“Não descartamos o retorno do personagem”, diz Moreno

Luiz Gustavo Pacete
23 de fevereiro de 2017 - 13h49

“Minha contribuição foi como ator, intérprete de um personagem carismático, mantido e revitalizado durante tanto tempo”

Na semana passada, Carlos Moreno, o Garoto Bombril, ganhou as redes após uma notícia de que ele teria rompido de forma definitiva com a marca que se dedicou por quase quarenta anos. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Moreno explica o que ocorreu nos últimos meses da relação com a Bombril e como foi ficar por tanto tempo associado diretamente a uma marca. Segundo o Guinness Book, Moreno é, desde 1994, o garoto-propaganda que mais tempo ficou no ar.

O mais longevo personagem da história da publicidade brasileira foi criado em 1978 por Washington Olivetto e Francesc Petit, na então DPZ. Procurada, a Bombril não comentou a saída de Moreno. “Num momento de reestruturação da empresa e de mudanças em sua estratégia de comunicação, nós decidimos, de comum acordo, pela não renovação. Mas não considero que tenha sido de forma ‘definitiva’, não descartamos a possibilidade de um eventual retorno do personagem”, diz Moreno.

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Meio & Mensagem – Você encerrou o contrato com a Bombril de forma definitiva?
Carlos Moreno – Sim, meu contrato com a Bombril se encerrou em abril do ano passado, de uma forma discreta, tranquila e amigável – o que, aliás, sempre caracterizou nossa relação profissional ao longo de 36 anos. Num momento de reestruturação da empresa e de mudanças em sua estratégia de comunicação, nós decidimos, de comum acordo, pela não renovação. Mas não considero que tenha sido de forma “definitiva”, porque não descartamos a possibilidade de um eventual retorno do personagem.

M&M – Como foi contribuir para construir a marca Bombril?
Moreno – Quanto a construir a marca: sem falsa modéstia, minha contribuição foi como ator, intérprete de um personagem carismático, mantido e revitalizado durante tanto tempo graças à feliz convergência de talentos tanto na criação, produção e direção das campanhas publicitárias, como na equipe de marketing da Bombril.

“Em publicidade, em particular, tenho sido bastante criterioso na decisão de vincular ou não minha imagem a uma empresa, produto ou serviço”

M&M – De que maneira você está atuando com outras marcas? Como é estar vinculado tanto tempo a um personagem?
Moreno – Fiz campanhas de veiculação nacional para o Banco do Brasil, Rei do Mate, Óticas Carol e várias outras regionais. A diferença está no tipo de produto e serviço que estou anunciando e nas equipes que conheço a cada novo trabalho. Felizmente, estou tendo sorte. Confesso que, depois de tantos anos trabalhando basicamente com a mesma equipe, eu fiquei “mal acostumado”: meu desempenho como ator está diretamente relacionado com o fato de estar num ambiente de trabalho onde o que prevalece não é apenas a competência profissional, mas o respeito e a gentileza entre os envolvidos, seja qual for sua função. No meu caso, ter minha imagem associada à Bombril, que na percepção dos consumidores é uma empresa íntegra; e, a um personagem cujos atributos despertam a simpatia e a confiança do público, só me trouxe benefícios, deu visibilidade ao meu trabalho de ator e abriu portas para outros trabalhos. Sou muito grato ao que essa parceria me proporcionou, tanto pessoal como profissionalmente, e tenho orgulho em fazer parte de uma das campanhas mais bem sucedidas da história da propaganda brasileira.

“Como ator, a minha preferência sempre foi guiada pela possibilidade de experimentação e aprendizado”

M&M –Quais são seus projetos atuais?
Moreno – Como ator, a minha preferência sempre foi guiada pela possibilidade de experimentação e aprendizado que um novo trabalho pode me oferecer. Em publicidade, em particular, tenho sido bastante criterioso na decisão de vincular ou não minha imagem a uma empresa, produto ou serviço. Além disso, meu longo vínculo com a Bombril estabeleceu para mim um parâmetro de exigência e busco o mesmo padrão de qualidade nas novas campanhas das quais participo.

“Como ator, a minha preferência sempre foi guiada pela possibilidade de experimentação e aprendizado que um novo trabalho pode me oferecer”

M&M – Quais são seus projetos atuais e o que o mercado pode esperar do Carlinhos Moreno em 2017?
Moreno – Meus projetos pessoais estão relacionados às minhas atividades teatrais, como ator e como produtor. Apesar da habitual falta de incentivo à cultura, pretendo produzir dois espetáculos este ano e fui convidado para integrar o elenco de uma peça para o segundo semestre. Em teatro eu ainda consigo ter acesso e domínio sobre os meios de produção, diferentemente de outros veículos e linguagens – como cinema, televisão, incluindo o mercado publicitário – onde minha participação não depende apenas da minha vontade. Claro que a visibilidade decorrente do “Garoto Bombril” tem me proporcionado oportunidades em vários áreas e projetos. Mas, como mencionei antes, escolho com cuidado onde me envolver, com o intuito de preservar essa imagem, esse “legado” do personagem. Minha atitude pode acabar reduzindo volume, mas garante qualidade.