h00
Quando as medidas de distanciamento social foram decretadas, ainda em março, a previsão era a de que a animação fosse ser adotada como uma alternativa para novos programas e projetos publicitários. Na percepção de empresas do setor, apesar de uma leve alavancada em algumas demandas, ainda é incerto considerar que o movimento tenha se concretizado.
Sem a necessidade de espaços físicos para a criação de cenas ou a presença de atores, com exceção da dublagem, que requer menos contato, a produção de conteúdo animado de séries, longas, institucionais e para games se manteve.
De acordo com Marcelo Pereira, sócio da Combo Estúdio, houve um aumento da demanda de vídeos publicitários, mas não tão significativa. O que mudou, na sua percepção, foi uma alta de produtoras do exterior buscando serviços brasileiros. A Combo Estúdio notou uma procura duas vezes maior nos últimos meses em relação com o mesmo período de 2019.
“Realmente é um pouco difícil saber se essa procura se deve à pandemia ou a alta do dólar. O mais importante é que o espaço da animação não diminuiu durante a pandemia. Como praticamente toda parte da produção pode ser realizada em home office, não temos conhecimento de projetos que foram cancelados ou pausados devido à pandemia”, afirma.Para produtoras não focadas especificamente na entrega de animação, o motion graphics ganhou um novo significado. “Nós utilizávamos motion graphics como composição da linguagem do canal, momentos de transição, para chamar atenção para mensagens específicas. Quando o isolamento social chegou, do ponto de vista da produção, tivemos que agir muito rápido para pensar em como manter as entregas”, conta Camila Pons, diretora de conteúdo da Spray Content, área de conteúdo da Spray Media.
A produtora realizou a série Te Levo de Milhas, para o canal da ABC Milhas, inteiramente animada ensinando de maneira divertida diferentes formas de acúmulo e resgate. De acordo com a executiva, a técnica se mostrou eficiente e certamente continuará sendo usada mesmo com a volta das captações remotas.
Ainda que essa previsão não tenha se concretizado ou tido um aumento significativo para conteúdo e publicidade, a produção de clipes animados deu um salto. Artistas internacionais e nacionais apostaram em desenhos animados para seus singles: Dua Lipa o fez com Hallucinate; Billie Eilish com My Future; Katy Perry está com uma série de vídeos animados para algumas das músicas de seu novo álbum Smile — inclusive, o clipe da faixa-título foi feito pelo estúdio brasileiro Flooul Animation; e Pabllo Vittar lançou Rajadão com vídeoclipe assinado pela Combo Estúdio.“Algumas possibilidades surgiram, principalmente em áreas onde a produção ‘live’ pode ser facilmente substituída por animação, como vídeo clipes musicais, por exemplo”, diz o sócio da Combo Estúdio. Pereira acredita que esse grande número de videoclipes animados podem resultar em uma ascensão dessa estética mesmo no pós-pandemia por conta da boa recepção do público.
Fora esse aspecto, o mercado considera que ainda é cedo para classificar alguns dos impactos no setor como tendência. Para Aída Queiroz, uma das diretoras fundadoras do AnimaMundi, pode ser que parte da produção continue remota, porque é mais barato para o empregador, mas ela considera importante ter uma equipe trabalhando junto,porque otimiza o trabalho e as decisões. Porém, a indicação é que a produção animada ganhe um reconhecimento.
“A tendência é a animação ser cada vez mais valorizada, tanto pelo avanço tecnológico – que facilita bastante a pluralidade de técnicas de animação, como pelo tipo de produção, bastante adaptável, como estamos vendo na pandemia”, opina.
Apesar dessa grande vantagem frente à adversidade, a animação permanece cara se comparada aos live actions, diz Marcelo. Somada a falta de mão de obra especializada, o executivo considera que esses são os maiores desafios para o segmento se manter em crescimento. “Porém, observamos um aumento considerável na busca de jovens animadores por cursos extra curriculares. Nos últimos anos, o mercado de animação no Brasil vem se tornando cada vez mais especializado e trazendo produções de alta qualidade, mas, infelizmente em razão do alto custo, ainda encontramos uma demanda limitada no país”, pondera.Outro empecilho apontado por Queiroz é a crise do setor audiovisual como um todo. Os recursos do Fundo Setorial Audiovisual (FSA) não estão sendo repassados há um ano e as empresas continuam a pagar o Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional). “O dinheiro já vai para o segundo ano de contingenciamento. Com isso, não há novas produções e co-produções com outros países. A exceção fica para as séries que foram compradas por algum canal”, diz.
**Crédito da imagem no topo: Ajwad Creative/iStock
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