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Opinião

Você sabe o que é Iranduba?

Mais do que uma cidadezinha de 40 mil pessoas às margens do Solimões, Iranduba é um time que colocou o Amazonas no cenário do futebol nacional – mas quase ninguém está ligando para isso


12 de setembro de 2017 - 8h44

Em julho, o Iranduba levou mais de 25 mil pessoas para a Arena da Amazônia, o maior público de todos os tempos do futebol feminino entre clubes do Brasil (crédito: Bruno Kelly/AllSports)

Na semana passada, nuestros hermanos argentinos, uruguaios e paraguaios colocaram na rua a candidatura-tripla para sediar a Copa do Mundo de 2030 (!). Serve para nos lembrar que faz pouco mais de três anos que o mundial passou por aqui, deixando um rastro de obras inacabadas e esqueletos de concreto abandonados, revelando um mar de dinheiro público jogado no lixo – e em malas de propinas em apartamentos fechados.

Além disso, a alcunha de elefante branco já estava abraçada por pelo menos quatro dos estádios construídos para a Copa do Mundo: Arena da Amazônia (Manaus), Arena das Dunas (Natal), Arena Pantanal (Cuiabá) e Estádio Mané Garrincha (Brasília) não possuíam um campeonato de futebol forte o suficiente para levar torcedores a encher as arquibancadas dos seus estádios, recém-inaugurados.

Tá, mas o que Iranduba tem a ver com isso? É que num desses locais a coisa pode mudar, em breve, por causa do simpático Esporte Clube Iranduba da Amazônia, da bucólica cidadezinha de 40 mil pessoas às margens do Solimões. O Hulk da Amazônia, como é conhecido, bateu seguidos recordes de público no campeonato brasileiro de futebol feminino deste ano.

Rua da cidade enfeitada com faixas do time (crédito: divulgação)

Em julho, o Iranduba levou mais de 25 mil pessoas para a Arena da Amazônia, o maior público de todos os tempos do futebol feminino entre clubes do Brasil, na semifinal do Campeonato Brasileiro, contra o Santos. Mas as meninas do Hulk já estavam acostumadas com bons públicos: contra o Flamengo, nas quartas de final do torneio, foram 17 mil pagantes (ah, e nada de ingressos gratuitos: eles custaram R$ 20). Em 2016, na partida contra o Adeco (SP), pela final da Liga Nacional de Futebol Feminino Sub-20, o público pagante havia sido de 17 mil pessoas. Segundo levantamento do Globo Esporte, o Iranduba foi responsável por quase 80% do público da Arena da Amazônia em 2017.

Time tem orçamento mensal de R$ 60 mil (crédito: Bruno Kelly/AllSports)

E estão aí duas coisas que quase não aparecem aqui na imprensa “sulista”: sucessos da Região Norte e futebol feminino. O orçamento mensal do Iranduba com todas as suas atletas chega a R$ 60 mil – menos do que o salário do VP de criação aí da sua agência. Parece pouco, mas é o terceiro maior do Brasil, atrás apenas de Santos e Corinthians (não por acaso, os finalistas do Brasileirão deste ano, vencido pelo alvinegro praiano, que eliminou o Iranduba nas semifinais). O sucesso não é só no campo: o time chegou à final Copa do Brasil de futsal feminino. Será que seu cliente aí não teria interesse em ajudar as meninas?

Já falando do futebol feminino… finalmente parece que a modalidade ganhará um pouco mais de relevância no cenário midiático nacional. Mesmo depois de tantos resultados relevantes – vice na Copa do Mundo em 2007, duas medalhas de prata (em Atenas 2004 e Pequim 2008), o esporte permanece marginalizado, tanto entre os torcedores quanto na mídia.

Mas uma coisa tem feito os clubes virarem a chavinha: a partir de 2019, os times brasileiros que não possuírem equipes femininas não poderão disputar a edição masculina Taça Libertadores da América, torneio mais importante do continente. Neste ano, o Brasileirão Feminino Caixa contou com duas divisões e 32 equipes – ainda com a maioria dos estádios vazios, mas com a expectativa de novos horizontes em 2018. É esperar (e torcer) para ver.

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