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Opinião: A aventura de encolher

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Comunicação

Opinião: A aventura de encolher

A jornada dos meus filhos não será uma onde o progresso significa ?mais e maior?. E sim ?menor, melhor e mais eficiente?


15 de outubro de 2013 - 12h43

(*) Por Rodrigo Leão

Todos os dias, antes de dormir, eu costumo ler para os meus filhos de sete e cinco anos. Depois de Caninos Brancos e O Chamado Selvagem, ambos de Jack London, estamos atacando, capítulo a capítulo, As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain.

Os dois primeiros livros deixaram nos meninos uma grande curiosidade por cães, animais selvagens e pelo Alasca, onde ambos se passam, tornando esse lugar inóspito um destino de desejo da gurizada junto com a Disney. São histórias da descoberta da identidade americana, escrita com violência, racismo, loucura e ganância, mas também com heroísmo, conquista e exploração de um mundo até então de fronteiras infinitas. Um mundo onde havia muito para ser descoberto; um mundo ainda cheio de dobras e recôncavos, lugares onde era possível sumir na natureza e, nela sumindo, encarar a si mesmo. Um mundo que acabou durante a minha e a sua vida.

Passeando na hora do almoço aqui pela Vila encontrei meu amigo Pedro Inoue, um designer muito talentoso e engajado nas causas anticorporativas. Pedro é um dos diretores criativos da Ad Busters, revista internacional que atende aos leitores que lutam contra o sistema de distribuição de informação corporativo, que, segundo eles, é um dos pilares da crise social que vivemos. Papo vai, papo vem, justamente falando de nossos filhos, o Pedro me lança essa: “Você já imaginou que esses caras (nossos filhos) aprendem na escola que eles precisam salvar o mundo. Imagine essa responsabilidade.” Aquilo me encasquetou. Lembrei-me do meu filho menor que sempre diz: “Papai! Não pode deixar a torneira ligada para salvar o planeta.” Ou então: “Papai, o menino jogou papel na rua e vai destruir o planeta.”

E subitamente eu entendi que a jornada dos meus filhos não será uma onde o progresso é sinônimo de expansão e conquista, de “mais e maior”. O progresso deles será um de contenção e retração. Um progresso feito de “menor, melhor e mais eficiente”.
No dia 30 de setembro, o Meio & Mensagem publicou uma entrevista com Craig Davis, multipremiado ex-chefe criativo mundial da JWT, que recém-abandonou seus cargos de chefia na Publicis Mojo australiana. Disse o Craig na entrevista: “Trabalhar na indústria da publicidade está muito mais difícil do que costumava ser, não no sentido de conseguir melhores resultados, mas em termos dos processos envolvidos — sem que isso traga recompensa ou satisfação à altura.” Repare nesse final: recompensa ou satisfação à altura. O pé no saco mais pesado do que o ouro no bolso e a alegria no coração.

Deu para entender onde eu quero chegar? Craig e outros que vêm se desiludindo com a publicidade ainda não enxergam a nova aventura proposta pelo mundo. Uma aventura onde eficiência vale mais do que pujança. Onde riqueza não é ter mais do que o próximo, mas ter mais do que você precisa; onde a cadeia de valor criada por homens e empresas deve considerar a repercussão ecológica e social de seus empreendimentos; onde credibilidade pode valer mais que crédito; onde uma marca não tem de ser apenas boa, tem de ser do bem.

Tendo começado em propaganda na década de 1990, sei perfeitamente o que Craig quer dizer. A concentração dos meios de comunicação permitia que nós, criativos da melhores agências, impuséssemos ao mundo nossas ideias e nossos valores por meio de nosso trabalho: criávamos personagens populares na TV, hits musicais que chegavam ao nº 1 da parada, modas e manias mundiais.
Como Fabergé e seus lindos e intrincados ovos de joalheria, éramos artistas de uma arte só trabalhando para o czar. Agora teremos de ser mais como Leonardo Da Vinci: artistas do canvas e da guerra, da ciência e da arte, numa sociedade só de príncipes.

Faremos a diferença criando em todas as frentes: produtos, serviços, experiências de consumo, design sustentável, orientando a participação social e cultural das empresas. Temos pela frente uma vasta fronteira: um mundo onde tudo pode ser menor, melhor e mais eficiente. Será uma baita aventura.

(*) Rodrigo Leão é sócio-diretor da Casa Darwin e professor dos MBA de Marketing. MBA Executivo Internacional e International MBA da FIA. Este artigo está publicado na edição 1581 do Meio & Mensagem, de 14 de outubro, nas versões impressa e para tablets. 

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