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SXSW

Esther Perel bate fundo no confronto da tecnologia com a interação humana

Fui impactado pela palestra de Esther Perel, porque aborda o tema do distanciamento das relações humanas, e isso é uma questão importante para mim e espero que para você também


12 de março de 2023 - 9h31

Esther Perel SXSW 2023

Crédito: Amanda Schnaider

Hoje foi outro dia intenso. Estive em algumas das principais palestras do SXSW, como a de Amy Webb – que foi ótima, mas fui impactado pela palestra de Esther Perel, (A outra IA: o surgimento da intimidade artificial e o que isso significa para nós), porque aborda o tema do distanciamento das relações humanas, e isso é uma questão importante para mim e espero que para você também.

Eu sou um amante da tecnologia. Viajo o mundo atrás de novidades que possam me ajudar a entender as alternativas que vão surgindo em diferentes áreas. Há quase uma década estive envolvido no desenvolvimento de um aplicativo capaz de mensurar a presença do usuário nas redes sociais. Foi assim, como desenvolvedor, que mergulhei de cabeça em um universo de intensa transformação e descobertas: o universo da Inteligência Artificial que tem a capacidade de absorver a atenção.

Anos depois fui apresentado a uma nova categoria de dados que, transformados em insights criativos, impactam o desempenho de campanhas digitais de maneira surpreendente. A IA, que está no comando de alguns dos principais equipamentos de nossas casas, se tornaria ponto focal do meu trabalho.

Estou literalmente mergulhado na IA desde o momento em que acordo com o despertar da minha assistente virtual. Mas nunca deixei que esse envolvimento ocupasse o espaço e, sobretudo, a importância das relações humanas em minha vida. Daí meu interesse pela palestra de Esther Perel, psicoterapeuta, autora de livros e podcaster, que falou de que forma essas fontes de tecnologia impactam a nossa saúde e nosso equilíbrio mental.

Perel sustenta que o intenso envolvimento com a tecnologia, através de devices digitais que fazem a IA estar presente full time em nosso dia a dia, tende a interferir nas expectativas das nossas relações com outros seres humanos, já que a intimidade passa a importar pouco. Em minhas palestras costumo dizer que os smartphones se tornaram protagonistas em todos os ambientes. Que se no passado a pessoa estava em casa assistindo tevê e por vezes dava uma checada nas mensagens do celular, hoje esse papel se inverteu. As pessoas estão olhando o smartphone e dão rápidas checadas no programa da tevê. Isso por que só um dos dois tem uma IA ativa e suporta a interação do deslizar de um dedo que faz um scroll diário de 300 metros recusando ou aceitando o que surgiu na tela.

Perel provocou a audiência ao comentar sobre isso com um viés social de interação humana, numa cena comum que vivemos em nossas casas. “Você passa o dia na frente de um computador. Quando chega em casa não tem energia para mais nada, apenas para ver tevê. Moto-contínuo, vai olhar ao mesmo tempo para o smartphone. Para piorar, você olha para quem está ao seu lado e vê que a pessoa está fazendo exatamente a mesma coisa. Claro que a partir disso, não é difícil entender porque as pessoas estão fazendo menos sexo”, conclui. Mas essa falta de interação não se restringe aos familiares, ela retrata a incapacidade de se vivenciar uma situação ou um relacionamento que dependa de comunicação linear com uma pessoa próxima, seja do trabalho, de casa, dos estudos, de um relacionamento amoroso. É assim que a conexão via mensageria substitui o diálogo pessoal no que ela chama de intimidade artificial.

Perel dá exemplo da falta que faz essa interação humana: “Muitas vezes ligamos para uma pessoa para contar nossos segredos mais íntimos, expor a nossa vulnerabilidade, e a pessoa interage com respostas monossilábicas. É quando você constata que ela não prestava atenção em nada do que foi dito”, assim a tecnologia altera as relações humanas e afeta a saúde mental de muita gente. O problema é que esse distanciamento do contato humano está disfarçado por uma super conectividade, que é a solidão moderna. Já está provado que a mega exposição à conexão online interfere de maneira intensa nas habilidades sociais de homens, assim como geram ansiedade e depressão em mulheres.

O problema é que uma hora podemos precisar do apoio de um amigo e vamos ligar para ele, mas ele não poderá atender porque estará trocando mensagens em algum aplicativo de relacionamento ou tentando conquistar curtidas em suas postagens nas redes sociais. Nesse momento teremos de recorrer aos contatos virtuais. “Quando só a tecnologia puder nos consolar, será sinal de que a humanidade adoeceu”, afirma.

Não vamos deixar isso acontecer.

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