Um olhar sobre mercado, futuro e inspiração segundo cinco executivas negras

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Um olhar sobre mercado, futuro e inspiração segundo cinco executivas negras

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29 de julho de 2022 - 13h48

Crédito: Divulgação

Julho das Pretas chega ao fim com uma enorme riqueza de conteúdos, listas e homenagens às mulheres negras que estão fazendo a diferença, cada uma com seu brilho, cada uma em sua área. Para o mercado de comunicação, este mês é um prato cheio para conhecer, reconhecer, visibilizar, remunerar e celebrar estas pessoas, responsáveis pelas principais transformações que o mundo contemporâneo tanto precisa.

Em nossa trajetória, aqui na Think Eva, tivemos o privilégio de conhecer, trabalhar e co-criar projetos com cinco mulheres que estão fazendo a diferença no mundo corporativo. Não por acaso, são os projetos com maior impacto, criatividade e grau de inovação que já realizamos. Neste mês, conversamos com as estrelas brilhantes Samantha Almeida, Diretora de Criação na Rede Globo, Helena Bertho, Diretora Global de DE&I no Nubank, Mafoane Odara, Head Latam de RH da Meta, Raphaella Martins, gerente do Creative X da META e Deh Bastos, Diretora de Criação e Conteúdo na Publicis. Claro que esta seleção não é extensiva nem pretende hierarquizar talentos entre tantas outras mulheres potentes que ficaram de fora dela. É um agradecimento a estas que nos marcaram profundamente, abalaram nossas estruturas e nos levaram a lugares muito melhores.

Neste mês, perguntamos a elas sobre mercado, futuro e inspiração. Leia abaixo as respostas, na íntegra.

O que o mercado precisa entender de uma vez por todas?

Samantha – o mercado é feito de pessoas que o constróem todos os dias, é esta junção. Acho que o que falta que a gente entenda de uma vez por todas é a nossa parte na responsabilidade, é a nossa função. Neste momento a gente olha pro mundo e ele é desconfortável, ele reflete uma sociedade, uma malha social esgarçada, problemática e em ruptura, é pq nós construímos ela assim. Fomos nós que deixamos com que ela chegasse neste lugar. E também somos nós que podemos reatar, que podemos refazer os pactos. Então, de uma vez por todas, nós precisamos assumir o nosso compromisso. Não com o mercado de comunicação, publicidade, audiovisual, mercado financeiro… não. Nós precisamos assumir a responsabilidade com a nossa sociedade e com o bem viver coletivo.

Helena – Que se não couber todas as pessoas, não é futuro. E que o futuro é a soma das escolhas que estamos fazendo hoje; seja para nossas vidas ou para os nossos negócios.
Que a inovação e a criatividade não são monopólios e que liderar é inspirar. Se não inspira, não é relevante. Se não é relevante, não tem mercado.

Mafoane – Precisamos ficar confortáveis em fazer conversas desconfortáveis. Conforme avançamos nas discussões sobre inclusão e diversidade, precisamos entrar em conversas mais desconfortáveis, revendo discursos que persistem e que precisam ser desconstruídos. Por exemplo, priorizar mulheres negras nos debates de inclusão e diversidade significa decidir pela inclusão de todo mundo. Como disse Angela Davis, quando a mulher negra se movimenta toda estrutura se movimenta com ela.

Raphaella – O mercado precisa entender de uma vez por todas que, para a gente avançar mais uma etapa desse processo de transformação, precisamos de todas as pessoas que se dizem aliadas, aliados e aliades. Porque não dá para gente transformar e agir e se movimentar sem que essas pessoas que querem transformar elas realmente se pensem e se coloquem em um papel de agentes, de pessoas que estão fazendo mais do que falando. Eu vejo pouca gente usando seu espaço de influência, usando a caneta que tá na sua mão, usando o dinheiro que tá no seu bolso para agir, para transformar. Eu queria que a gente vivesse um corporativo com menos deck e mais dado sobre o que a gente fez, o que a gente transformou nessa última década.

Deh – Que as marcas, as empresas, na verdade, estão sobre as pessoas. Não existe uma forma de entender o racismo e as consequências dele sem abrir mão dos privilégios, sem entender as hierarquias. Ele é sobre desumanização dos corpos pretos, sobre o repúdio à produção intelectual preta. Então, enquanto não for reconhecida essa fragilidade em lidar com isso, a gente não tem resultado de verdade, sabe. Pelo menos não construção das pontes que a gente tanto quer. O que me deixa muito feliz é saber que cada vez mais as iniciativas das mulheres pretas estão fortalecidas para criar suas próprias próprios caminhos. Isso não tem volta. O que o mercado precisa entender é que se juntar a essa tecnologia intelectual, a essa produção das mulheres pretas, significa ganhar mais espaço no mercado. É sobre criatividade, resultado.

Qual futuro você deseja para as mulheres negras que estão e as que chegarão no mundo corporativo?

Samantha – O que eu espero para as mulheres negras é que, primeiro, elas cheguem. Tenho dificuldade de imaginar como é que elas vão chegar, se a gente está retomando debates tão básicos, que já deviam ter sido superados, como cotas, como metas, como reserva de mercado para pessoas negras, já que durante muito tempo elas foram tiradas do mercado intencionalmente. Então, muito se tem falado sobre ESG, muito se tem proposto sobre diversidade, mas pouco tem sido feito. Na prática, os números ainda refletem uma sociedade que debate, que grita, uma negritude que tenta colocar a sua pauta, mas que ainda é muito pouco ouvida e, principalmente, muito pouco realizada.

Helena – Que elas sejam suas próprias referências. Que sejam tantas de nós que estar em posições de liderança não seja uma excepcionalidade, mas um caminho possível.

Mafoane – Eu desejo um ambiente psicologicamente seguro em que elas sejam vistas, ouvidas e valorizadas por serem que são. A inclusão e valorização da mulher negra no mercado de trabalho não é uma pauta social, é acima de tudo uma ferramenta para a transformação e evolução dos negócios.

Raphaella – A gente tem hoje 60 milhões de pessoas que se autodeclararam mulheres negras no Brasil. Esse é o maior grupo demográfico da sociedade brasileira. Então, para mim, é menos sobre o futuro. É sobre o que essas mulheres estão fazendo já há muito tempo, mas mais do que que isso: o que a gente como sociedade vai fazer para que a partir de ontem, de já, do ponto de vista estratégico, a gente coloque essas mulheres no centro de todas as nossas decisões políticas, culturais, sociais corporativas? Porque se a gente movimentar, do ponto de vista estratégico, positivamente a vida de 60 milhões de pessoas, a gente já tá falando sobre um outro desenho melhor de Brasil.

Deh – O que eu mais desejo para as mulheres pretas que estão chegando no mundo corporativo é que seja menos doloroso. Tem uma série de cuidados, de alertas que você encontra e que eu desejo que quem venha depois de mim não tenha. Assim como eu tive situações que quem veio antes de mim passou para que eu estivesse aqui hoje. Aí eu espero que elas encontrem ambientes onde a permanência de uma mulher preta, a produção dela, que a fala de uma mulher preta seja mais normatizada, sabe? Somos revolução então a gente encontra mulher preta sempre referência Quem veio antes que fez um trabalho muito mais difícil do que o meu entende qual a importância que a gente tá fazendo agora para facilitar né o caminhar de quem vem depois para que depois seja fortalecido novas para para novas batalhas né para que a gente acende juntas para que a nossa trajetória seja de sucesso resultado

Tem alguma líder negra que te inspire?

Samantha – A líder negra que tem me inspirado profundamente é Sueli Carneiro. Dentre muitas outras, óbvio, muitas pensadoras desse tempo. Mas não tem nada que tem me feito melhor do que ouvir Sueli Carneiro, pensar Sueli Carneiro, ler Sueli Carneiro. Tem me dado esperança. Engraçado pensar que a gente pensa que esperança é uma coisa do futuro, do que está por vir. E eu olho pra Sueli e penso em tudo o que ela construiu e ainda ali, forte, firme, lúcida, potente. Tem me inspirado a olhar pro presente e imaginar que no futuro nós poderemos olhar pra trás e ver várias jornadas sendo construídas a partir daquelas palavras de Sueli. Então, Sueli, obrigada por tudo. No ontem, no ontem, no agora, obrigada por tudo sempre.

Helena – São várias, cada uma me inspira de uma forma e por um motivo diferente. Não são todas iguais, por isso é difícil fazer uma lista. Mas citaria primeiro minha mãe, que é minha maior referência de excelência profissional, generosidade, resiliência e trabalho. Além dela , minhas amigas: Samantha Almeida, Fabíola Oliveira, Rapha Antônio, a Prof Cida Bento, Sueli Carneiro, Elza Soares…

Mafoane – Raphaella Martins (Meta), Samantha Almeida (Globo), Bel Santos (IBEAC), Marina Silva (Rede e Sustentabilidade), Neuza Poli (Minha mãe).

Raphaella – Esta é a resposta mais difícil, porque eu sempre penso muito no lugar ocupado pela mulher negra e todas as suas interseccionalidades. É um lugar onde você, por estar dentro de todas as piores estatísticas da sociedade, você precisa construir beleza a partir do nada. A partir do nada que lhe é oferecido, você consegue construir uma vida digna, você consegue construir beleza, felicidade, bem viver, amor, afeto. Ainda que este lugar esteja o tempo todo te dizendo que não é o lugar para que você. Que diga que não querem que você exista. Eu não romantizo isso porque a gente não deveria construir a partir do nada, mas acho que isso faz com que cada uma, de um jeito de outro, me motive, me inspire a seguir caminhando.

Deh – Eu me inspiro muito em Ana Paula Ferreira, que é executiva de comunicação da Boeing, minha mentora maravilhosa. Me ensina muito, a quem eu recorro muita das vezes sobre este universo onde nós somos tão poucas, enquanto alta liderança. Ela é mulher incrível que escreveu o discurso Obama quando ele veio ao Brasil, pra vocês entenderem a potência dessa mulher. Cíntia Pessoa, diretora de RH da Publicis, onde estou, também me inspira muito. A gente tem trocado um monte, tem feito muitas coisas juntas, como mulheres pretas a gente fica muito mais forte quando estamos juntas. A gente tá fazendo um movimento muito importante no mercado. Vivi Elias, é outra pessoa com quem sempre troco, Dilma Campos, que esteve aqui quando tudo era mato, Rapha Martins, do Meta…. É muito legal que as mulheres que me inspiram hoje estão ao meu alcance. […] Posso trocar mensagem, pedir conselhos, posso chorar com elas e isso para mim não tem preço. Fazer parte da história viva não tem preço. Para mim, sem dúvida o maior ganho que a gente tem é esse ajuntamento, sabe?

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