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Mulheres em tecnologia

É historicamente compreensível que atualmente a área de tecnologia seja dominada por homens, principalmente em cargos de liderança, e cabe às empresas, escolas, universidades e iniciativas públicas estimular e criar condições para que cada vez mais mulheres ingressem neste mercado.


2 de abril de 2019 - 8h01

 

Por Marcela Hippe (*)

 

Breve histórico e contexto

 

É evidente que o mercado de tecnologia e desenvolvimento é majoritariamente masculino. Entretanto, nem sempre foi assim; mulheres não só já foram maioria como na verdade são as pioneiras da área. A história da programação começa em 1842, quando Ada Lovelace escreveu o primeiro algoritmo para ser lido por uma máquina. Muito tempo depois, já no período da Segundo Guerra, foi um grupo de 6 mulheres* que abriu os caminhos para o tipo de desenvolvimento que conhecemos até hoje. Durante décadas, mulheres eram responsáveis pela inteligência e cálculos matemáticos complexos que contribuíram para o rápido avanço da programação e tecnologia. Esse é um resumo curtíssimo e simplista de uma longa história que precisa ser mais conhecida.

 

“Como se identificar com uma profissão que nunca foi apresentada como possibilidade e cujas habilidades nunca foram estimuladas desde cedo?”

 

Diversos fatores históricos contribuíram para o distanciamento das mulheres das áreas de engenharia, matemática, computação e tecnologia. Por exemplo, quando historicamente a publicidade retrata as mulheres como pessoas “do lar”, cuidadoras e emocionais ou apenas as utilizam de maneira objetificada, isso causa um impacto. Desde cedo, meninas e meninos são apresentados a possibilidades totalmente distintas: para os meninos, brinquedos de lógica, engenharia, peças de montar, coisas para construir e estímulos para brincar “lá fora”. Para as meninas, utensílios domésticos em miniatura, bichos de pelúcia, bonecos que simulam as necessidades fisiológicas dos bebês, restrições sobre a maneira de falar e se comportar em público. Na vida adulta, a consequência dessa criação é um mercado de trabalho naturalmente dividido, afinal, como se identificar com uma profissão que nunca foi apresentada como possibilidade e cujas habilidades nunca foram estimuladas?

 

Em 2012, ao perceber este cenário como oportunidade de negócio, a engenheira Debbie Sterling fundou a GoldieBlox, uma marca para crianças (principalmente meninas) que propõe a integração entre storytelling, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Os conjuntos de bonecas, peças de montar, livros e vídeos promovem a disrupção do “corredor rosa” nas lojas de brinquedo. Vale a pena conhecer.

 

Então, sim, é natural que atualmente a área de tecnologia seja dominada por homens, principalmente em cargos de liderança, e cabe às empresas, escolas, universidades e iniciativas públicas estimular e criar condições para que cada vez mais mulheres ingressem neste mercado. Hoje em dia, já existem ótimos exemplos de iniciativas desenvolvidas com o objetivo de atrair mulheres para o mercado de tecnologia, como o Rails Girls, Reprograma, Programaria, InfoPreta, Maria Lab e tantos outros. Por outro lado, de acordo com o IBGE, as mulheres ainda ganham 30% menos do que homens na área de TI. Portanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

 

Minha história

 

Meu primeiro emprego, em 2009, foi como estagiária em uma pequena empresa de eventos, onde eu tive a oportunidade de conhecer diversas áreas relacionadas a Marketing: comunicação interna, redes sociais, fotografia, produção, etc. Foi lá onde comecei a pesquisar sobre qual era o jeito “certo” de se fazer um site, porque eu tinha alguma ideia do caminho, mas não fazia ideia de como fazer isso de maneira profissional. Assim, pesquisando, tive o meu primeiro contato com a área de User Experience: comprei o livro Design Para Internet, do Felipe Memória, e passei a acompanhar todas as publicações do blog UX Collective, do Fabrício Teixeira, que na época chamava-se apenas Arquitetura de Informação. Hoje em dia, um fato curioso, é que ambos trabalham juntos na Work&Co., uma das maiores empresas de design do mundo. Felipe Memória é sócio fundador e o Fabrício, Diretor de Design.

 

Então só em 2011, quando me senti um pouco mais confortável com esse universo, que decidi me candidatar a uma vaga no time de User Experience na Locaweb. Deu certo: foi lá que começou minha carreira na área de produtos digitais. Alguns anos de mão na massa se passaram e entendi que era importante ter uma formação acadêmica mais direcionada. Em 2015 decidi fazer a pós-graduação em Design Centrado no Usuário, da Universidade Positivo, para complementar minha base formal de educação.

 

Saltando alguns anos para encurtar a história, em outubro de 2018 entrei na Jüssi para ocupar a posição de gerente do time de User Experience Design, meu primeiro cargo de liderança da carreira. Justamente por isso a decisão foi muito ponderada; o apoio do time de RH da agência foi essencial.

 

Quando recebi a proposta, eu atuava como designer na Sapient AG2, empresa que já me acolheu duas vezes na jornada profissional. Eu estava em uma posição confortável, trabalhando com pessoas incríveis e percebendo meu trabalho ser valorizado pelos pares e pessoas da liderança, mas no fundo sentia vontade de dar um passo maior na carreira. Conversei com meus líderes, ouvi conselhos honestos, entendi todos os caminhos possíveis e acabei decidindo topar o desafio na Jüssi. Foi um milestone: dia 22 de outubro de 2018, uma segunda-feira, eu chegava para o meu primeiro dia de trabalho na agência para liderar pela primeira vez, e eu já tinha um time de 15 pessoas.

 

A Jüssi tem uma atmosfera diferente. Ficamos fisicamente espalhados entre 4 andares de um prédio no Itaim Bibi, mas o sentimento de integração, colaboração e transparência é sentido por todos. A adaptação foi fácil e hoje consigo comprovar na prática algo que senti logo na minha primeira entrevista aqui na Jüssi: existe, de verdade, uma busca pela diversidade nos times e uma cultura de respeito ao próximo. Você pode ser quem você é; simples assim.

 

Como trabalhamos

 

O time de User Experience Design é uma das quatro equipes que compõe a área de IPD – Inteligência de Produtos Digitais. Atualmente, essa área tem cerca de 110 profissionais, representando 1/3 da agência. UXD é um time formado por 15 talentosos designers, com habilidades e características que se complementam muito bem, e estamos organizados em núcleos de clientes. Além de UXD, a área de IPD tem também os times de SEO, Tecnologia e uma última que integra Produtos & User Behavior Analytics. Dessa forma, conseguimos trabalhar em núcleos multidisciplinares formados por especialistas em diferentes áreas, entregando valor para os clientes.

 

Na liderança de UXD não estou sozinha. Para atender estrategicamente o maior cliente da casa, por exemplo, temos 6 designers dedicados e uma supervisora, a Gabriela Silvares. Ela tem feito um trabalho de organização e liderança incrível com o time, elevando nosso nível de entrega como um todo.

 

Para conseguir desempenhar bem meu papel de líder, que é novidade na minha carreira, busco fazer uma gestão de pessoas com olhar atento para o bem-estar e felicidade profissional. Tenho uma preocupação genuína em estimular e manter o ambiente de trabalho saudável, energizante e acolhedor para todas as pessoas. Para conseguir isso, busco todo o tempo promover a transparência e o alinhamento de visão, de maneira que todos sintam que fazem parte de uma equipe com objetivos claro e valores bem definidos, que correspondem às expectativas da agência.

 

Uma atividade que fiz questão de iniciar assim que cheguei foi o 1:1 (One on One), que são conversas quinzenais e individuais com cada pessoa do time. Nesses papos de meia hora, tento acompanhar de perto o sentimento em relação ao trabalho, descobrir se há algum problema que posso resolver e, assim, consigo perceber se há algo impactando na motivação do profissional, se existe frustração em algum aspecto para conseguir atuar rapidamente. Sinto que essa rotina é muito bem recebida por todos.

 

Próximos passos

 

Quando falamos em diversidade, ou seja, quando enfatizamos que é urgente não ter apenas homens brancos heterossexuais em uma sala de reunião tomando decisões, não estamos falando apenas pela responsabilidade social – por mais que isso, na minha opinião, seja motivo suficiente para ter quadros de funcionários mais diversos; optar pela diversidade tem a ver também com negócio. Um estudo da McKinsey* mostra a correlação clara que existe entre diversidade étnica e de gênero, e lucratividade; isto é, empresas com maior diversidade lucram mais. Entretanto, de maneira geral, acredito que temos um caminho longo para percorrer no que diz respeito à equidade de gênero no mercado de trabalho. Apesar de sermos maioria em número na população do país, as taxas de desemprego mostram a diferença: a porcentagem de mulheres desempregadas é quase 30% maior que a de homens. Em cargos de alta liderança, representamos menos de 3%. Uma série de fatores contribuem para isso, como falei anteriormente, mas o resumo da história é que precisamos, sem dúvida, trabalhar ativamente para formar profissionais mulheres e também para dar boas condições a todos, garantindo que o local de trabalho não seja um ambiente tóxico.

 

Observando pelo recorte de gênero, aqui na Jüssi os números são muito bacanas. Somos em quase 320 funcionários; desses, 50% são mulheres. E o dado que mais me deixa orgulhosa: em cargos de liderança, ou seja, considerando supervisores, coordenadores, gerentes e diretores, as mulheres correspondem a 60%. E eu faço parte desse time.

(*) Marcela Hippe é gerente de UXD da Jüssi

Links:

1 – Como a programação passou do pioneirismo feminino para o “clube do bolinha” – https://asminanahistoria.wordpress.com/2017/06/20/como-a-programacao-passou-do-pioneirismo-feminino-para-o-clube-do-bolinha/

2 – Por que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologia – https://www.programaria.org/especiais/mulheres-tecnologia/

3 –  A diversidade como alavanca de performance – https://www.mckinsey.com/business-functions/organization/our-insights/delivering-through-diversity/pt-br

 

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