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A pluralidade das mães com deficiência no mercado de trabalho

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Opinião

A pluralidade das mães com deficiência no mercado de trabalho

Empresas comprometidas com a inclusão de verdade precisam criar estruturas que reconheçam e valorizem todas as formas de maternidade


29 de maio de 2025 - 10h08

(Crédito: Shutterstock)

Ainda que o Dia das Mães tenha passado, o mês de maio é todo de comemoração desta data. O mercado costuma se encher de campanhas emocionantes em homenagem às mães, que não se limitam a apenas um dia. O que era para ser um dia tornou-se o mês das mães. Mas, por trás das flores, bombons, descontos e homenagens nas redes sociais, existe uma pergunta que ainda poucas empresas estão dispostas a fazer com seriedade: como as mães estão sendo vistas como profissionais e quais delas permanecem invisíveis? 

Quando falamos de maternidade no ambiente corporativo, é fundamental ampliar essa conversa para incluir também as mães com deficiência. Essas mulheres existem, trabalham, criam seus filhos e enfrentam desafios únicos todos os dias. Ainda assim, permanecem à margem das estratégias de diversidade e inclusão da maioria das organizações. 

A verdade é que, quando uma mulher com deficiência se torna mãe, ela passa a ser duplamente subestimada. O mercado tende a enxergar apenas sua deficiência, apagando seus talentos, sua maternidade. Ou, então, coloca sua condição de mãe e de mulher com deficiência como obstáculo à produtividade, sem reconhecer as competências ampliadas que essa vivência traz: mais habilidade para a gestão do tempo, empatia, criatividade, resiliência, liderança, gestão de crise. 

Mas há ainda outro ponto raramente abordado: e quando a mulher com deficiência escolhe não ser mãe? Essa decisão, muitas vezes atravessada por julgamentos e suposições capacitistas — como a ideia de que sua vida já seria “incompleta” ou “limitada demais” —, precisa ser igualmente respeitada e acolhida pelas empresas. 

O direito de não ser mãe também precisa ser reconhecido. Mulheres com deficiência são frequentemente infantilizadas ou tratadas como eternas dependentes. Quando afirmam que não desejam ter filhos, muitas enfrentam olhares de julgamento ou tentativas de convencimento baseadas em estigmas. 

Acolher essa escolha significa, para as empresas, evitar microagressões no dia a dia, como campanhas internas que reforçam que “toda mulher sonha em ser mãe”, ou suposições em reuniões e rodas de conversa. Mais do que adaptar espaços físicos, é preciso adaptar mentalidades.

Ignorar essa pluralidade de experiências que uma mãe com deficiência pode trazer aos negócios significa perder talentos, enfraquecer a cultura interna e se afastar de um mercado que cobra, cada vez mais, autenticidade, diversidade e responsabilidade social. 

Não é de hoje que o mercado de trabalho é hostil com as mães. Segundo dados da FGV, 48% das mães deixam o mercado de trabalho até 12 meses após o retorno da licença-maternidade. Quando olhamos para as mães com deficiência, não temos sequer estatísticas específicas, o que, por si só, já revela o apagamento dessas mulheres. 

Empresas comprometidas com a inclusão de verdade devem fazer mais do que campanhas no Dia das Mães. Elas precisam criar estruturas que reconheçam e valorizem todas as formas de maternidade. Isso inclui: 

– Oferecer trabalho flexível e acessível, permitindo que mães com deficiência possam conciliar suas múltiplas responsabilidades;

– Promover treinamentos sobre capacitismo e maternidade interseccional, para que lideranças saibam como apoiar essas mulheres sem estigmatizá-las; 

– Valorizar histórias reais, dando espaço para que mães com deficiência compartilhem suas experiências dentro da empresa, gerando pertencimento e empatia; 

– Criar redes de apoio e programas de mentoria, que conectem essas mães a recursos, outras colaboradoras e caminhos de desenvolvimento profissional; 

– Substituir discursos excludentes por afirmações encorajadoras, como: “Agora que é mãe, ela trará ainda mais foco e organização”; “Como podemos valorizar a vivência e ampliar as oportunidades para mães com deficiência?”, “Que adaptações ou recursos fariam diferença no seu dia a dia de trabalho?” 

Na Talento Incluir, mais de 90% das nossas consultoras são mães com deficiência. Isso nos dá uma perspectiva prática e legítima sobre esse tema. Sabemos que apoiar essas mulheres é mais do que necessário, é possível. E, mais: é uma estratégia de inovação e sustentabilidade. Quando as empresas reconhecem a maternidade em todos os seus jeitos de ser, elas criam ambientes mais humanos, diversos e produtivos. 

Mães não precisam de discursos motivacionais sobre “dar conta de tudo”. Elas precisam de estrutura, respeito e espaço. E isso começa com uma decisão: incluir de verdade todas as mães, em todos os seus jeitos de ser, com e sem deficiência. 

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