50 Power
Quantas vice-presidentes, diretoras ou gerentes de meia idade, na fase da menopausa, você enxerga na empresa em que trabalha ou nas organizações com as quais se relaciona?
Quantas vice-presidentes, diretoras ou gerentes de meia idade, na fase da menopausa, você enxerga na empresa em que trabalha ou nas organizações com as quais se relaciona?
6 de abril de 2022 - 8h18
O mercado de trabalho é um ambiente estranho. Pense em quantas mulheres na faixa dos 50 anos você enxerga em posições de destaque nas grandes empresas. Não estou falando especificamente do cargo do CEO, representado quase sempre por uma figura masculina, não raro com uma charmosa cabeleira grisalha ou com os primeiros sinais de calvície. Quantas vice-presidentes, diretoras ou gerentes de meia idade, na fase da menopausa, você enxerga na empresa em que trabalha ou nas organizações com as quais se relaciona?
É isso. Mulheres mais velhas são quase invisíveis no mundo corporativo – um quadro que piora significativamente em áreas como marketing e tecnologia. Isso não é um acaso. O etarismo é um preconceito que avança na medida em que a população global envelhece. No caso das mulheres, essa aversão é potencializada. Em parte por puro sexismo – o valor dado ao gênero feminino ainda está diretamente ligado a determinados padrões de beleza e de juventude. A moeda social da mulher desvaloriza conforme ela envelhece.
Mas mulheres de 40, 50, 60 anos são expulsas do mercado de trabalho também – e talvez, principalmente – pelo fato de que é nessas faixas de idade que elas atingem o ápice da confiança em si próprias. Nesta fase da vida, para a maior parte daquelas que optaram pela maternidade, os filhos já conquistaram certa autonomia. E, de uma forma geral, deixamos de nos preocupar tanto com o que os outros pensam a nosso respeito. É uma fase libertadora para quem teve o privilégio de construir uma carreira. É o tempo em que se descobre qual seu real valor.
Pode parecer paradoxal, mas é justamente aí que mora o problema. Organizações acostumadas a lidar com mulheres mansas e que se sentem na obrigação de sempre agradar alguém não toleram bem a mudança de padrão de comportamento que a maturidade traz.
Os 50 anos costumam ser o ápice para muitos profissionais homens, para os quais a idade torna-se sinônimo de experiência, decisões sábias e confiança. Para as mulheres, os anos de vida e de vivência são muitas vezes encarados como uma fragilidade. É cruel. Como qualquer preconceito, é também um enorme desperdício de conhecimento, diversidade e talento.
O mundo, felizmente, está envelhecendo. Pessoas com mais de 65 anos foram a faixa etária que mais cresce e deve dobrar de tamanho até 2050. Nos Estados Unidos, a atividade econômica direta e indireta relacionada a pessoas com mais de 50 anos corresponde a 8,3 trilhões de dólares, o que representaria o terceiro maior PIB do planeta. Mulheres nessa faixa de idade estão cada vez mais saudáveis, conectadas, ativas e inovadoras. Formam um mercado gigante.
Mas o papel de consumidoras não basta. Mulheres como eu não deveriam se conformar com o fato de estarem alijadas do processo de criação dos produtos, serviços e informação que consomem. Não deveriam simplesmente apenas seguir as tendências que outros criam. É preciso ter noção do nosso real valor para participar das decisões.
Estamos no auge de nossas vidas. Formamos um mercado gigantesco. Acumulamos experiência. Estamos saudáveis, ativas e confiantes. Olhamos para a frente e não para trás. De certa forma, somos o futuro. O que estamos fazendo fora do mercado de trabalho?
É mais do que hora do mundo corporativo entender qual é o nosso lugar – dentro e não fora das organizações. Liderando e não seguindo. É isso ou perder a nave da história.
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