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Opinião

6.0: maior avanço da Era Digital é de carne e osso

O próximo passo é entender como máquina e gente se integrarão e como teremos que seguir no comando dos avanços


12 de março de 2019 - 11h35

 

(Foto: Reprodução)

Não, não é o 5G. Não, não é a Internet das Coisas. Não, não é a Inteligência Artificial. Não é nada disso o próximo passo evolutivo da revolucionária Era Digital, que virou nossas vidas de cabeça para baixo.

Esse próximo passo é entender como máquina e gente se integrarão e como gente terá de seguir no comando dos avanços. Gente com cérebro, valores e uma visão humana de mundo, que leve em consideração os anseios das sociedades em geral e não mais apenas a tecnologia per se, que se vale por si e pelo bottom line que gera aos acionistas.

Essa nova evolução recoloca o humano no centro das prioridades com um protagonismo que as mais avançadas empresas de tecnologia do mundo têm sistematicamente relegado.

Só que não dá mais para ser simplesmente assim, porque essas mesmas sociedades que deveriam ser o ponto focal e a razão de ser de tudo, começam a claramente perceber que precisam impor seus próprios limites às companhias tecnocêntricas e a toda a evolução que tem vindo e, certamente virá delas.

Temos na ponta mais aparente da pirâmide todas as questões ligadas às plataformas tecnológicas que são pervasivas e permissivas a invasões e da privacidade de dados e a vida particular das pessoas. Mas isso é só um pedacinho. Já bem complexo e relevante por si só, mas ainda assim, um pedacinho.

Quem me lê aqui e me acompanha no ProXXIma sabe que tenho sido bem chato e persistente com relação aos desmandos da pesquisa e desenvolvimento da Inteligência Artificial, que da forma como evolui hoje, avança aceleradamente na direção oposta do humano. Aposta na máquina pela máquina, danem-se nós.

Essa é uma evolução em camadas profundas da revolução digital e tem de ser domada por nós, de carne e osso, já, antes que seja tarde demais.

Tanto no MWC, como no SXSW, testemunhamos o avanço da computação cognitiva, exatamente essa que interage com humanos de forma cada vez mais “humana” e com interfaces cada vez mais amigáveis — tipo robozinhos simpáticos emitindo sorrisinhos amistosos ou assistentes de voz prestativas, que estarão cada vez mais presentes dentro das nossas casas, ali, conversando conosco, como membros da família.

Membros da família é o escambau! Da minha não, jacaré! A minha é de carne e osso, com cérebro humano, valores humanos, decisões humanas e que privilegia, ainda e por enquanto, e evolução humana acima das coisas. E da Internet das Coisas.

Essa próxima etapa da revolução digital, a 6.0, uma revolução humana, já em andamento, é a que será, de fato, radicalmente transformadora. Será ela que servirá de suporte e dará sentido a todo e qualquer avanço tecnológico futuro, seja onde for, em que área do conhecimento for.

Num cenário evolutivo em que até o Congresso norte-americano, quem diria, começa a se preocupar com invasões indevidas de direitos cidadãos por empresas dominantes de tecnologia que ignoram ética, temos dadas algumas das premissas para avançarmos na retomada do poder e do controle sobre para onde a, hoje desgovernada, tecnologia caminha.

Vou citar aqui um exemplo prosaico, mas emblemático: o Santander On. Até porque é do nosso mercado e o que estou falando aí acima parece ser, admito, filosofice tecnocrática distante da nossa vida cotidiana de brasileiros, reforma da Previdência e tals.

O banco abriu, por meio de seu app, a possibilidade de que seus correntistas conheçam abertamente os dados que a instituição detém de cada um deles. Uma sacada de marketing do Igor Puga e sua turma? Hummm, pode ser. E até é. Mas veja. Tem outro jeito de olhar (sempre tem outro jeito de olhar todas as coisas). Uma plataforma tecnológica financeira robusta e poderosa franqueou suas entranhas a invasão humana irrestrita, empoderando gente e colocando máquinas a seu serviço. Sacou?

Simples, não? Pois então, é isso. Todo projeto tecnológico global, prioritariamente os fundamentados em Inteligência Artificial e nos avanços mais radicais da tecnologia cognitiva, precisam ser orientados pela mesma lógica humana, que tem como pressuposto uma ética igualmente humana. Essa é a revolução em curso.

O Santander sacou. Espero que você, em sua companhia, zele por isso também. Espero que os cientistas zelem igualmente. E gostaria, francamente, que as grandes plataformas globais de tecnologia, e os governos, fizessem o mesmo.

A nova revolução digital, a 6.0, está em marcha. E começa bem aí em você, no seu cérebro, bem humano, aliás. Esse sim, a maior força transformadora a qual nenhuma tecnologia jamais poderá se sobrepor.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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