Celebrar os pequenos progressos nos levará para o caminho da transformação?

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21 de março de 2022 - 14h06

Calma, caros(as) leitores(as)! Não estou falando que não devemos reconhecer os pequenos passos que damos dia a dia rumo a mudanças, hábitos e contratações na indústria de comunicação. Mas nesse mês da mulher eu estive (ainda mais) atenta às centenas de posts espalhados nas redes sociais de pessoas e marcas, ora falando sobre empoderamento, ora sobre as mulheres guerreiras, ora sobre as evoluções de metas. Enfim, obviedades.

Trabalhei em agências de publicidade por pelo menos 11 anos da minha carreira e sempre recebi briefings para essas datas. Muitas vezes sabendo que os próprios clientes que nos brifavam tinham muitos vieses, para não dizer outra coisa. Foi então que me peguei refletindo sobre o quão apenas celebrar essas mudanças graduais nos tira o foco de mudanças realmente efetivas. E aí, os números nem precisam falar por si sós. Olhe ao seu redor e responda: quantas realmente são as mulheres que estão sentadas nos boards? Quantas delas são negras, PCDs ou trans? O quanto a pauta de diversidade e inclusão poderia evoluir se fosse tratada com a seriedade que precisa? Acredito que, se todas respostas foram positivas, você está em uma empresa exemplo, que infelizmente ainda é minoria.

É inegável que há grandes potências femininas atuando e transformando muita coisa, principalmente trazendo impacto social e de negócios. Celebro todas elas, porque precisamos dessas inspirações todos os dias para seguirmos adiante. Afinal, sou uma otimista que olha para mudança do futuro, sem tirar os olhos da nossa realidade. Mas falando da minha jornada, especificamente, sei todos os dias também quais foram e continuam sendo as barreiras de gênero e raça que enfrento. E imagino que, para boa parte de nós, nunca foi fácil chegar e estar nesses lugares.

Continuar construindo campanhas que mostrem o progresso, embasadas por números que digam “estamos avançando”, minimiza a necessidade de termos discussões de mais profundidade que resultem, consequentemente, em ações concretas. Isso nunca bastou, mas em 2022 basta menos ainda. Porque isso nos coloca também em um lugar de ainda agradecer, ao invés de exigirmos equidade de gênero.

Em um artigo recente, Catherine Harris, CEO de uma grande agência na Nova Zelândia, usou o termo “Progresswashing”, que em suas palavras é basicamente uma tendência perigosa que, em última análise, impedirá o progresso e nos impossibilita de assumir o trabalho real que resta a ser feito. E essa problemática não é só do Brasil. 

Enfim, as histórias de sucesso precisam ser contadas e celebradas? Sim e com certeza! Mas isso não pode “apaziguar” a necessidade de que muito ainda deve ser feito. O progresso precisa ser verdadeiro e coletivo. Eu me levanto todos os dias com o objetivo de fazer um mundo diferente, de me questionar, aprofundar e trazer provocações pelos lugares onde passo. Lutar pelo trabalho de equidade de gênero não deve ser pauta para uma data: é uma tarefa de todos os dias, o ano todo. Não podemos parar, até que a equidade de gênero, com todas as suas interseções de diversidade e inclusão, seja solucionada.

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