O LinkedIn não é lugar para isso
Plataforma, na qual se fala tanto sobre ESG, restringe o debate sobre questões sociopolíticas
Plataforma, na qual se fala tanto sobre ESG, restringe o debate sobre questões sociopolíticas
Domingo passado, motivado pelo senso democrático da indignação, realizei uma publicação no LinkedIn listando 10 verdades sobre o atentado terrorista em Brasília feito pela horda bolsonarista. No texto trouxe algumas informações sobre: a natureza do ataque, as condições que permitiram que ele acontecesse, os motivos pelos quais ele até certo ponto prosperou, fiz um paralelo com o Capitólio, racializei o debate, apontei o líder e a quadrilha e finalizei clamando pela preservação da democracia
Isso foi o suficiente para que os ataques, outrora sofridos pelo Congresso Nacional, Planalto e STF se voltassem a mim. Uma chuva tóxica bolsonaristas direcionou toda a frustração do fracasso – primeiro da derrota nas eleições, depois pela falha na tentativa de golpe – em forma de ódio gratuito.
Eu tenho sido, e não é de hoje, vítima de frequentes ataques racistas por parte de pessoas que não conseguem entender o avanço das questões raciais – ou, para ficar na linguagem LinkedIniana, das questões relacionadas a ESG. Meus posts costumam exaltar feitos de pessoas negras de forma que provoquem o pensamento crítico nas pessoas. Em todas as pessoas. Quando posto um reconhecimento me valendo de expressões como “tinha que ser preto mesmo, só podia ser preto” (expressões que na nossa sociedade servem para menosprezar e exprimir racismo), logo um coletivo de “cidadãos de bem” (por acaso brancos) começam a me atacar, valendo-se de retóricas como a do racismo reverso (que nem existe), tentando de alguma forma menosprezar, quando não minimizar, os feitos das pessoas. Ora, é importante que numa sociedade racista, frases racistas sejam ressignificadas, quando não anuladas.
Voltando ao domingo 8 de janeiro, pude perceber é o ódio gratuito, o ressentimento e a inveja e uma forma equivocada da plataforma (LinkedIn) em tratar certas informações. Continuo sendo atacado, achincalhado como defensor da democracia, e ainda recebo por parte da plataforma informações de que minhas respostas a comentários foram apagadas por violar seus “padrões morais”. Ao defender a democracia, sou eu o acusado de violar as regras, dinâmica similar à do racismo, em que a vítima é sempre criminalizada e precisa provar que foi ofendida.
Outro ponto diz respeito aos métodos usados pelo LinkedIn ao tratar o assunto. Quando tentei recorrer da decisão da plataforma, utilizando um link que ela mesmo forneceu por e-mail, fui direcionado a uma página em inglês que não me ajudou em absolutamente nada. Num país onde menos de 5,6% da população têm fluência na língua, este não deveria ser o tratamento padrão de uma plataforma da abrangência do LinkedIn, que tem no Brasil um dos seus principais mercados. Eu realmente gostaria de saber quais são os critérios utilizados pela plataforma para considerar um comentário como violador de sua política. Alguém avaliou isso? Ou terá sido trabalho de um software?
Por fim, não me parece correto o argumento – que leio frequentemente -, de que o LinkedIn não deveria ser “lugar para isso” – leia-se debater questões políticas – feito por pessoas assumidamente antidemocratas que flertam com o desejo de um golpe de Estado, supremacistas brancos (muito embora os supremacistas norte-americanos não considerem os supremacistas brasileiros como brancos), pessoas que destilam, sem pudor nenhum, ódio à democracia, ao diálogo, ao respeito às regras do jogo democrático. Pessoas que são profissionais funcionários de algumas das melhores empresas do Brasil e que, nesta mesma plataforma, se posicionam como empresas ESG. Como pessoas dessa natureza conseguem espaço em empresas que dizem ter compromisso com o social, o ambiental, a governança e com a Democracia?
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