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Trump, Bolsonaro e a isenção dos meios diante de suas mensagens
Meios e canais que, coniventemente, servem-se aos desígnios de mensagens que fomentam atos socialmente condenáveis não são mais isentos. Contaminam-se do que veiculam
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19 de fevereiro de 2021 - 8h00
Trump foi inocentado no julgamento do processo de impeachment movido pelo Congresso dos EUA. Não vou entrar aqui no mérito dessa questão. Vou olhar por um outro prisma.
Um dos vários itens alinhados contra ele foi a acusação de usar investimentos de mídia do erário público norte-americano para promover a invasão do Capitólio. Há provas de que isso aconteceu, independentemente da sua absolvição, um evento mais político do que de justiça.
Que ele incitou a massa a invadir o Congresso dos EUA não há como negar, porque o seu discurso na frente da Casa Branca foi transmitido ao vivo para qualquer incauto residente no Planeta Terra ver. Naquela hora, e on demand agora, no player de sua preferência.
Usar os meios de comunicação e as redes sociais, particularmente estas, para promover movimentos politicamente engajados faz já parte do arsenal de prateleira de políticos mais diversos. Mas, usar o budget oficial de governo para a promoção aberta de um ato terrorista contra o Estado, é novo. E uma exceção (absolvida) extremamente preocupante.
O governo Bolsonaro, no Brasil, está sendo investigado por, supostamente, ter armado uma estrutura altamente eficiente de mídias sociais em prol de suas crenças, causas e interesses, dentro do próprio Palácio do Planalto. Alega-se. Isso, obviamente, não enaltece a ética de governo algum, mas o que Trump fez é diverso. E ainda pior.
Vendo e vivenciando momentos deste nosso presente, que por vezes me parece sem rumo e sem qualquer moral, me faz voltar ao passado e lembrar das aulas de semiologia na universidade.
Mídia, a instância semiológica, aquela que se coloca entre o emissor e o receptor, é um foro, conceitualmente e em teoria, neutro. Eu diria, provocativamente, sem caráter. Feito Macunaíma, o herói sem caráter de Mário de Andrade, que definiria a identidade brasileira.
No entanto, ela se amolda e, de certa forma, emula aquilo que transmite, deixando de ter, assim, a isenção que lhe deram os teóricos Saussure e Jakobson, para ganhar um caráter definitivamente engajado, como apontou Roland Barthes. Ou o cientista Marshall McLuhan, para quem o meio é a mensagem.
Meios e canais que, coniventemente, servem-se aos desígnios de mensagens que fomentam atos socialmente condenáveis não são mais isentos. Contaminam-se do que veiculam.
E sendo assim, ainda na linha do provocativo, passam a ser meios feitio Macunaíma, sem caráter também. Tipo, me paga que eu vou.
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