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O investimento no futebol feminino é suficiente?

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Opinião

O investimento no futebol feminino é suficiente?

O último mundial masculino no Qatar teve investimento em infra-estrutura de US$10 bilhões, contra US$27 milhões para a Copa feminina em 2023


17 de maio de 2023 - 8h24

(Crédito: Angelina Bambina/shutterstock)

 

Na semana passada vimos o presidente da Fifa, Gianni Infantino, ameaçar não transmitir a Copa do Mundo de 2023 nos principais países Europeus. Isso aconteceu porque emissoras do Reino Unido, França, Espanha, Itália e Alemanha fizeram ofertas extremamente baixas pelos direitos de transmissão. Isso é novidade? Na minha opinião, não. Existem suposições de que isso esteja conectado à questão do fuso horário de Austrália e Nova Zelândia não serem propícios para a exibição do mundial no horário nobre. Será? 

E olha que a Fifa está movendo mundos e fundos. O presidente da FIFA garantiu que o dinheiro das transmissões será investido no futebol feminino. Além disso, vimos que a Eurocopa feminina do ano passado foi assistida por mais de 365 milhões de pessoas e, só na final, por 50 milhões. A finalíssima também foi impressionante com mais de 83 mil pessoas em Wembley, Londres. Esse é um público histórico, o maior de uma partida da seleção brasileira feminina, e também foi considerado o quinto maior do futebol feminino no mundo todo. 

A FIFA garantiu também que a premiação da Copa do Mundo deste ano será o triplo da realizada em 2019, com total de R$765 milhões, mas ainda segue bem abaixo da premiação dada na Copa do Mundo de 2022, no Qatar, que foi de R$2,2 bilhões. Um dado interessante que encontrei foi sobre o investimento nas estruturas, um levantamento do Insper revelou que o Qatar investiu US$10 bilhões com infraestrutura de estádios. No entanto, os países da Copa do Mundo Feminina deste ano estimam um gasto de pouco mais de US$27 milhões nas estruturas. 

Todo esse acompanhamento que venho fazendo do tema e trazendo mês a mês aqui na coluna me faz refletir sobre a disparidade entre as seleções femininas e masculinas em diversos aspectos. O esporte feminino, como um todo, demorou anos para ser reconhecido, a ter as mesmas modalidades para ambos os sexos, a ter premiações, a ser desvinculado da feminilidade. 

No estudo que fizemos sobre futebol feminino, buscamos o histórico completo da mulher no esporte. Da primeira Olimpíada realizada, as mulheres passaram a serem aceitas competindo apenas 32 anos após o início dos jogos. Em 1966, 38 anos depois da primeira mulher competir, uma mulher se destacou mais que os homens, Helen Stephens, e foi submetida a teste de gênero, pois não acreditavam que uma mulher poderia ter resultados tão extraordinários. Isso foi repetido recentemente com a atleta sul-africana Mokgadi Caster Semenya Oib, que foi submetida a testagens que indicaram características intersexo, mesmo com um corpo feminino, e teve que se submeter a controle de testosterona. 

No futebol feminino, casos igualmente impensáveis aconteceram. No Brasil, durante 38 anos foi proibido que mulheres jogassem futebol. E não faz muito tempo, a proibição terminou em 1979, menos de 50 anos atrás. Outra polêmica recente relacionada às mulheres foi em 1999 com Sissi, uma das maiores jogadoras brasileiras da história antes da Marta. Ela raspou os cabelos em homenagem a um ente querido com câncer. Em 2001, virou regra do regulamento do Campeonato Paulista de Futebol Feminino a seguinte frase absurda: “enaltecer a beleza e sensualidade das jogadoras para atrair o público masculino”. 

Com isso, podemos ver que, ainda neste século, as mulheres no esporte tiveram o papel apenas de satisfazer as necessidades masculinas no sentido sensual, e não de competição, futebol-arte e entretenimento para toda família como a modalidade masculina. Por ser considerado algo inferior e apenas com as conotações sexuais, não eram dignas de investimento.  

Enquanto a primeira Copa do Mundo Masculina foi em 1930, há 93 anos, a feminina foi apenas em 1991, 61 anos depois. No Brasil, vemos uma ampla desigualdade desse investimento quando a CBF precisa intervir para que os clubes tenham times femininos. Uma comparação do nosso país com os EUA escancara ainda mais esse desnível: segundo estudo da Fifa de 2019, tinham cerca de 15 mil mulheres jogando futebol de maneira organizada em clubes e campeonatos, já nos Estados Unidos eram 9,5 milhões de mulheres jogando. Um número que impressiona e traz uma noção do quanto ainda estamos engatinhando quando o tema é futebol feminino. 

Apesar desse cenário, o Brasil tem jogadoras fenomenais e que dão a vida pela nossa seleção. Mesmo sem o favoritismo para levantar a taça na Austrália, acompanharemos de perto toda a trajetória desse time que já nos trouxe oito conquistas da Copa América feminina, sendo a maior campeã do campeonato, e três medalhas de ouro dos Jogos Pan-Americanos. 


Nosso time na Oceania certamente será acompanhado por muitos brasileiros apaixonados por futebol e que acreditam na nossa seleção. Incluindo as criadoras de conteúdo Alê Xavier e Luana Maluf, do Passa a Bola, e Bianca Santos e Marília Galvão, do Desimpedidos. Sigo acompanhando os desdobramentos, faltam pouco mais de dois meses e a expectativa é gigantesca, torcendo pelo título e também para que os investimentos na categoria melhorem. Como está a expectativa aí? 

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