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Opinião

A saída de Brin e Page do Google e nossas vidas com isso

Seja como for, inegavelmente, de um quarto de Stanford para todo o planeta, esses dois caras transformaram nossas vidas


17 de dezembro de 2019 - 9h50

(Crédito: Getty Images/ Leon Neal)

O afastamento voluntário de Sergei Brin e Larry Page da operação do Google, ou melhor, da holding Alphabet, é o resultado da evolução histórica não só do próprio Google, como também de todas as grandes empresas de tecnologia nestes 23 anos de vida do maior buscador da web de todos os tempos e uma das mais emblemáticas companhias de toda a história.

Desnecessário dizer que, sem o Google, a internet não seria viável como a conhecemos. O Google deu ordem ao caos, num mundo online que atingiria uma complexidade exponencial impossível de ser imaginada então, quando tudo começou, e, há décadas, seria inviável de existir sem a intermediação da busca indexada.

O Google mudou nossas vidas e foram esses dois caras que fizeram isso. Com a ajuda de muita gente, claro, mas foram eles os caras.

Steve Jobs foi o gênio dos aparelhos e criador do conceito, hoje predominante entre as grandes companhias de tecnologia, de plataformas e ecossistemas integrados, que formam a estrutura de toda a nova indústria do século 21. Brin e Page foram os gênios do virtual. Sem o Google, possivelmente, o Facebook e todas as demais redes sociais jamais teriam existido. Sem ele, o que conhecemos como interatividade e conectividade não teriam evoluído como evoluíram e transformado nossas vidas, como transformaram.

Eles seguem atuantes como donos de ações preferenciais com direito a super-votos no conselho do grupo, além de terem sob sua custódia o CEO do Google, Sundar Pichai, que a eles segue tendo de prestar contas.

Mas saem do dia a dia em definitivo (há anos já não estavam mais tão ativos como antes, diga-se).

Resumidamente, a historinha desses dois se inicia quando se conheceram em Stanford em 1995. Em 1996, lançam sua primeira plataforma de busca e indexação dos links da internet, a Pagerank, que continha já as bases do algoritmo genial que daria origem ao Google. Em 2001, o então CEO Larry Page deixa sua cadeira para que fosse ocupada pelo mega executivo Eric Shmidt, que levou a companhia ao IPO de US$ 27 bilhões em 2004. Em 2005, o Google compra o Android (esse passo é o primeiro rumo a uma diferenciação transformadora dos negócios da companhia, explico adiante). Em 2006, compra o YouTube. Em 2008, lança o browser Chrome. Em 2012, lança o Google Glass (um fracasso, mas um marco também definitivo na diferenciação da companhia). E, em 2015, cria, então, a holding Alphabet.

O revolucionário modelo de remuneração publicitária da imensa cauda longa de zilhões de pequenos negócios em todo o mundo, com seu formato de classificados online, o Google Ads, baratinhos mas extremamente eficientes, transformou a forma de monetização do mundo digital e, ao longo dos anos, de todo o marketing e da propaganda globais.

Android e Google Glass não foram mais iniciativas de negócios e de tecnologia ligados diretamente ao coração do negócio do Google. Foram os primeiros e incertos passos do grupo em direção à sua transformação — como várias das grandes techs hoje — em um emaranhado de novas atividades e uma aranha sem fim de inovação e tecnologia nos mais diferentes ramos de negócios.

Alphabet surge para fazer caber e administrar novidades tão diversas como self-driving cars e flying cars, experimentos avançados de inteligência artificial e computação quântica, passando por smartphones, cloud computing e internet por fibra ótica.

Esse roteiro que é, na verdade, o roteiro de evolução e desenvolvimento de parte relevante da ciência e da tecnologia contemporâneas, se deu de forma acelerada nos últimos cinco anos. Não sem efeitos colaterais.

Nem Google (nem, certamente, seus criadores) nem nenhum dos gigantes tech do mundo estavam preparados para tanta diferenciação e complexidade. Muito menos ainda para tanto poder de transformação concentrado em tão poucas mãos.

A influência dessas companhias, Google incluso, no cotidiano das sociedades modernas, trouxe junto também uma capacidade de interferência na vida de cada um de nós que se provou avassaladora. No pacote, vieram os impactos não só nos mercados e negócios de todo o capitalismo ocidental, como nas sociedades e nas estruturas políticas e econômicas que gerem essas mesmas sociedades.

Não vou me ater aqui aos já conhecidos e publicamente debatidos casos de interveniência dessas gigantes estruturas no âmbito da cidadania, privacidade e governança social coletiva. Além das recentemente recorrentes denúncias sobre diferentes tipos de escorregadas nos mais variados âmbitos das liberdades de comportamento de seus colaboradores. Esses são os lados ruins e tristes dessa companhia de um trilhão de dólares que, um dia, teve como slogan “Don´t be evil”.

Seja como for, inegavelmente, de um quarto de Stanford para todo o planeta, esses dois caras transformaram nossas vidas. Sem fechar os olhos a todo o “evil” dessa história, na minha conta muito particular e pessoal, prefiro ser grato a eles pelo que de bom nos trouxeram.

Diabos temos que exorcizá-los.

*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels

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