Por uma filosofia afrofuturista da inovação

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Opinião

Por uma filosofia afrofuturista da inovação

Não há oposição entre tradição e inovação. Há muita conexão

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24 de novembro de 2022 - 9h21

Crédito: Reprodução/ Marvel

No último domingo, assisti pela segunda vez ao filme “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”. Da primeira vez, me atentei à qualidade técnica da produção, fui fisgado por seu enredo, e torci para ver uma mulher como uma Pantera Negra. Quis assistir uma segunda vez para me atentar às nuances da narrativa, as mensagens colocadas de forma magistral nas cenas e diálogos, e as conexões entre elementos e personagens.

Assistir ao filme fez parte do meu périplo neste mês de novembro, o mês nacional da consciência negra, em que busquei algumas experiências que, curiosamente para mim, conectaram inovação com a ancestralidade. No início do mês, participei da organização do Scream Festival, em Salvador, e me chamou atenção que entre um painel sobre “Novos modelos de Negócios para a Indústria da Informação” e outro sobre “Possibilidades no Metaverso”, havia uma mesa com o título “Ancestralidade e um olhar para o futuro”, com um pajé e uma mãe de santo. Fiquei dias pensando se meu amigo e chefe da curadoria do evento, Diego Oliveira, também professor da ESPM, era um gênio ou um louco ao fazer um sanduíche como esse.

Até que, semanas depois, já passado o evento, fui assistir pela primeira vez ao filme Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, continuidade da franquia Pantera Negra, da Marvel Studios/Disney. Aí tive um momento de epifania: não há oposição entre tradição e inovação. Há muita conexão. O filme é um sucesso de público e não preciso explicar aqui seu enredo, apenas destacar que ele mostra o encontro de dois reinos ultra desenvolvidos social, econômica e tecnologicamente, justamente por buscar na sabedoria ancestral a fonte para sua criatividade e inovação.

Depois de assistir ao filme, fui convidado pelo amigo Paulo Rogério, fundador do Vale do Dendê, para um painel no Festival Afrofuturismo, e aí já pude desenvolver esse raciocínio de maneira mais ampla. Uma visão de futuro com protagonismo negro passa por uma maior conexão com nosso passado. Vejamos o exemplo dos suecos que desenvolveram o Bluetooth, deram esse nome à tecnologia em homenagem ao rei Haroldo Dente Azul que unificou tribos nórdicas (como faz a tecnologia com os aparelhos) e, por fim, escolheram como seu símbolo as runas nórdicas com as iniciais de seu nome.

Lembremos que o nome do assistente virtual Alexa faz alusão ao nome de Alexandre, imperador macedônio que criou diversas cidades-polo onde concentrava o conhecimento, nas chamadas bibliotecas de Alexandria. Em 1801, um químico inglês descobriu um elemento que revolucionaria a medicina de imagem, ao possibilitar máquinas como a ressonância magnética, e deu a ele o nome de Nióbio, em homenagem à deusa grega Níobe, filha do Deus Tântalo (já que o nióbio é encontrado num mineral chamado tantalita).

Temos diversos exemplos de inovação de ponta inspirada pela ancestralidade de povos brancos. Um filme como Pantera Negra: Wakanda Para Sempre serve como alegoria para mostrar o potencial das pessoas negras empoderadas pelos seus ancestrais. Esse potencial é especialmente relevante num país como o Brasil, com mais da metade da população afrodescendente, mas que representa menos de 15% dos pesquisadores brasileiros.

Depois destas experiências que citei (Scream, Afrofuturismo e filme Pantera Negra: Wakanda pra Sempre), reforçou-se em mim uma visão de que empoderar a população negra aproximando dos seus mitos, fatos, personagens e filosofias é a única forma de contrapormos a famosa frase de Millôr Fernandes, que diz que “O Brasil tem um enorme passado pela frente”. O afrofuturismo é o paradigma que garante novos olhares enxergando o futuro, definindo quais questões priorizar, gerando riqueza que vá para novas mãos e fugindo de um viralatismo que nos faz ver a nós mesmos como uma versão piorada dos modelos europeus. Não! Somos a evolução de nossos ancestrais, uma combinação única na história, e a única esperança de não vermos “o futuro repetir o passado”, como cantou Cazuza.

Por isso defendo uma filosofia afro futurista da inovação, que busque inspiração na nossa ancestralidade e, assim, possa criar algo original, e não meras versões do que é feito lá fora. Como é Wakanda.

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