Opinião
Web Summit: seis palavras-chave para um mundo em construção
O evento levou ao público toda a demanda por adaptação e mudança no comportamento das pessoas
Web Summit: seis palavras-chave para um mundo em construção
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8 de dezembro de 2020 - 16h07
As mudanças que todos nós vivemos durante o ano de 2020 transformaram os comportamentos humanos: estamos mais digitais, passamos mais tempo conectados, assimilamos cada vez mais a tecnologia em nossas vidas e, não menos importante, reinventamos as relações com o trabalho e com as empresas.
O Web Summit de 2020, realizado online por conta da pandemia, levou ao público toda essa demanda por adaptação e mudança no comportamento das pessoas, com muitos painéis e roundtables dedicados a mostrar como se mover de agora em diante por esse mundo em construção, passando por educação, criatividade, a relação com a tecnologia e, claro, o mundo digital e a comunicação.
Para quem acompanhou de perto os debates, é possível testemunhar como a crise nos fez repensar o que é essencial, e nos fez revisitar a empatia. Estamos questionando valores e atitudes, demandando clareza e transparência nas relações, e mais atentos às questões de diversidade, desigualdade, inclusão, sustentabilidade e mudanças climáticas. Ou seja, tudo aquilo que envolva mudança por um mundo melhor e que tenha a tecnologia como aliada no processo.
A partir do que chamamos de 6R’s para um mundo em construção, listamos o que vivenciamos durante o evento, especialmente diante de como a pandemia escancarou a desigualdade e como as diferenças no mundo estão gerando a demanda de que empresas e iniciativa privada sejam protagonistas das mudanças que precisamos ver daqui para frente:
Redefinir
Talvez tenha sido a palavra mais defendida ao longo da programação do Web Summit 2020. Quanto à tecnologia, a necessidade de dar um grande reset se refere à forma como as soluções estão sendo criadas. Para fazer a tecnologia ser sempre algo benéfico, é preciso pensá-la sob a ótica do acesso e da democratização e evitar práticas nocivas a usuários, como no exemplo de big techs e da relação dos serviços que prestam com privacidade de dados, moderação de discurso de ódio e preconceito.
Além disso, há uma necessidade de se encontrar novas formas para realizar atividades que dão sentido à vida humana, o que por sua vez resulta em mudanças nas relações no trabalho. Essa alteração está acontecendo pela inserção cada vez maior da tecnologia em nossas vidas, fazendo com que entremos de vez na era do e-comportamento.
Recuperar
Como em todo cenário de mudança, a real dimensão daquilo que foi perdido só se identifica quando as perspectivas para o recomeço são claras. A pandemia escancarou o fato de que vivemos uma realidade que é, curiosamente, igual e diferente para todos, tudo ao mesmo tempo.
A tecnologia deve ser empregada com o princípio básico de recuperar as relações humanas a partir da conectividade. Entretanto, ainda está claro que, enquanto não pensarmos a tecnologia sob o prisma de um acesso democratizado, as desigualdades sociais tendem a ser mais reforçadas. É preciso recuperar o ideal de igualdade e aplicá-lo também ao universo digital.
Reestruturar
O bom uso da tecnologia depende de a sociedade pensar em um conjunto de regras que nos guiarão para um novo mundo, gerando demandas para os governantes, órgãos regulatórios e todas as empresas de todos os segmentos.
Neste contexto, a questão regulatória ganha grande importância. Um exemplo de debate sobre este tema é a proposta de uma reestruturação com base em leis claras e que garantam transparência e comportamento ético por parte das empresas, fazendo com que tenhamos o comprometimento de todos em mitigar vieses e excluir as desigualdades trazidas pelos dados e que consequentemente alimentam os sistemas que utilizam inteligência artificial.
Para isso, é necessário ter consciência sobre o que os dados podem conter e definir uma estratégia para estruturar as mesmas informações, mas excluindo possíveis vieses. Ainda não existe um padrão para isso: por ora, cada empresa deve tentar identificar o problema e montar sua própria estratégia.
Reconfigurar
Para se implementar soluções em empresas, é preciso valorizar o trabalho em ecossistemas de colaboração e estratégia, o que leva, muitas vezes, a uma alteração em modelos de tomada de decisão, de cálculo sobre retorno financeiro e de alocação de recursos.
Trabalhar em ecossistema implica uma nova configuração para quem alia tecnologia e comunicação: significa abandonar silos de produção e conseguir a colaboração entre as pessoas envolvidas em projetos, fazendo-as definir quais são as prioridades comuns e compartilhadas por todos. Há uma demanda por uma nova configuração cultural nas empresas. Na prática, isso significa fragmentar estratégias em fases e testá-las a todo mundo, valendo-se dos consumidores para novos cálculos de rota.
Resiliência
A criatividade é uma nova definição de resiliência em tempos pandêmicos. Essa habilidade nos faz enxergar a crise pela perspectiva da solução, da inovação e da descoberta de oportunidades de evolução pessoal e nos negócios.
Daí advém a importância, por exemplo, de aplicativos de meditação, exercícios e online learning, que possibilitam a continuidade de atividades que são essenciais para a manutenção da saúde mental. Esta, por sua vez, leva à criatividade no trabalho e nas relações humanas permeadas pela tecnologia. Criatividade é um ativo importante para o crescimento de qualquer negócio e é sempre bom lembrar: todos podemos ser criativos.
Recomeço
Quanto a esta ideia, o Web Summit reforçou em nós a importância de se botar o humano no centro de todas as soluções que envolvam tecnologia. As ferramentas e os processos precisam ser concebidos à imagem e semelhança das pessoas, sendo utilizados para atender necessidades verdadeiras e servir para tornar o mundo um lugar mais sustentável e equilibrado para se viver.
O recomeço passa por novas práticas mais inclusivas de organização e gestão de dados, a criação de negócios que envolvam inovação e que estejam em sintonia com as agendas sociais e políticas do mundo — desde mudanças climáticas até a humanização da tecnologia e a promoção dos direitos civis no universo online — e por uma nova educação das pessoas, e que considere algo que é fato: a tecnologia é parte da revolução humana.
*Clarissa da Rosa e Rachel Frota são fundadoras da Muta Ecossistema.
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