Renda informal impulsiona consumo das famílias
Neste ano, 16 milhões de lares adotaram uma fonte de renda informal, seja exclusivamente ou como complementação de receita
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Victória Navarro
6 de novembro de 2019 - 11h30
Desencontros políticos e atraso na aprovação da Reforma da Previdência, causados pelo início do governo Bolsonaro; índices de produção industrial, serviços e confiança dos clientes revisados negativamente; e desaceleração global, gerada pela imposição de tarifas à China pelos Estados Unidos, por um tempo, impactaram o consumo das famílias brasileiras, afirma o estudo 360º Consumer View, da empresa de mensuração e de análise de dados Nielsen. No entanto, a população do Brasil conseguiu retomar a compra de produtos que não são básicos, como resultado do aumento do número de pessoas na informalidade como alternativa para gerar renda.
Segundo Patricia Almeida, especialista em entendimento do consumidor da Nielsen Brasil, o País não está crescendo, porém, também não está retraindo. “As agendas política e econômica acabaram não avançando com a velocidade que se imaginava, isso fez com que a recuperação da economia fosse retardada. Mas, o importante na leitura dessas informações, é que chegamos a um dado positivo”, diz.
No Brasil, quatro em cada dez trabalhadores estão na informalidade, seja exclusivamente ou como complementação de renda. Neste ano, 16 milhões de lares adotaram uma fonte de renda informal. Desse número, sete milhões de lares têm pessoas que estão desempregadas e vivem na informalidade e nove milhões têm pessoas que possuem trabalho formal, porém, contam com o informal para complementar a renda. Os trabalhadores informais ganham, em média, 40% a menos do que os formais.
Mais endividado, o brasileiro está com o orçamento comprometido. A maioria do bolso do consumidor (58,9%) é direcionada a categoria de produtos e serviços primários — dívidas, impostos, transporte, saúde, contas do lar, educação e etc. Já 16,3% dos rendimentos vão para categorias secundárias. Já os outros 24,8% são focados em investimentos. “O crescimento para gastos primários está muito atrelado ao impacto no poder de consumo, uma vez que são gastos que o consumidor não pode deixar de ter e, com a redução da renda, a sua participação no orçamento acaba sendo muito maior”, explica Patricia.
Entre os lares sem fonte de renda informal, 54% contam com pessoas empregadas. Essa parte da população é conservadora e, na hora de escolher quais marcas consumir, considera aquelas já conhecidas; o hábito e a tradição familiar; e a variedade de tamanho e de embalagens. Já 9% de lares lares sem fonte de renda informal possuem ao menos um desempregado. Nesse caso, os consumidores gastam menos com festas, funcionários do lar, alimentação fora de casa, investimentos financeiros e saúde; e gastam mais com prestação de imóveis, educação, aluguel e outras dívidas.
Nos lares com fonte de renda informal, 22% contam, por exemplo, com renda adicional — negócio próprio, venda direta ou serviços de entrega –, o que colabora com pagamento das dívidas e gastos supérfluos. Já 16% fazem bicos, ou seja, trabalhos esporádicos e até mesmo serviços de transporte. Para esse segmento, a renda informal não é suficiente — em média, declaram gastar 23% a mais do que ganham — e a lealdade às marcas é menor — são mais abertos à experimentação de novas marcas, com destaque para a categoria de bebidas alcoólicas.
A tendência, de acordo com a especialista em entendimento do consumidor da Nielsen Brasil, é que a informalidade siga crescendo, seja por questões de acesso e tecnologia ou pela agenda de reformas lenta. Com relação ao consumo, a lição é que o consumidor tem mais conhecimento e sua decisão de compra vai além do preço, ela está pautada pelos benefícios. “As compras em atacarejo passam a ser realidade não só entre as classes sociais mais altas, como também entre os mais pobres que passam a conseguir consumir no canal por terem acesso a crédito. A indústria e o varejo precisam estar atentos e se adequar a esse consumo mais consciente, que pensa antes de fazer a compra”, explica.
No geral, de acordo com o estudo 360º Consumer View, 74% dos consumidores escolhem suas marcas via boa relação de qualidade e de preços; e 64%, via baixo preço. Além disso, a população está disposta a pagar mais por produtos e serviços que possuem alto padrão de qualidade (47%), performance superior (46%), oferta de algo exclusivo (41%) e ingredientes 100% naturais (36%). Ademais, com a complementação de renda em alta, os brasileiros elegeram suas maiores preocupações: economia, saúde e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Patricia diz que o mercado precisa entender que o caminho é de um consumo mais consciente, ou seja, não apenas o preço é um determinante de compra, mas sim a qualidade dos produtos. “Isso fica claro quando vemos que o consumidor, depois de anos em modo de redução de consumo, volta a fazer escolhas além do básico porque enxerga vantagens na compra. O brasileiro não está comprando tudo o que vê ou gosta, ele está fazendo escolhas por produtos que tragam mais entregas, mais benefícios”, acrescenta.
*Crédito da foto no topo: Artem Beliaikin/Pexels
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