Artigo: Menos chatice, por favor!
Felipe Tercetto, do planejamento da fri.to, afirma que grande parte dos usuários do Facebook enxerga a ferramenta como um meio quase que exclusivamente de reclamação
Felipe Tercetto, do planejamento da fri.to, afirma que grande parte dos usuários do Facebook enxerga a ferramenta como um meio quase que exclusivamente de reclamação
Meio & Mensagem
5 de abril de 2013 - 12h15
(*) Por Felipe Tercetto
Vivemos a era da Chatice 2.0. O Facebook, com mais de 1 bilhão de usuários (dos quais 64 milhões, ou cerca um terço da população, apenas no Brasil), tem sido o principal divã onde se deita uma massa expressiva de ofendidos que vive, quase que exclusivamente, para reclamar. Somos o 2º maior país da rede em número de usuários e fazemos das campanhas publicitárias um dos principais alvos de ataque.
Não é que os consumidores não tenham o direito de sinalizar descontentamento com algo que fira seus princípios. Isso é inegável. O grande problema é que há uma parcela que está descontente com tudo. Tudo mesmo!
Quando, na sua vida, você imaginou ver algum caso de “preconceito contra peludos”? Não falo de piadas ou preferências, mas da real ofensa pelo fato de alguém ter muitos pelos. Acredito que a maioria das pessoas nunca tenha visto ou passado por isso. Portanto, o quão estranho soam reclamações desse tipo acerca de uma campanha? Trata-se do recente caso da Gillette, marca de lâminas de barbear que, ao sugerir que as mulheres preferem homens depilados, causou constrangimento em parte do público, o qual demonstrou todo esse sentimento com centenas de postagens negativas nas redes sociais.
Outra campanha que entrou nessa onda de descontentamento exagerado foi a da cerveja Devassa. Os filmes da campanha, que têm a atriz Alinne Moraes como garota-propaganda, invocam a ‘primeira vez’ de um personagem, devidamente acompanhada por todas as mídias e com todos a torcer por ele. No final, se revela que a primeira vez em questão é o ato de experimentar a cerveja da marca. Aqui, as reclamações são óbvias: a relação da cerveja com a iniciação sexual. Mas, vamos lá: o nome da cerveja é Devassa. A campanha não é simplesmente sexualizada, como muitas. A suposta sensualização faz parte do conceito humorístico da marca e isso fica claro em todas as ações.
Reclamar e se posicionar contra a campanha até dá para entender. Mas estamos num momento em que bizarrices caminham para o Judiciário, dão trabalho ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) que, aliás, nem chegou a julgar a primeira campanha e arquivou a segunda. Prova de que há realmente um exagero.
Outra campanha recente, da Nesfit, teve o processo paralisado por falta de “prova” ou, prefiro pensar, porque passou pelo crivo do bom senso. A propaganda foi considerada incentivo a distúrbios alimentares porque mostra uma modelo já magra que se sente desconfortável ao usar um biquíni e, por isso, resolve provar o produto para emagrecer um pouco mais. Essa também foi julgada, mas o processo foi arquivado, evidência de que nada no comercial incentivaria a bulimia ou anorexia.
Clássicos premiados
Não conseguiríamos imaginar clássicos premiados da propaganda hoje. Tentem, por um instante, pensar se o comercial “O primeiro Valisére a gente nunca esquece” (assista ao vídeo abaixo) fosse veiculado agora. Extremistas diriam que é uma ode ao sexismo, instituições afirmariam tratar-se de um incentivo à sensualização infantil, haveria comentários em letras maiúsculas bradando sobre bullying e coisas parecidas. O apelo romântico do comercial iria por água abaixo, afora as diversas reclamações que chegariam ao Conar.
A passagem dos anos deveria trazer evolução e mais compreensão por parte das pessoas, mas parece que ocorre o inverso. Nunca houve tanta liberdade de expressão no País e, ao mesmo tempo, tanto conservadorismo. Chatice é um mal não só para a comunicação, mas para o próprio cotidiano das pessoas. Acredito que, quem investe seu tempo para achar problema em tudo o que vê, tem uma vida infeliz. Por favor, sem preconceito contra os infelizes. Mas, que tal dar um basta nisso e, só pra quebrar a rotina, levar a vida com mais humor?
(*) Felipe Tercetto, da área de planejamento da fri.to, ecreveu este artigo em colaboração para o Meio & Mensagem.
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