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Carga não tão invisível: o custo mental da maternidade 

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Opinião

Carga não tão invisível: o custo mental da maternidade 

São preocupações que nos acompanham 24 horas por dia, quase impossíveis de serem desligadas


19 de maio de 2022 - 15h52

“Ser mãe é padecer no paraíso”. Certamente essa é uma das falas que mais ouvimos de mães à nossa volta ou quando escolhemos pela maternidade. E, neste mês de maio, com a comemoração do Dia das Mães, me peguei refletindo sobre essa frase. O que ela quer dizer? Qual é a sua implicação real?  

Decidi trazer um pouco sobre o que pensei aqui, mas com o viés que mais me chamou atenção: o que foge da execução prática de tarefas diárias de cuidado com os filhos. De uma carga que muitas vezes não é tratada, justamente por aparentar ser invisível para quem não a sente: a carga mental da maternidade. 

É uma sobrecarga que na maioria das vezes não é possível compartilhar, pois habita em nossas mentes. São preocupações que nos acompanham 24 horas por dia, quase impossíveis de serem desligadas. Mesmo após uma (pequena) parcela dos homens entenderem que a tarefa do cuidado da casa e dos filhos deve ser totalmente dividida, o que se divide, na realidade, é a execução dela. O planejamento, a gestão e a responsabilidade em si continuam, em grande parte, com as mulheres. 

Dando exemplos, o que quero dizer é que, em muitos casos, se o parceiro vai ao mercado, antes houve o gerenciamento da mãe sobre o que precisa ser comprado. Se vai a uma reunião da escola e ajuda na lição de casa, a mãe está diariamente no grupo no grupo de WhatsApp, verificando se o uniforme está ficando pequeno, se o filho brigou com alguma criança. Uma tirinha da francesa “Emma“, traduzida para o português pela equipe da Bandeira Negra, deixa claro o que estou dizendo ao expor o famoso “era só pedir” que ouvimos constantemente. Não é necessário delegar aquilo que nós sabemos que precisa ser feito, mas essa sabedoria, aparentemente, não é tão conhecida por grande parte dos nossos parceiros. 

(Crédito: Emma/Tradução para o português: Bandeira Negra)

Na pandemia, esse cenário foi escancarado. Segundo estudo da Universidade Federal do Mato Grosso com mães de crianças e adolescentes, 83,8% delas sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos neste período, 39% apresentaram sintomas de estresse pós-traumático, 26,76% de ansiedade, 25,18% de depressão e 22,63% de estresse.  

E por que as mães enfrentam esta carga maior? Eu acredito que venha da nossa criação. Somos criadas de maneira mais submissa, nos colocamos em segundo plano, nunca como protagonistas da própria vida. É esperado que estejamos sempre prontas a ajudar desde meninas, independentemente de qual seja a tarefa, e isso reflete em nossas vidas profissionais e pessoais quando adultas. Isso tudo mora no inconsciente de que a responsabilidade da felicidade e da harmonia familiar está centrada na mulher e, especialmente, na figura materna. E, esse heroísmo, essa figura romantizada da mãe, na realidade, é uma prisão.  

 

(Crédito: Emma/Tradução para o português: Bandeira Negra)

Lembro que, quando casei, minha sogra perguntava várias vezes coisas como quando eu ia levar meu marido para cortar o cabelo, ou se ele já tinha ido ao médico, como se fosse minha responsabilidade garantir a gestão da vida dele. Eu sempre respondia que eu não tinha um terceiro filho. Porém, eu tive uma criação feminista, então meu referencial e minha perspectiva partem de um ponto privilegiado. Casei-me com uma pessoa que tinha um olhar para a vida parecido com o meu, especialmente nas questões de gênero. Mas, mesmo assim, especialmente no início, muito da carga mental ficava comigo. A pergunta “o que eu preciso fazer?” era bem comum. E meu posicionamento tinha de ser: se eu preciso te dizer, eu prefiro fazer por mim mesma. O recado foi entendido. 

Hoje, minha realidade familiar mudou. Eu sempre soube que nunca daria conta de tudo. E sempre falo que nunca quis vestir a capa da supermulher. Assumir isso foi muito importante desde o início, e ter essa conversa com meu parceiro também. Essa conscientização, com boas doses de conversas, foi necessária para esta mudança. Meu parceiro passou de uma pessoa que não sabia direito o tamanho do sapato dos meus filhos e fazia as primeiras lavagens de roupas ficarem duras, porque a escolha do sabão em pó não era a melhor possível, para uma pessoa que faz toda a gestão alimentar da casa e da rotina escolar das crianças. 

E, se da minha experiência, eu puder deixar aqui alguns conselhos para que essa seja uma realidade em outras casas, seriam os seguintes: 

– Ainda falta conscientização. Muitas mulheres (e mães) não percebem que vivem essa carga. 

– Uma vez que perceber a existência desta sobrecarga, entender que o papel do perfeccionismo, do controle, da supermãe e da supermulher é mais uma armadilha do que um prêmio ou pedestal. 

– Verbalizar o incômodo e chegar num acordo da divisão das responsabilidades (por completo, não somente da execução) 

– Aceitar a forma de fazer as coisas do outro. Do jeito dele ou dela.

– Muitas vezes, deixar, sim, a peteca cair se o outro não fizer o que era esperado. Está tudo bem.

– Aprender a se perdoar.

Por fim, entenda que a carga mental só é invisível para quem não está sentindo o peso. Seja sempre generosa consigo mesma.  

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