O maior criativo do mundo
Ele acha que deveríamos viver de surpresas e não de consensos
Ele acha que deveríamos viver de surpresas e não de consensos
Meio & Mensagem
6 de outubro de 2015 - 8h00
Por Mauro Cavalletti
Recebi uma tarefa complicada de uma das minhas redes favoritas: nominar, junto com outros 200 colegas, o maior criativo desta geração. Resolvi que não vou dar palpite desta vez. O maior criativo que conheço neste mundo gosta de privacidade e temo incomodá-lo. Por reconhecimento e justiça, devo dizer que o maior criativo do mundo tem uma obra magnífica. Em sua carreira, tem mais de 12 álbuns de música capazes de fazer chorar uma criança e transportar qualquer adulto a pontos inexplorados de suas mentes. Escreveu livros de ficção incríveis, desenhou os mais malucos quadrinhos, criou pinturas monumentais. Faz microesculturas visualizadas somente por câmeras cirúrgicas que passeiam por suas minúsculas paisagens infinitas. Sua obra-prima é uma sinfonia, realmente maravilhosa, única, conhecida por poucos. Dizem que a versão mais bonita é uma adaptação que ele realiza solo, com sua flauta transversal. Mas isso ninguém que eu conheça jamais ouviu. Apesar disso tudo, o maior criativo do mundo é um ilustre desconhecido e é assim que devo mantê-lo.
Vamos fazer um breve intervalo para referências científicas. Lá pelos anos 1990 se falava muito de ciências cognitivas e a diferença entre a inteligência, pensamento convergente pelo qual se chegava a respostas corretas, e a criatividade, pensamento divergente que levava a soluções inovadoras.
Foi nesta época que dois acadêmicos ficaram famosos por suas pesquisas em criatividade. Howard Gardner, da Harvard, reconhecido por sua Teoria das Múltiplas Inteligências, e Mihaly Csikszentmihalyi (ufa!), da Universidade de Chicago, mundialmente conhecido pela Teoria do Fluxo. Juntos criaram uma tríade muito simples para explicar criativos excepcionais: a combinação de um talento incomum, o domínio de uma disciplina e o reconhecimento dos pares. O que isso tem a ver com o maior criativo do mundo? O esquema explica o papel das listas de criativos do ano, dos grandes festivais e prêmios na nossa cultura. Usamos um meio reconhecido para validar nossos pares enquanto eles reconhecem nosso trabalho. Isto é, grupos de criativos estabelecidos validam o trabalho ou a carreira de outros criativos. A maneira mais justa que conhecemos é um mecanismo de criação de consenso. Um jeito inteligente de definir e amarrar o que é criativo. É como colocamos dentro da nossa caixinha o que deveria estar fora da caixinha. Não conhecemos outro jeito melhor, mas o maior criativo do mundo acha isto tudo uma falha enorme no sistema, acha que deveríamos viver de surpresas e não de consensos.
Seu questionamento do julgamento dos pares começou por volta da metade de sua carreira. O maior criativo do mundo fez somente um filme em toda sua vida, mas é considerado por muitos o melhor de todos os tempos. Curiosamente, resolveu que iria creditar o filme a um colega diretor de fama mundial. Foi quando o maior criativo do mundo foi questionado por seus colegas, que entenderam sua experimentação com o consenso criativo como um passo para a autopromoção. Autopromoção de quem, se crédito de seu trabalho era publicamente de um outro criativo? Não importa. Na criação do consenso precisamos garantir o conforto enquanto trazemos a novidade para dentro do sistema. Quando julgamos criatividade, estamos criando regras e necessariamente excluindo o que fica fora delas. E isto deixa o maior criativo do mundo entediado.
O maior criativo do mundo, o melhor desta geração, tem 78 anos. É uma mulher extremamente produtiva e vive feliz em Barcelona, usando seus inúmeros pseudônimos para produzir incansavelmente com dezenas de colaboradores ao redor do mundo. Não acredita em prêmios nem homenagens, que considera mau uso de seu tempo. Prefere desenhar videogames, criar fantasias de Carnaval e desenhar pontes belíssimas. Melhor deixá-la assim.
(*) Mauro Cavalletti é head of creative shop do Facebook e escreve mensalmente para Meio & Mensagem. Este artigo está publicado na edição 1680, de 05 de outubro de 2015.
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