ProXXIma e Leo Monte
1 de novembro de 2018 - 7h44
Por Leo Monte (*)
Estou lendo uma matéria quando essa informação me chama atenção: a implementação de serviços digitais já é uma prioridade, em 2018, para 85% das 221 instituições financeiras entrevistadas em uma pesquisa global elaborada pela consultoria EY. Esse mesmo estudo mostrou ainda que 70% das empresas planejam investir em tecnologia para fortalecer seu posicionamento competitivo e ganhar mercado.
É inegável a transformação que o uso da tecnologia trouxe à medida que novos avanços são implementados para todos os segmentos. Com o setor financeiro não podia ser diferente, basta pensar em como era um banco há 15 anos. Qual era o consumo de cheque? E os avanços dos serviços de Mobile Bank? Junto com esse novo consumidor surgiu a necessidade de criar serviços e alternativas de uso com mais velocidade e com foco total na experiência do usuário.
É aí que entra o Open Banking, uma estratégia/mindset de inovação fundamental para as empresas, trazendo inúmeras vantagens.
Mas o que é Open Banking?
É uma plataforma que permite a integração de aplicativos com os serviços por meio da abertura de interfaces de programação de aplicativos. As APIs – Application Programmimg Interface, ou interface de programação de aplicações, em português – são elementos chave da transformação digital dos bancos, uma vez que essa é uma forma de permitir que os desenvolvedores de outras empresas de tecnologia criem diversas aplicações e serviços, focadas nas experiências e na forma como os clientes interagem com banco. Elas permitem, portanto, que empresas e desenvolvedores conectem os seus sistemas, compartilhem dados e realizam transações de forma automatizada e segura.
Ao liberar dados em uma camada de integração, o Banco também pode se integrar a novas cadeias de serviços, viabilizando o trânsito de informações através de outras plataformas de serviço. Ou seja, o correntista pode acessar suas informações bancárias por aplicativos de outras empresas e não somente pelo banco. Onde ele estiver e assim preferir acessar.
Na verdade, o Open Banking simplifica as integrações das aplicações, e ainda possibilita a redução dos custos operacionais tanto para o banco quanto para seus parceiros. Ao facilitar a criação de novas aplicações por terceiros, o banco melhora a experiência dos clientes e amplia as possibilidades de receita sem ter que arcar com todos os custos de desenvolver esses novos serviços.
Aqui no Brasil Open Banking já é uma realidade, o Banco Original foi o pioneiro em 2016 e na sequência o Banco do Brasil, em junho de 2017. Que já possui parcerias para criação de serviços integrados ao sistema da instituição – um projeto com a startup de comparação de empréstimos consignados Bxblue, ContaAzul (plataforma de gestão em nuvem para pequenas empresas), Dotz (programa de fidelidade), BrasilCap (empresa de capitalização), Ciclic (fintech de planos de previdência privada controlada pelo Banco do Brasil) e FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
O Banco Central comunicou que vai definir o modelo de Open Banking para ser implementado a partir do ano que vem. Existem conversas entre o BC, CADE e a Febraban, que analisam quais serão as diretrizes a serem seguidas. O que precisamos entender é se o BC vai seguir um modelo mais restritivo, onde irá categorizar as plataformas que poderão requisitar os dados, a linguagem de programação da API e outros detalhes, algo parecido com o que ocorre na Inglaterra. Então, seguir um modelo semelhante ao da União Europeia, onde os bancos são obrigados a disponibilizar a API, mas fazem sem uma padronização tão restritiva.
Esse é outro ponto importante, a regulamentação, já que na Europa, por exemplo, existe a PSD2 (Payment Services Revised Directive). Isso implica que todas as organizações reguladas pelo Banco Central Europeu terão que disponibilizar APIs abertas, ou seja, adotar a plataforma do Open Banking, viabilizando com outras industrias, como comércio eletrônico e Fintechs, ampliando a possibilidade de acesso e oferta de serviços inovadores aos seus clientes. Acredito fortemente que assim como na Europa logo mais teremos uma regulamentação parecida. Mais um ponto interessante do PSD2 é que o usuário é dono dos seus dados e contas, ou seja, ele pode fazer a portabilidade de um banco para outro em um “click” desta forma o poder de escolha está na mão do usuário, o que força os bancos oferecerem melhores serviços com experiências incríveis.
Os bancos dos Estados Unidos observam com temor o que aconteceu na China, onde a Tencent Holdings e o Alibaba Group Holding estão se movendo para 500 milhões de usuários bancários e de seguros. A unidade de Yu’e Bao, da Alibaba, tornou-se o maior fundo do mercado monetário do mundo, com US$ 210 bilhões em ativos dentro de cinco anos de seu lançamento, em junho de 2013.
Empresas de varejo e viagens, grandes bancos como JP Morgan Chase, Citigroup e Bank of America também estão investindo em digital para se proteger da Amazon, Google ou outra plataforma que chegará (se não chegou) para ganhar os clientes para sempre.
Outras vantagens do Open Banking
1) Engajamento: qual empresa não quer ser lembrada por facilitar a vida do usuário? APIs em bancos são o caminho para novas ideias, um mar de possibilidades. Assim, a marca do Banco estará sempre presente em vários momentos do dia a dia do usuário, conseguindo até mesmo um maior número de clientes pelas facilidades e gama de serviços que ele traz.
2) Monetização de Serviços: quando você pensa em bancos, com certeza pensa em dinheiro. Uma característica das APIs em negócios é abrir novas oportunidades de receita. E melhor é que o modelo de cobrança pode ser extremamente diversificado. Algumas empresas fazem programas de afiliados, enquanto outras cobram os parceiros pela quantidade de acessos. Pode ser definido um limite de chamadas por um aplicativo, por dia, e quando esse limite for ultrapassado, uma taxa deve ser paga. A ideia é sempre gerar mais valor para o cliente.
3) Posicionamento Inovador: no mercado, não importa o seu segmento, ser referência de tecnologia e inovação é uma posição muito privilegiada. O lançamento de serviços diferentes de seus concorrentes vai melhorar seu posicionamento e percepção, pois a integração com o maior número de aplicativos (ou melhor, com os aplicativos certos para o seu público) garantirá um caminho longo e próspero de inovação.
4) Efeito de Comunidade: imagina milhares de desenvolvedores pensando em sistemas inovadoras usando as APIs da sua empresa! Isso é totalmente possível quando você disponibiliza um portal para a comunidade com as APIs públicas e promove eventos como Hackathons com desafios e premiações.
5) Acelerar a inovação: não apenas a posição de marca inovadora, as Fintechs vieram para mudar a forma como a massa de clientes usa serviços financeiros. É inevitável o lançamento de APIs por parte destes players de mercado, pois hoje mesmo já existem diversas empresas que conseguem oferecer pequenos pedaços de serviços que os bancos oferecem de forma aprimorada e especializada. Ao invés de recriar podemos pensar em utilizar estes serviços dentro da plataforma.
Nova economia exige mudanças rápidas
A nova economia está criando a necessidade de transformação digital em todos os setores do mercado, sobretudo naqueles que demandam cuidado extra com gestão e administração. Aí que está um segredo, já que não precisamos nos limitar aos serviços financeiros quando falamos de Open API. Afinal, tudo pode ser “Open”, como Open Retail, Open Insurance ou Open Health, é apenas uma questão de acertar nossas atitudes, interesses, tecnologia e a experiência do usuário, este último fundamental para que a mágica aconteça.
Um fator interessante disso tudo é que a vantagem dessa combinação depende da criatividade dos bancos (profissionais) e das empresas parceiras envolvidas no uso e integração com APIs. Com um plano bem executado é possível ver o fenômeno que conhecemos como Inovação Aberta ou a Criação de um Ecossistema de Inovação trazendo mais velocidade, eficiência e um fenômeno muito conhecido por nós que é o Network Effect, ou efeito de rede. Eu te garanto! Se conseguir atingir um destes pontos é sucesso garantido.
Então, se você ainda não começou esta jornada de mudança, está na hora de colocar na mesma mesa o CIO ou Diretor de Tecnologia e no mínimo um ou mais Service Designer para uma discussão estratégica. O avanço é implacável, independentemente do nível de maturidade digital e já está acontecendo.
(*) Leo Monte, co-fundador da GR1D, autor da metodologia de inovação ShakeUP, especialista em Modelos de Negócio de Plataforma, Transformação Digital e Inovação.