Manual quer estimular olhar antirracista nas redações
Criado pelo portal de jornalismo independente Alma Preta, manual contou com participação de pesquisadores, jornalistas e representantes de movimentos sociais
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Renan Honorato
10 de agosto de 2023 - 18h22
Nessa quarta-feira, 9, a Alma Preta Jornalismo lançou o primeiro manual de redação antirracista organizado pela entidade. O lançamento aconteceu na sede do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo (Siemaco).
Intitulado Manual de Redação: o jornalismo antirracista a partir da experiência da Alma Preta, a obra almeja contribuir para o debate da democratização profissional.
Além da participação da própria redação do Alma Preta, a criação do manual contou com pesquisadores, jornalistas e representantes de movimentos sociais.
Segundo Pedro Borges, editor-chefe do portal, o estudo aprofundado sobre o racismo nas redações foi construído a partir de materiais com mais de dois séculos de história.
“Toda a estratégia construída para o Manual foi a partir do prisma da democratização da informação. Quanto mais ferramentas populares e democráticas, maior a possibilidade de democratizar a técnica jornalística.”, comenta.
Segundo ele, o manual é uma ferramenta para potencializar o trabalho de jornalistas negros e das periferias do ponto de vista técnico e ético. Porém, o livro foi produzido a partir de emendas parlamentares em nível municipal com apoio do Instituto Ibirapitanga.
Com transmissão ao vivo, o evento organizado pelo Alma Preta contou com as presenças do escritor Oswaldo de Camargo; da pesquisadora e diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto, e da deputada federal Paula Nunes (PSOL).
O Manual ainda não começou a ser vendido. Apesar disso, a equipe do Alma Preta promete distribuir gratuitamente uma parte das obras para estudantes. Borges também garante que consta no planejamento a distribuição do material pelas redações brasileiras. Além de São Paulo, outras cidades brasileiras serão visitadas para a promoção do debate sobre práticas antirracistas.
De acordo com a pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro 2021, profissionais negros representam cerca de 1/3 das redações. Etnograficamente, estes espaços podem ser divididos entre: 67,8% brancos, 29,9% negros (pardos e pretos), 1,3% amarelos e 0,4% indígenas. Contudo, quando a divisão passa a ser por gênero, as profissionais são maioria, com quase 58% de mulheres – pessoas não-binárias correspondem a menos de 1%.
Segundo Borges, o Brasil vive um momento de grandes transformações no trabalho jornalístico, em que as redações corporativas perdem funcionários, ao mesmo tempo, que portais independentes surgem no ambiente da internet.
“Há uma crise de modelo de negócios que afeta diretamente o jornalismo e, em particular, os profissionais negros. Existem estudos que comprovam como há uma dificuldade na absorção por parte do mercado de trabalho desses jovens estudantes, que agora tem entrado com maior frequência nas universidades, depois da consolidação da política de cotas e de programas como Prouni e Fies. Porém, na medida em que há uma crise de negócios na imprensa, esse elo mais vulnerável da cadeia produtiva é o mais atingido”, diz.
Contudo, o profissional também ressalta a crise ética no meio jornalístico que também pode ser superada a partir da experimentação de diferentes modelos por empresas independentes de jornalismo. “As mídias independentes têm uma estrutura menor e mais ágil, o que possibilita respostas mais dinâmicas diante de um mercado de comunicação que está em constante transformação. Porém, um modelo de negócios diversificado e dinâmico é a chave para conseguir a maturidade exigida hoje. Mas mais do que isso, há a necessidade de um trabalho apurado do ponto de vista técnico e ético, e ferramentas como o manual de redação são fundamentais para isso”.
Por fim, o Alma Preta trabalha com publicidade como forma de diversificação de receita, além de participar da construção do Black AdNet, uma rede de captação de recursos para mídias independentes. “É uma forma de atrair investimento para canais de comunicação de mídia periférica e negra de todo o país”, finaliza.
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