O homem é a mensagem
É chegada a hora de um novo PR, human to human, que engaja marcas e consumidores através do personal branding
É chegada a hora de um novo PR, human to human, que engaja marcas e consumidores através do personal branding
“Social Media é qualquer plataforma ou rede de relacionamento na internet que facilita conversas entre pessoas”. A definição do analista e futurista Brian Solis sobre as redes sociais não poderia ser mais simples e assertiva. No final do dia, conectar pessoas e derrubar fronteiras geográficas foi a grande disrupção que permitiu criar a tal aldeia global conceituada pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan.
Ao fazer login no Facebook, LinkedIn ou Instagram, o que buscamos é aproximar nossa “persona digital” de outros perfis com os quais temos afinidade pessoal ou profissional. É ali, na nossa timeline, com likes, comentários e compartilhamentos, que influenciamos, somos influenciados e praticamos uma comunicação human to human, conceito de marketing que nasceu com o propósito de humanizar as marcas e torná-las mais próximas da vida real dos consumidores ao invés de idealizar que todos somos como atores das famílias dos comerciais de margarina.
“Pessoas agora são marcas e marcas agora são pessoas”. Mais uma vez certeiro em sua análise, Solis sacramenta o que entendo ser o mote de um novo PR, o PR H2H, que engaja marcas e consumidores através do personal branding, fortalecendo marcas pessoais para criar uma legião de admiradores, uma “love brand” desejada a partir da personificação em um ídolo, um pop star no mundo dos negócios.
Na minha trajetória de quase 30 anos como um jornalista com alma de RP, tive a oportunidade de vivenciar uma experiência inesquecível que me fez entender o quanto um nome forte e respeitado pode ser definitivo na construção de uma marca. O episódio se passou quando tive a satisfação de assessorar a Apple e testemunhar em São Francisco, há exatos dez anos, a apresentação do MacBook Air.
Em suas raras aparições, como fazia todos os anos na MacWorld, Steve Jobs estava lá, com seu inconfundível look pretinho básico, deixando boquiabertos, ao tirar o novo finíssimo laptop da maçã de dentro de um envelope, uma legião de fãs que formaram filas intermináveis durante horas para ver de perto seu grande ídolo, um ícone que não apenas conseguiu construir uma marca; ele criou uma “religião” com milhões de “applemaníacos” fiéis (a ponto de mantê-la viva mesmo após sua morte, derrubando a teoria de que a empresa não suportaria sua partida).
Seria exagero dizer que foi a marca pessoal de Jobs que levou a Apple a ser a primeira a romper a barreira de US$ 1 trilhão em valor de mercado?
Curioso para confirmar essa tese sobre o impacto do personal branding na comunicação das marcas, fiz um rápido exercício no LinkedIn comparando os perfis de CEOs com as páginas de suas empresas. Entre os empresários brasileiros mais influentes na rede,o resultado que apurei acende um sinal de alerta aos profissionais de PR do quanto é importante cuidar da marca pessoal de seus clientes.
O campeão de audiência Ricardo Amorim arregimentou uma comunidade de mais de 1,1 milhão de pessoas, enquanto sua empresa com maior número de seguidores é a AAA Inovação, com 2.330 seguidores, seguida pela Ricam Consultoria Empresarial, com 771. Romero Rodrigues, que se tornou um dos empreendedores de tecnologia mais admirados do País com a criação do Buscapé, está quase batendo 350 mil seguidores, enquanto a empresa que fundou reúne 29,3 mil. O empresário Gustavo Caetano é seguido por 385 mil pessoas e sua cria Samba Tech tem 21,5 mil. Sofia Esteves está conectada com perto de 548 mil perfis e sua empresa, o Grupo Cia de Talentos, contabiliza 76,4 mil. No universo do marketing um dos mais seguidos é Nizan Guanaes, com 239 mil pessoas, enquanto o Grupo ABC soma 14,6 mil.
São números modestos se comparados, somente para citar dois lá de fora, os empresários Bill Gates que, pasmem, tem mais de 17,4 milhões de fãs enquanto a Microsoft soma 5,6 milhões, e Richard Branson, com mais de 14,6 milhões de seguidores versus 131,7 mil da Virgin Atlantic Airways.
Antes das redes sociais, os meios de comunicação e relacionamento das marcas com os consumidores estavam restritos aos SACs. Hoje, qualquer um de nós pode interagir com um destes empresários ao dar like ou comentar um post ou artigo publicado por eles. Agora, o CEO e outros executivos com trajetórias profissionais respeitadas podem assumir o papel de um canal direto com a marca, permitindo que transmitam suas mensagens, sem intermediários, aos seus seguidores-consumidores.
Neste novo PR, muito mais do que somente inundar as redações de press releases, o caminho está em saber construir boas histórias narradas pelos próprios líderes das organizações. Um bom “storyteller” conseguirá construir as credenciais necessárias para conquistar os corações e mentes de seus seguidores, o que, tenham certeza, ajudará na geração de leads e novas oportunidades de negócios.
Então anote aí. Em tempos de mídias sociais, a comunicação corporativa tradicional, centrada apenas na divulgação do seu negócio de forma impessoal, já não faz mais sentido. Nunca é tarde para começar. Abra-se ao diálogo, seja um embaixador da sua marca sem perder sua autenticidade e construa admiração para seu negócio a partir da sua marca pessoal. Coloque sua alma na sua empresa e crie elos emocionais com seus clientes. Se quer vender, catequise.
Claro que não recomendo dispensar suas outras estratégias de marketing e PR, mas sugiro começar ontem a investir na sua persona digital. Garanto que ao se tornar referência em seu mercado, mais e mais negócios irão pipocar na sua timeline. McLuhan conceituou muito bem que “O Meio é a Mensagem”. Após as redes sociais, me arrisco sem medo a dizer, preste muita atenção nisso, que “O Homem é a Mensagem”.
*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels
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