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Opinião: O pecado da maçã

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Opinião: O pecado da maçã

Com todas as questões envolvendo o iPhone 5, fica a pergunta: será que a inspiração e o arrojo de uma companhia que possui milhares de colaboradores vinham de uma única e solitária fonte?


9 de outubro de 2012 - 1h32

Por Ana Maria Nubié

O iPhone 5, campeão em tamanho e piadinhas, pode ter sido o primeiro mau presságio. Esse lançamento tão distante da grandiosidade da Apple deu a sensação de que todo o conhecimento e inovação da companhia estavam personificados exclusivamente em Steve Jobs, como muita gente alardeava.

Será? Será que toda a inspiração e arrojo de uma companhia que possui milhares de colaboradores e milhões de admiradores vinham de uma única e solitária fonte? É possível um líder ter essa força tão avassaladora e intrínseca a ponto de ela se tornar uma vulnerabilidade? Cheira a mofo e naftalina a ideia de que um ser, apenas uma pessoa, seja depositária absoluta de toda a energia e mágica que movem uma marca ou um projeto.

Não dá para entrar no mérito de quão centralizador ou não era Steve Jobs e o impacto que isso pode ter no futuro da empresa. Mas fica aqui uma charada: como ser e manter-se inovador? Como inspirar a busca sistemática pelo conhecimento numa companhia? O que fazer para contagiar colaboradores de diferentes idades e gerações com a chama interna que move rumo à inventividade, vanguarda e superação? A ausência de Steve Jobs sinaliza que uma andorinha só não faz verão. Se um ícone como ele não garante a perpetuação de uma cultura inovadora, imagine nas demais organizações!

A maçã do conhecimento precisa ser eternamente mordida — por todos. O campo do conhecimento tornou-se tão complexo, abrangente e dinâmico que exige organizações igualmente sofisticadas e ágeis, preparadas para perseguir toda a volatilidade e facetas do mundo contemporâneo. As empresas têm de espelhar essa nova realidade. Não dá mais para esperar, por exemplo, que a academia seja a responsável-mor pela produção de talentos. E nem que um talento ilumine a empresa inteira. Contar com isso é ingenuidade ou comodismo, ou os dois.

Não há faculdade no mundo capaz de preparar completamente para a complexa realidade de hoje. Não basta mais ter técnica, teoria, prática, inteligência emocional ou criatividade. O conhecimento ficou maior do que a soma das habilidades e experiência a que estávamos habituados até recentemente. Ele nos surpreende, se move, avança e dá guinadas absolutamente improváveis.

Não é por outro motivo que alguns campos da ciência decidiram somar forças, trabalhar em conjunto e intercambiar conhecimentos e experiências. Medicina, física e química, para ficar em casos notórios, são áreas que comumente têm extrapolado as próprias fronteiras para chegar a grandes descobertas. Os avanços no estudo da genética são um ícone dessa amplitude: envolvem temas como biologia, ética e política.

As agências também terão de se renovar e sair da sua zona de conforto, mais uma vez. A elas, mais do que nunca, cabe o papel de provocar e ser uma central de ideias “fresquinhas”, transformadoras, inusitadas. Porém, todas as áreas — e não somente a criação — precisam se envolver nessa atmosfera e abraçar esse compromisso. Hoje é dever profissional ser curioso, inquieto, interessado no desconhecido, aberto para o inesperado. O “pulo do gato”, aquela ideia ousada e vencedora que rompe paradigmas e encanta as pessoas, só acontece quando há espaço para muitas tentativas, erros e aprendizado. Ter um insight, afinal, é como garimpar uma pepita de ouro no fundo do rio: até ela surgir, tem muita água e cascalho. Mas só quem mergulha acha.

Ana Maria Nubié é vice-presidente de atendimento e novos negócios da AgênciaClick Isobar. Este texto foi publicado na edição 1530 do Meio & Mensagem, de 08 de outubro.
 

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