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As lições dos professores do mercado

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As lições dos professores do mercado

Profissionais que se dividem entre as agências e as salas de aula falam sobre os desafios de ensinar


13 de outubro de 2017 - 17h40

Ulisses Zamboni, que concilia a presidência da Santa Clara com as aulas na Miami AdSchool (Crédito: Divulgação)

O cotidiano das agências de publicidade costuma ser permeado de muita pressão, cobranças e incontáveis prazos a cumprir. Após um dia extenuante, no entanto, alguns profissionais de agências precisam encontrar forças para uma começar uma segunda – e igualmente cansativa – jornada: dar aulas.

Em homenagem ao Dia do Professor, celebrado neste domingo, 15, a reportagem conversou com alguns profissionais do mercado que equilibram as responsabilidades do trabalho com a missão de auxiliar a formação de outros profissionais que, no futuro, seguirão o mesmo caminho.

Disposição para aguentar a dupla jornada de trabalho e ensino parece ser a prova mais difícil desses professores da publicidade. “Em algumas sextas-feiras, por exemplo, depois de encerrar uma semana pesada de trabalho, você ainda tem que recuperar o fôlego e encarar uma classe pela frente. São muitas as reuniões e confraternizações que passei a deixar de lado”, conta Fernando Birche, gerente de planejamento da WMcCann e professor da mesma disciplina no curso de Publicidade e Propaganda da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

 

Márcio Fritzen, diretor de criação da Ogilvy e professor da Cuca (Crédito: Divulgação)

A opinião de Birche é compartilhada por Márcio Fritzen, diretor de criação da Ogilvy que, desde 2010, equilibra o trabalho da agência com aulas na Escola Cuca, voltada a auxiliar a formação de criativos. “A aula é um momento importante para os alunos. Alguns vêm de longe. Outros esperam muito por aquele instante. Então, depois de um dia intenso você precisa ainda tirar energias para dar aula e com toda a motivação do mundo”, confessa Fritzen.

Para ajudar a tornar essa jornada mais fácil e prazerosa, os professores recorrem a algumas técnicas. Professor há 15 anos, Ulisses Zamboni, presidente da Santa Clara, que atualmente ensina turmas de alunos da Miami Ad School, cita o ingrediente principal que sustenta a base da relação entre professores e aluno. “A primeira frase dita na sala de aula precisa obrigatoriamente ser de empatia. O subtexto é: ‘sou igual a vocês, portanto, estamos entre iguais’. Daí, caem as barreiras”, ensina o professor. Segundo Zamboni, conseguir captar exemplos e cases ainda desconhecidos para surpreender os alunos é um dos maiores desafios. “Tenho conseguido ilustrar a teoria com exemplos não conhecidos, uma tremenda dificuldade nos dias de hoje. Há 10 ou 15 anos, isso era bem mais fácil. Mas hoje, em um mundo onde todos veem tudo, fica mais restrito. Mesmo assim, procuro cases que ninguém ainda viu”, conta o presidente da Santa Clara.

 

Tiago Lara, VP da Leo Burnett Tailor Made (Crédito: Divulgação)


Captar atenção

Embora deem aulas para turmas de jovens e adultos que buscam, na maioria dos casos, uma qualificação profissional espontânea, os professores ouvidos pela reportagem também sofrem de alguns problemas que acometem os mestres que ensinam turmas de diferentes idades: a dispersão e falta de atenção por parte da classe. “Um dos maiores desafios é garantir engajamento. Estamos lidando com um público em geral bastante jovem, inquieto, ansioso e bem informado. Por isso, é necessário sempre trazer exemplos, técnicas e conceitos atualizados para que possamos estar em sintonia com o momento deles”, opina Tiago Lara, vice-presidente de planejamento da Leo Burnett Tailor Made, que há cinco anos ensina turmas da Miami AdSchool/ESPM e, há três anos, também é professor da escola Redhook, de Curitiba.

Fernando Birche, da WMcCann, também sofre com a falta de atenção dos alunos. “Na maioria das vezes eu pego as turmas no primeiro horário da manhã ou nas últimas aulas da noite. Então, são pessoas que estão acabando de acordar, ou então, que trabalharam o dia todo e estão cansados”, conta o profissional. Para driblar esses obstáculos, Birche procurar compartilhar um pouco de seu próprio dia a dia. “Levo para as aulas discussões sobre casos que vivenciei na agência para mostrar a eles como aquelas situações se desenrolam na prática. Ao verem aquela teoria materializada, há mais chances de os alunos se envolverem e assimilarem as ideias”, revela o gerente de planejamento.

Apesar de batalharem para colocar ordem nas salas de aula, os professores ressaltam que o aprendizado sempre flui de forma melhor quando os alunos dispõem-se a trocar ideias e opiniões. “Os melhores alunos, assim como os profissionais, são os que questionam, articulam sobre o que é apresentado, constroem sobre cenários e consequências das teses divididas. Em contrapartidas, os mais complicados são os que querem regras”, comenta o professor Lara, da LBTM.

 

Fernando Birche, que compartilha com os alunos da ESPM a vivência do planejamento da WMcCann (Crédito: Reprodução/Instagram)

Márcio Fritzen, diretor de criação da Ogilvy, também revela a preferência por determinados tipos de alunos. “Existem três tipos de alunos: os talentos empenhados, que sempre vão chegar lá; os talentosos sem empenho, para os quais tento mostrar que, sem força de vontade, qualquer carreira fica difícil e os empenhados sem talento que podem evoluir esse tornar mais competitivos”, lista o professor. Já na turma de Ulisses Zamboni, os alunos que sabem escutam tendem a se dar melhor. “O melhor aluno é o que chega aberto a ouvir o novo, aquele que honra o princípio de ter dois ouvidos e apenas uma boca. Ou seja, que está preparado para ouvir, característica mais do que fundamental para um planejador”, pontua.

Valorização dos professores
Apesar dos percalços de quem dedica parte do tempo a ensinar os outros, os professores ouvidos não hesitam em destacar que os benefícios e alegrias que a profissão traz são bem maiores. “Comecei a dar aulas quando havia acabado de terminar minha faculdade, em 2011. Praticamente não saí da universidade e nem me vejo mais fora desse ambiente. Quero continuar dando aulas e dividindo um pouco do meu conhecimento com os alunos por muito tempo e, também, aprendendo sempre muito com eles, em contrapartida”, destaca Birchen.

Fritzen, da Ogilvy, conta que algumas situações cotidianas atestam a importância da profissão. “Um tempo atrás um aluno me ligou, bem tarde, para dizer que havia sido contratado. Fiquei meio assim, no momento, mas depois que ele disse que precisava desligar rápido porque o celular era pré-pago e ele ainda precisava dar a notícia à mãe, fiquei emocionado. O que senti me fez ter certeza de que a recompensa sempre vem”, relembra.

Diferentemente dos milhares de professores que enfrentam condições de trabalho e de remuneração inadequadas em grande parte do Brasil, Ulisses Zamboni admite que a situação dos professores do setor de publicidade é melhor. “Estamos no segmento daquele 1%, 2% da sociedade que admira o ensino como formação e sabe que educação é o principio de uma sociedade estruturada. Mas, como poderíamos melhorar a situação do professor no Brasil, em geral, é a pergunta de um milhão de dólares”, destaca Zamboni.

 

Claudio Kalim valoriza a educação como principal pilar do Grupo de Atendimento (Crédito: Divulgação)

Educar para sempre
Em uma sociedade na qual a profissão de professor está longe de ser socialmente e economicamente valorizada como a importância do cargo demanda, os profissionais ouvidos acreditam que insistir – e investir – no aprendizado é a única forma para que esse quadro mude. Confiante nessa premissa, o Grupo de Atendimento vem dedicando a maior parte de sua energia às atividades educativas. “Percebemos que, por não ter uma técnica formal como um mídia, um diretor de arte ou um especialista em BI, por exemplo, o profissional de atendimento, muitas vezes, deixava de lado o aprendizado. Nosso grupo nasceu para trabalhar pela formação das pessoas. Oferecemos cursos de gestão, de negócios digitais, negociação, gestão de pessoas e outras matérias que estão presentes no dia a dia”, destaca Claudio Kalim, CEO da Tech & Soul e presidente do Grupo de Atendimento.

O profissional defende, no entanto, que a busca por educação e qualificação não deve partir somente dos empregadores, mas também dos profissionais que aspiram uma carreira mais sólida e bem-sucedida.
“Acredito, sim, que parte da responsabilidade deva ser do empregador, afinal, é importante ele ter funcionários capacitados. Mas o próprio profissional tem que se mostrar interessado, correr atrás’, buscar aprendizado e conhecimento, pois isso só fará bem, não apenas às suas carreiras mas sem dúvida, para a vida”, aconselha Kalim.

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