Sociedade hiperconectada intensifica medos
FCB, Quantas e Coletivo Tsuru mapearam os principais medos dos brasileiros e novas preocupações motivadas pelo consumo de mídia
FCB, Quantas e Coletivo Tsuru mapearam os principais medos dos brasileiros e novas preocupações motivadas pelo consumo de mídia
Karina Balan Julio
23 de novembro de 2017 - 8h30
Enfrentar algum problema sério com os filhos, perder o emprego, voar de avião ou ser atacado por abelhas: seja qual for o seu maior medo, ele faz parte de construções que acompanham a evolução da humanidade e das tecnologias. As redes sociais e a sociedade hiperconectada na última década, no entanto, são responsáveis por reformular medos que já existem, conforme aponta um novo estudo da FCB.
O estudo “Os Medos que Pairam sobre Nós” foi realizado em agosto deste ano em parceria com os institutos de pesquisa Quantas e Coletivo Tsuru, e identificou que 78% dos brasileiros têm muito medo de fracassar, 54% têm medo do julgamento dos outros e 52% têm medo de falar o que pensam. Tais índices quase se equiparam a medos comuns e socialmente aceitos, como o medo de avião e medo de perder o filho – com 54% e 51% de incidência, respectivamente.
O estudo foi feito em três etapas em todas as regiões do Brasil, com respondentes das classes ABC, com mais de 13 anos: 50 entrevistas presenciais, questionário aberto online com 230 pessoas e mais 2.088 respostas quantitativas online.
O levantamento qualitativo também notou um aumento na incidência de medos relacionados à experiência social e consumo de informação em rede: medo de fracassar, de não ser bem sucedido como pai ou mãe, de não ser feliz ou de mudar de carreira são cada vez mais comuns. Para 23% dos entrevistados, enfrentar algo novo é um medo constante.
O estudo dividiu os medos em blocos. Parte deles são categorizados como fruto da “sociedade de telas” e da sociedade do espetáculo, onde as relações são sempre intermediadas por telas. Pedro Cruz, COO e CCO da FCB Brasil, afirma que esse cenário fomenta o medo da artificialidade, a amplificação das experiências e a pressão pela felicidade.
“As telas e redes sociais nos colocam dentro deste movimento de julgar e ser julgado o tempo todo. As pessoas se divertem, têm medo e ficam ansiosas por causa disso. Esse contexto evidencia nossas inseguranças de um jeito inédito, já que falhar na frente dos outros no ambiente digital é falhar diante de todos, seja dos seus amigos ou da sua avó. Não existem mais fronteiras, e então todo mundo começa a ser forçado a se comportar dentro de um padrão. Estes medos reinventam o que é ser normal”, disse ele durante o evento de lançamento da pesquisa nesta quarta-feira, 22.
A criação de novos parâmetros de normalidade fazem com que coisas simples, como deixar a bateria do celular acabar ou não ter determinado número de interações em uma foto postada se torne uma nova espécie de fobia. No Brasil, país onde a cultura das redes sociais é mais forte do que a média mundial, a linha entre o público e o privado fica ainda mais tênue, segundo o executivo.
Na pesquisa qualitativa, a abundância de informação, disponível o tempo todo, também foi apontada como fator que contribui para o medo do desconhecido, de não ter respiro e de não ter critérios para definir o que é importante na vida. Pedro afirma que a sensação de FOMO (fear of missing out, em inglês) é consequência disso. Também há medos resultantes da queda na credibilidade instituições tradicionais, que deixam os indivíduos sem referências.
Redes sociais: ajudam ou atrapalham?
Ao analisar marcas de bancos, automóveis, telecom, internet e seguros e cuidados pessoais, o estudo constatou que as empresas ligadas à internet, paradoxalmente, são as que mais ajudam consumidores a superar seus medos.
Foram computadas opiniões em relação a Google, Youtube, Twitter, Instagram e Facebook, e a constatação é de que tais plataformas ajudam usuários a celebrar datas importantes, criar oportunidades, entender o que está acontecendo no mundo e a levar a vida com mais leveza e bom humor. Apesar disso, nenhuma delas ajuda as pessoas a se sentir mais protegidas, ter coragem para assumir erros, sentir-se poderoso ou apoiado, segundo o levantamento.
“Nenhuma das plataformas digitais consegue significar algo para pessoas dentro dessas medidas. Pessoas físicas e jurídicas terão que ser mais competentes pra lidar com estes fatores. Cabe às marcas, de maneira geral, um papel importante para ajudar a tirar os medos das pessoas, e neste mundo de ansiedade, elas depositam uma enorme esperança em produtos e serviços”, avalia Pedro.
Foto: Reprodução
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