Setembro amarelo: o direito de sofrer em paz
Como a depressão ainda é um tabu em nosso convívio social
Setembro amarelo: o direito de sofrer em paz
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4 de setembro de 2023 - 8h56
A toda hora se fala da nossa saúde mental estar afetada e ser o mal do século, tem sempre alguém falando do assunto em teoria, em linhas gerais e específicas. A cada momento surgem novos teóricos sobre o assunto. Muitos artigos, livros, vídeos, coachings.
Mas o quanto estamos dispostos a trazer para mesa essa questão de forma pessoal? o quanto realmente queremos debater o que nos desperta o(s) gatilho(s) que nos leva para crises difíceis?
Nem estou falando de grandes dilemas que insuflam discussões religiosas, espirituais, políticas e sociais. Essa vida maluca, nesses tempos, poderia ao menos nos dar esse sossego, o direito de sofrer em paz. E aqui vamos fazer um corte para falar de depressão, sim, gente, esse mal que afeta um número cada vez maior de nós humanos angustiados e aflitos.
Nos últimos tempos passei, do verbo estou passando, por uma questão familiar desafiadora, uma questão complexa, triste e rocambolesca em vários aspectos, e me vi novamente num mergulho entre a depressão e a necessidade de agir, uma pressão que grita mais que um rugido muito, muito alto, no pé do teu ouvido.
Não é a primeira vez que uma situação trágica me atola em uma depressão química que me ata, e, portanto, já tenho alguns atalhos de busca de ajuda e amparo. Mas mesmo com a experiência de quem percorre um caminho já conhecido me deparei com situações que me trouxeram para esse papo aqui. Eu fui demitida pelo meu dentista! Putz. Como assim? O que isso tem a ver com a depressão? Por incrível que pareça, tem tudo a ver.
Bem, foi assim: eu no meio desse enredo familiar horroroso, deveria colocar um aparelho no dente por uma questão da minha mordedura e tal, e aí, eu, uma mulher de quase 50 anos, fiquei muito insegura. Marquei, desmarquei e remarquei umas duas vezes, o suficiente para ele entender dentro da cabeça dele que eu não tinha o comprometimento necessário. E aí, pumba!!! Ele me demitiu!!!
Esse gatilho à minha revelia me emburacou mais ainda e eu não tive coragem de tentar explicar para ele da falta de sensibilidade dele com uma mulher de 50 anos, e nem que eu já estava doente, eu já estava deprimida. A falta de sensibilidade dele fez eu me sentir pequena e fraca, uma vulnerabilidade que nós mulheres sentimos tantas vezes e nos calamos. No caso em si, nem tive direito a manifestação, o recado era para ir buscar meus exames que estariam na recepção. Não é exagero, ele me demitiu, e da pior forma.
Precisamos poder sofrer em paz, poder falar para o dentista para o amigo, marido, esposa, filho, filha, irmão, irmã, primo, prima, chefe, colega de trabalho que estamos doentes e que precisamos de um espaço para sofrer, não é uma trégua integral, mas é um espaço para a dor, para a jornada de melhora que às vezes leva tempo e nem sempre conseguimos uma coisa que apenas parece simples que é falar, falar abertamente do que dói. E dói! Lutemos pelo direito de sofrer e de falar!
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