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Opinião: Falando de inovação – II

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Opinião: Falando de inovação – II

Conectar é preciso, quase disse Fernando Pessoa quando se referia ao mar, ?que sempre unisse, e jamais separasse?. Os oceanos eram a infovia daqueles tempos. Hoje são as nuvens


2 de julho de 2013 - 8h15

(*) Por Francisco Saboya

A inovação manifesta-se de formas distintas: em novos produtos, novos métodos de produção, novas fontes de recursos, exploração de novos mercados ou em novas maneiras de organização de negócios. Mas o cidadão comum, e mesmo as firmas, elegeram as duas primeiras para simbolizar a introdução do novo na vida cotidiana. Faz sentido. São mais tangíveis. Saciam melhor a nossa curiosidade tátil. Um gadget será sempre mais interessante do que um algoritmo poderoso que roda por trás de um software, também poderoso.

Mas, na perspectiva da economia como um todo, os cinco tipos de inovação referidos se não diferenciam. Daí que o senso comum, que estabeleceu sua própria escala de preferência, já não predomina devido à impossibilidade real de hierarquização de coisas que são igualmente relevantes para as transformações da vida social e econômica.

Cada lugar, no seu tempo histórico, parece ter um ou outro tipo de inovação que lhe caracteriza melhor. A revolução industrial claramente nos legou máquinas e indústrias e fez da Inglaterra a maior potência econômica do globo nos séculos 18 e 19. A extensão desta revolução fica mais evidente se observarmos que, um século antes, os ingleses iniciaram outra, mais lenta e silenciosa, que consistiu na montagem de uma fantástica rede global de logística de comércio. Tratava-se de uma malha que incluía portos, armazéns e entrepostos comerciais para o país­ conectar-se economicamente com o restante do planeta e expandir os seus domínios sobre o mundo conhecido. (Garanto que todos aqui se lembram das aulas de história e do famoso episódio da abertura dos portos brasileiros às nações amigas logo após a chegada da corte portuguesa em 1808. Nações amigas, sim…)

Ainda na primeira metade do século 19, as ferrovias — outra inovação fantástica — representaram o principal motor de expansão do capitalismo. Elas propiciaram a criação de uma vasta rede integrada de indústrias, novas fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores, redesenhando por completo a geografia econômica dos países. Engana-se quem pensa que o Oeste americano foi incorporado à lógica produtiva daquele país por meio das românticas diligências. Não. Foi pelas ferrovias, mesmo.

Observem que já estamos falando aqui de logística de transportes, que é uma inovação bem distinta, quanto ao papel e função na sociedade, de, por exemplo, um aspirador de pó.

No primeiro quarto do século 20, a introdução da linha de montagem gera um novo surto de aumento de produtividade decorrente da padronização dos produtos, da uniformização dos tempos e movimentos das rotinas de fabricação e dos enormes ganhos de escala de produção. Agora, já falamos aqui de tecnologia de processo produtivo, algo que definitivamente ajudou a colocar os Estados Unidos na linha de frente do sistema capitalista desde então.

A partir dos anos 50 do século passado, a crescente integração das inovações no campo das tecnologias da informação, computação, microeletrônica, física de materiais e telecomunicações ajudou a criar o que alguns denominam de sociedade da informação. Países como o Japão e Coreia se destacaram na nova indústria e se tornaram players econômicos relevantes da economia global. Esse processo de convergência tecnológica culmina na internet — fantástica inovação incorporada ao nosso cotidiano há cerca de apenas 20 anos —, rede agora cloud, que vem resignificando diversas indústrias ao mesmo tempo. Eu diria todas, já que todos necessitam se reposicionar perante os novos mercados que insistem em não ser mais como antes. São os mercados agora formados por pessoas digitalmente conectadas por uma infinidade de dispositivos móveis, cada vez mais acessíveis, integrados em redes de capacidades cada vez maiores, seja em velocidade ou volume de dados.

Conectar é preciso, quase disse Fernando Pessoa quando se referia ao mar, “que sempre unisse, e jamais separasse”. Os oceanos eram a infovia daqueles tempos. Hoje são as nuvens. Quem diria que viveríamos para testemunhar uma mudança tão radical — ops, olha ela aí de novo — na semântica de uma das expressões universalmente mais populares, que associa alienação e falta de senso prático ao mundo das nuvens! Os romanos estavam certos, “O tempora, o mores!”

(*) Francisco Saboya é diretor-presidente do Porto Digital. Este artigo está publicado na edição 1566 do Meio & Mensagem, de 1º de julho, nas versões impressa e para tablets, exclusivamente para assinantes. 

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