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O (des)poder do hábito

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Opinião

O (des)poder do hábito

Precisamos quebrar as pedras gigantes onde estão escritos os mandatos e as “verdades” sobre o cliente; a gente morre quando reclama sem agir para encontrar uma solução


26 de julho de 2017 - 8h00

Eu tenho uma marreta na minha mesa. Uma marreta de verdade, de obra. Ela e um post-it escrito: “Make today so amazing that yesterday will get jealous”, frase que li em uma daquelas milhares de quotes do Pinterest, que me lembra diariamente de quebrar as rochas e as paredes que me impedem de lutar contra o que acredito ser mais prejudicial à nossa evolução e mudança como indústria: o costume, o hábito, o status quo.

Foto: Reprodução

Nos últimos seis anos, vivi experiências intensas. Fui de cliente a UX concept e até gótico gourmet. Morei em três países diferentes, conheci pessoas e lugares que nunca imaginei, mas o mais importante é como isso mudou minha visão sobre as coisas e, principalmente, sobre a propaganda. Durante um tempo, a propaganda e eu andamos meio estranhos um com o outro. Fizemos terapia, nos reconciliamos e reencontrei o amor e o propósito de fazer o que faço todos os dias e de sentir tesão nisso.

É simples. No meio de toda essa discussão sonolenta sobre on, off, inovação, tecnologia, programática, big data, criatividade, Cannes, fantasmas, quem vai e quem fica, penso que esquecemos de falar sobre as pessoas. Não sobre as pessoas que vão usar nosso produto ou serviço, mas sobre nós mesmos, profissionais da propaganda. Entendi que o que faz toda a diferença é lutarmos contra o nosso status quo e acredito que as principais causas da crise do modelo atual das agências não sejam as novidades, a tecnologia ou o futuro, mas sim o hábito. Li O Poder do Hábito, de Charles Duhigg, e nem lembro direito sobre o que falava, somente que eu deveria fazer o contrário. O hábito e o costume deixaram o nosso mercado preguiçoso e refém de um modelo que sempre funcionou e que faz as agências baterem a meta do BV no final do mês.

No dia a dia, nós, publicitários, reclamamos e fazemos o trabalho chato para colocar energia em “coisas legais” ou ações desprovidas de obrigação com a realidade como forma de autopremiação pela chatice que esse mundo, tão maldoso, faz com a gente. Status quo. Se, ao invés disso, nós fizéssemos… Recebemos o briefing do cliente e não questionamos conteúdo e nem prazo, porque precisamos entregar o trabalho rápido para deixá-lo feliz. Caso contrário, o cliente vai gritar e, pior, procurar uma agência concorrente. Status quo. Se, ao invés disso, nós fizéssemos…

Dá trabalho porque precisamos todos os dias quebrar as pedras gigantes onde estão escritos os mandatos e as “verdades” sobre a empresa, o fulano, o cliente. Caso contrário, ficamos estagnados, reclamando e transferindo a culpa

Temos uma campanha para criar e pensamos em um filme maravilhoso, com produção sofisticada, plano de mídia básico com TV aberta, a cabo e algumas ações “disruptivas” nas redes sociais. Status quo. Se, ao invés disso, nós fizéssemos…

O cliente quer renegociar o fee porque acredita que já paga muito para a agência e não entende o valor do trabalho. A agência, por sua vez, não está de acordo porque as horas alocadas mostram que seus colaboradores trabalharam muito. Status quo. Se, ao invés disso, nós fizéssemos…

O que eu aprendi nestes últimos anos é que o papel de quem quer lutar contra o status quo não deve ser o de falar que a empresa ou sistema é desse ou daquele jeito. Entendi que sou parte da indústria e que faço a empresa que eu quero trabalhar. Que só com as minhas próprias ações posso lutar contra o que considero um costume limitante.

Dá trabalho porque precisamos todos os dias quebrar as pedras gigantes onde estão escritos os mandatos e as “verdades” sobre a empresa, o fulano, o cliente. Caso contrário, ficamos estagnados, reclamando e transferindo a culpa. Aí, vem a ladainha de que o digital está matando a indústria, de que estamos perdendo a relevância, de que a propaganda vai morrer. Hoje, penso diferente: a gente morre quando reclama sem agir para encontrar uma solução.

Como disse, a ideia é simples, mas assumir e fazer a mudança em nós e no nosso status quo é difícil. Precisamos de energia, vontade e ter isso sempre em mente. Em vez de seguir as dicas de um livro e criar novos hábitos, decidi manter a marreta e o post-it como formas simbólicas de lembrar todos os dias dessa luta. E tem funcionado.

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