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O multifuturo do conteúdo

Produtores e distribuidores audiovisuais reunidos no Rio Content Market elegem a tecnologia como elemento central para o desenvolvimento do mercado


5 de abril de 2012 - 4h04

Colaborou Teresa Levin

Conteúdo para rodar em smartphones, tablets ou televisores conectados. Apresentado em forma de aplicativos, social movies e portais. Conteúdo acessado a qualquer hora, de qualquer lugar, com um simples toque nas telas que se multiplicam e já chegam aos vidros das janelas de casa, às portas das geladeiras interativas. O futuro que parecia distante já é factível e impacta diretamente na forma como empresas ligadas à comunicação atuam. Reunidos no Rio de Janeiro de 29 de fevereiro a 2 de março, nomes da indústria audiovisual nacional e internacional, além de agências e anunciantes, debateram no Rio Content Market os rumos da produção e distribuição de conteúdo em multiplataformas. 

O discurso comum caminha para a integração de meios, quebra de barreiras entre ambiente online e off-line, além de um diálogo permanente entre profissionais que produzem conteúdo e desenvolvem tecnologia. “Independentemente de onde será distribuída, a informação tem de conversar com o todo, ser adaptada às realidades de cada plataforma e atender às necessidades de cada usuário, que é diferente do outro”, defendeu Robert Montgomery, diretor da Achilles Media, consultoria multinacional especializada em entretenimento digital. 

Além disso, argumentou Gian Martinez, gerente de excelência criativa e conteúdo da Coca-Cola, o conteúdo precisa ser líquido, ou seja, deve ter potencial de viralização. A marca investe na prática no conceito com projetos como o Catadores de Lixo, que integra documentário, comercial para TV, anúncios na web e ações nas redes sociais. “Conteúdos líquidos e conectados caem na boca do povo porque são irresistíveis. Eles geram conversa, contam uma história e têm significado. Eles se espalham sozinhos”, disse.

No centro de todo esse cenário, a tecnologia aparece como protagonista para o desenvolvimento do mercado audiovisual. “É importante que haja uma quebra de preconceito por parte de quem produz conteúdo. Não é necessário ser um especialista em tecnologia, mas é preciso, sim, conhecer o básico, saber como seu conteúdo pode rodar no mobile ou na TV interativa”, disse André Terra, diretor da Intacto Engenharia de Sistemas, especializada em desenvolvimento de interfaces para smart TVs.

Para Guido Lemos, coordenador do laboratório de aplicação de vídeo digital da Universidade Federal da Paraíba, o crescimento do número de TVs conectadas mudará completamente a forma como o brasileiro consome o conteúdo. “As emissoras de TV e os fabricantes dos aparelhos de televisão ainda estão buscando seus modelos de negócio. É um mercado novo, em evolução rápida, e o futuro ainda é incerto. A tecnologia invadiu o espaço e o tempo de quem nem pronunciava essa palavra”, explicou.

Conteúdo e mobilidade
Se o acesso à internet cresce de forma gradual via mobile em todo o mundo, a produção de conteúdo é diretamente impactada por esse movimento. Vice-presidente da Boxee — empresa fabricante do Boxee Box, aparelho semelhante ao Apple TV que, conectado à TV digital, permite acesso a uma infinidade de filmes, aplicativos e shows —, Andrew Kippen afirmou que o acesso via tablets já é significativo. “Nascemos como um aparelho conectado à TV e hoje nos adaptamos para a vida no mobile. O futuro é esse”, disse. 

No rastro dos aparelhos que tornam viável o acesso ilimitado a diversas formas de conteúdo, ganha fôlego a discussão sobre o modelo ideal de oferta. Sem nenhuma surpresa, o discurso direciona para o conceito “freemium”, que mescla degustações gratuitas com pacotes pagos. Para Pedro Rolla, diretor de programação do canal online Terra TV, o internauta está disposto a pagar por um conteúdo que atenda às suas necessidades. “É importante saber que não é todo conteúdo que interessa a todo mundo. Achar que dá para padronizar a oferta de conteúdo é um erro”, explicou. 

O Terra é um exemplo de como o conteúdo ganhou importância na indústria de tecnologia e comunicação. Fundado em 1988 como uma empresa de softwares para o mercado corporativo, se tornou 11 anos mais tarde o braço digital do Grupo Telefônica. Hoje, aos 24 anos, oferece, além do Terra TV, o canal de músicas Sonora. “A base de assinantes deixou de ser uma das principais fontes de recursos financeiros. Hoje, o conteúdo está no centro”, explicou Rolla.

Antipirataria
Enquanto Estados Unidos e Europa debatem projetos de lei que tratam com rigor a forma como informações são compartilhadas na internet, participantes do Rio Content Market defenderam que a melhor forma de combater a pirataria é oferecer conteúdo a qualquer hora e em qualquer lugar, sem restrições. 

Para Frederico Goldenberg, gerente de parcerias do YouTube, disponibilizar conteúdo na rede é a melhor forma de combater a pirataria. “Se é pago ou gratuito, depende do que está sendo oferecido, mas tem de ser disponibilizado”, explicou. 

Na mesma linha, Wendy Stuff, diretora da empresa inglesa especializada em direitos autorais para o mercado digital Right Stuffs, defendeu que há modelos bem-sucedidos de oferta de conteúdo. “É possível que as produtoras capitalizem em parceria com as distribuidoras”, disse. Ela citou o já atuante no Brasil Netflix e o site TheColaborative, que cobra dos usuá­rios uma assinatura anual de cerca de US$ 100 e oferece filmes, música e shows.

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Nem pense em cloud computing por aqui

O YouTube foi apenas uma pontinha do que pode vir por aí em termos de armazenamento na nuvem. É o que pensa Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Pesquisa de Engenharia de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, o renomado C.E.S.A.R. Imagine uma ferramenta como aquela usada profissionalmente, para o armazenamento de milhares de trabalhos de produtoras e distribuidoras? Seria incrível, mas, ao menos no Brasil, no momento é impossível pensar em cloud computing. 

“A gente precisa de conectividade. A tal da nuvem só funciona se você estiver conectado. O Brasil é um dos países em escala nacional mais mal conectados do mundo. Temos alguns pequenos clusters urbanos que estão extremamente bem conectados entre si e com a internet global, mas o resto do País está à mingua. Esse vai ser um impedimento econômico ao desenvolvimento deste negócio no Brasil. Em tese, um estúdio que está em Macaé, por exemplo, vai ter uma dificuldade gigantesca de usar esse tipo de infraestrutura e serviço da forma que está agora”, avalia o cientista. 

O cloud computing realmente poderia afetar o mercado audiovisual brasileiro. Para Meira, a revolução que vimos na música com a chegada das tecnologias digitais não é nada perto do que veremos mais à frente na indústria do audiovisual e, ainda mais breve, na literatura. “Assim que a gente tiver banda, desmontamos o audiovisual todinho. A indústria vai ser toda redesenhada. Paulo Coelho aparentemente vai ter um acordo com a Amazon para publicar os textos dele lá, sem ser intermediado por ninguém. Sem livraria, editor, distribuidor.

Este é um exemplo do tamanho da revolução pela qual a literatura vai passar. Nesta década veremos a literal vaporização das bases do que era o mercado da literatura. E acho que no audiovisual, esta revolução será maior ainda. Há uma mudança radical esperando pela gente. Mas para afetar o mercado brasileiro, falta conectividade”, analisa. 

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