Publicidade

Opinião

A autoestima do homem de colete puffer

Eles estão sentados em cadeiras de poder, mas não possuem metade da experiência de muitas mulheres


14 de junho de 2023 - 9h00

(Crédito: LuckyN/Shutterstock)

Talvez eu seja cancelada por esse texto, talvez eu seja por muitos odiada e por alguns amada. Talvez este texto me custe a simpatia de pessoas poderosas e me feche portas em alguns setores, mas eu preciso desabafar. Estou entalada com um personagem comum no mundo corporativo que vou chamá-lo de below-avarage, afinal de contas, ele adora um estrangeirismo. Tenho certeza que você conhece ou já conheceu um durante a sua jornada profissional.  

Eles estão espalhados por aí, são bem vestidos, confiantes, se portam com elegância, vestem seus coletinhos puffer azuis, usam sapatos sem meia, alguns são bem charmosos, colecionam siglas em seus curriculum: CEO da startup X, CFO da multinacional Y, Clevel da empresa H e costumam se encontrar aos montes na região da Faria Lima em São Paulo na hora do almoço.  

Veja bem, importante dizer que não estou generalizando. Nem todo homem de poder que se veste com jaqueta e colete puffer se comporta desta maneira. Estou sendo direta, a minha conversa é sobre os homens brancos medíocres que encontramos pelos corredores das companhias se comportando com uma confiança absoluta que permite com que eles se tornem os reis em qualquer lugar que povoem.  

Estou falando de alguns homens que ocupam cargos importantes, mas quando abrem a boca eu fico pensando como chegaram onde chegaram com tão pouca habilidade de comunicação, com tão pouco traquejo e conhecimento.  

Mas na verdade eu imagino como chegaram, são filhos de grandes empresários, são amigos de golf dos poderosos e aí as portas se abrem com facilidade a cada tacada. Ele nem precisa saber fazer o trabalho, só precisa abrir uma startup e esperar que o pai converse com algum colega que invista milhões na empresa e contratar as pessoas certas para desenvolver o produto. Está construída uma jornada de sucesso e poder que vai terminar num homem medíocre cheio de confiança que vai silenciar mulheres em todas as reuniões.  

Estes homens de quem estou falando estão sentados em cadeiras de poder e prestígio, mas no fundo não possuem metade da experiência e astúcia que uma mulher periférica líder comunitária desenvolveu administrando a escassez e se formando em sevirologia da gambiarra. 

Já faz um tempo que fico observando esses seres. Eles estão no topo da pirâmide e são o grupo mais unido que pode existir na sociedade. Eles se defendem, são aliados, criam estratégias para permanecerem no poder e só indicam pessoas iguais a eles para ocupar estes espaços.  

Nós temos muito o que aprender com esses caras. Nós precisamos falar com a mesma confiança que eles falam, interromper as falas deles com a mesma firmeza que eles interrompem a nossa e nos unir da mesma forma como eles se uniram. Se sentiu insegura em qualquer situação de trabalho? Se pergunte o que este homem faria. De que maneira ele conduziria esta situação?  

Observe-o e perceba que ele tem truques. Nas reuniões ele sempre se porta de uma maneira diferente do restante da equipe, senta próximo ao líder e sempre fala diretamente para ele. Olho no olho do líder e com uma fala de cumplicidade. Ele se autoelogia enquanto você se autodeprecia. Ele se atreve a qualquer vaga mesmo não tendo 60% dos skills solicitados enquanto você espera ter 100%. E se tiver que ir ao golf, vá. Se tiver que ir de colete puffer no almoço não tema, mais importante do que ser reduzida a um estereótipo é você conquistar seu lugar ao sol.  

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Algoritmos novos, vieses antigos: como a IA reforça estereótipos

    Algoritmos novos, vieses antigos: como a IA reforça estereótipos

    Especialistas refletem sobre a urgência de uma abordagem crítica e transparente na implementação de tecnologias de inteligência artificial

  • De estagiária a VP global: os 20 anos de Thais Hagge na Unilever

    De estagiária a VP global: os 20 anos de Thais Hagge na Unilever

    A nova VP global de marketing para Seda fala sobre sua trajetória na multinacional e como concilia a carreira com outras áreas da vida