Re-evolução artificial
Ainda que a tecnologia possa funcionar como “co-piloto” e memória expandida, é preciso cuidado com o risco da acomodação intelectual
Ainda que a tecnologia possa funcionar como “co-piloto” e memória expandida, é preciso cuidado com o risco da acomodação intelectual
O que a Revolução Industrial, o advento da internet e o boom da inteligência artificial têm em comum é que os três representam pontos de inflexão na história, marcados por avanços tecnológicos que alteraram a forma como vivemos e trabalhamos. No primeiro caso, houve um êxodo rural rumo às cidades e um grande contingente de trabalhadores para atuar nas fábricas. No segundo, a conectividade transformou o mundo em uma aldeia global. E por fim, no último, estamos vivendo uma transmutação na forma como lidamos e processamos os dados, em um outro nível de automatização das máquinas e tarefas. Outro ponto comum entre esses três marcos é que todos vieram acompanhados de ceticismo e receio.
Desde que OpenAI anunciou o lançamento do Chat GPT, os debates sobre os impactos da inteligência artificial foram os mais variados, de tons mais otimistas aos trágicos e sensacionalistas. Ali no meio do caminho, residiam aqueles que olhavam com uma certa curiosidade, sobriedade e pensamento crítico – uma característica que nenhuma máquina ainda é capaz de superar um ser humano.
O conceito de co-piloto e de memória expandida ainda me parecem ainda os que melhor definem o que seria um bom uso destas ferramentas, que coexistem com a capacidade humana de usar a criatividade, tomar decisões, resolver problemas, raciocinar e fazer escolhas, muitas vezes imbuídas por sentimentos que mudam dependendo do contexto. Isso nenhuma máquina ou software ainda pode fazer. E não menos importante, saber perguntar, o que se aplica totalmente ao conceito de fazer bons prompts, essencial para um o funcionamento adequado de qualquer IA.
Nessa esteira, uma questão que se coloca é o risco de acomodação intelectual das pessoas. Para isso, o remédio é nos cercar de boa curadoria e aplicar cada vez mais o senso crítico. Por exemplo, há quem acredite na automatização, via inteligência artificial, da produção de conteúdo. Hoje nas redes já nos deparamos com uma profusão de bots e robôs, que contribuem para uma produção pasteurizada, que serve aos algoritmos. Isso contribui para a criação das bolhas e do universo de “iguais”, que carrega consigo os vieses da confirmação, um tremendo risco para o pensamento crítico. Porém, isso contribui para que o conteúdo humano seja cada vez mais valorizado. Neste cenário, como profissionais de comunicação, precisamos atuar como curadores e consultores daquilo que consumimos e produzimos. Somente assim, estaremos prontos para a guerra pela relevância que se aproxima, quer aceitemos ou não.
Existe outro temor que é a substituição de pessoas pela IA, gerando desemprego em massa. Esse medo também aconteceu durante a Revolução Industrial, quando houve um fluxo intenso de ocupação das cidades – e muitos temiam que esses movimentos levariam ao caos. Não precisamos ir tão longe. Nos anos 1990, com o advento da internet e sua democratização, esse mesmo pensamento se proliferou. A tecnologia, de fato, sempre vai automatizar muitas atividades e serviços, mas também pode gerar novas oportunidades. Veja por exemplo, uma operação de um drone militar, emprega mais profissionais do que em um avião pilotado por seres humanos. Em toda a revolução tecnológica, há este descompasso e necessidade de novos aprendizados. O risco é qualificar as pessoas a tempo. E o mercado não espera. De acordo com pesquisa da Deloitte, os investimentos em IA Generativa vão crescer 30% neste ano.
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