Lima, da Expocine: “Consumo de conteúdo nacional aumentará”
Marcelo Lima, criador da Expocine, diz que pandemia pode dar maior visibilidade para filmes que não sejam necessariamente blockbusters e conteúdo nacional
Lima, da Expocine: “Consumo de conteúdo nacional aumentará”
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Thaís Monteiro
15 de outubro de 2020 - 14h29
Nesta quinta-feira, 15, e sexta-feira, 16, acontece a Expocine 2020, convenção que, virtualmente, visa debater temas atuais e sobre o futuro do mercado cinematográfico. Este ano, algumas das conversas com representantes de diversos ramos da cadeia (produtores, distribuidores e exibidores) incluem os impactos da pandemia no setor, tecnologias de imersão e a chegada do 5G.
De acordo com Marcelo Lima, criador do evento, o período de restrição social afetou financeiramente os players do segmento da mesma forma, mas cada um arcou com prejuízos específicos. Os exibidores ganharam dívidas prediais e com a manutenção de equipamentos que foram fabricados para funcionar diariamente e não puderam ficar parados, como projetores e as poltronas.
Os distribuidores, que já trabalham com poucos projetos ao ano, tiveram seus serviços ainda mais restritos. “Porém, é a categoria menos afetada, uma vez que as distribuidoras possuem outras janelas para trabalhar – como streaming, cabo ou TV aberta”, pondera Lima. Para o executivo, a ponta que mais tem sofrido é a produção, que lida com mais trabalhadores presenciais em sets de filmagens, que foram adiados. Em uma situação prolongada, esses trabalhadores podem mudar de segmento e a cadeia perde mão de obra especializada.Além desses três segmentos, a paralisação da indústria cinematográfica afeta fornecedores e empregos indiretos, como o fornecimento de milho para as pipocas das redes de exibição, por exemplo. Nesses, segundo o criador da Expocine, a taxa de desemprego é altíssima, uma vez que estas empresas precisam aguardar a reacomodação das três categorias acima para começar a prestar novos serviços. “É um processo de leva no mínimo seis meses pós retomada dos demais”, diz.
Apesar de levantar essas discussões e fomentar soluções para tais problemas, o evento também trará novas perspectivas para o setor com a chegada do 5G, que promete uma melhora em relação aos problemas de instabilidade da internet e traz a possibilidade de consumir mais conteúdo nas diferentes plataformas e das tecnologias ligadas a imersão, como realidade aumentada e virtual que, para Lima, está caminhando como vanguardista no Brasil e reconhecida internacionalmente.
Ao Meio & Mensagem, Marcelo Lima opinou sobre a reabertura e reformulação do conceito atual de cinema e as tendências que virão a partir da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.M&M – Os cinemas vão começar a reabrir em São Paulo. Quais são as perspectivas para essa retomada?
Será gradativa. Não há uma solução mágica. O desafio em qualquer região onde a reabertura seja permitida é avançar com uma solução de menor impacto de prejuízo, porque não dá para fugir dele. Exibidores precisam reconquistar o público provando que ir ao cinema é seguro. E isso não se faz do dia para noite. O bom é que distribuidores, shopping centers e até mesmo fornecedores estão bem alinhados com os exibidores para diminuir ao máximo o nível de prejuízo que as primeiras semanas terão. O mais importante a frisar é que os cinemas estão extremamente seguros. Diria que até mais seguro que o elevador do condomínio da sua residência.
M&M – Os cinemas podem eventualmente se reinventar para ser um espaço mais premium, que oferece experiências diferentes da que faz hoje?
A reinvenção vem sendo debatida desde muito antes da pandemia. Temos cinemas tradicionais com telas cada vez maiores, projeção laser 4K ou 8K, som imersivo, entre outros recursos; e cinemas de formato padrão em termos tecnológicos, mas com investimento alto em poltronas VIP ou Premium, sem contar uma gama de mudanças para aumentar a jornada do cliente nos lobbys. O que a gente vai enxergar neste futuro próximo é a consolidação do que já estava em curso.
M&M – Como a pandemia está mudando a relação entre produtor, distribuidor e exibidor?
Do ponto de vista do exibidor, percebe-se que a postura em só acreditar em blockbuster está mudando. Blockbuster é um produto quase que exclusivamente americano e a pandemia tem proibido o avanço do cinema americano. Isso é bom, pois o exibidor irá avaliar outros produtos com mais calma e o filme médio pode voltar a ter espaço nos cinemas. Mas a caminhada ainda é muito longa. Especificamente no Brasil, ainda falta um diálogo maior entre exibidor e produtor. A Expocine tem sido primordial em estreitar estes laços e mostrar que todos têm seus problemas em particular, exibidores e produtores. E ambos precisam fechar o ano no azul.
M&M – O que você percebeu desse momento de crise que pode se consolidar como tendência no segmento?
Sem sombra de dúvida, o consumo do conteúdo nacional que não tem selo Globo vai aumentar. Até pouco tempo atrás a Globo dominava a preferência por conteúdo nacional. E isso é perceptível nas próprias decisões da Globo em desmontar o seu sistema de contrato fixo com talentos — o tal do “sistema de estúdio”. Isso vai reverberar em todas as janelas. O cinema irá contar com conteúdos de extrema qualidade estrelado por grandes talentos. As séries e novelas terão ainda mais qualidade de produção e criatividade. E o principal: haverá uma universalização de conteúdo saindo da mesmice do conteúdo americano. Vide Dark, La Casa de Papel, Narcos. Com este último, Wagner Moura virou uma estrela mundial em apenas 48h. Veja o sucesso de Bacurau na reabertura dos cinemas na Holanda e o favoritismo para ser indicado ao Oscar 2021 de Melhor Filme. Veja a caminhada de Parasita. Hoje, o consumidor de audiovisual quer se ver na tela e tem curiosidade das culturas além da americana.
**Crédito da imagem no topo: Denise Jans/Unsplash
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