Opinião: Você é o que você compartilha
O brasileiro ainda está aprendendo a lidar com essa tal liberdade de ter voz, de ?fazer justiça? com o próprio iphone, de se sentir pertencente a algum grupo de discussão, mesmo que de forma polarizada
O brasileiro ainda está aprendendo a lidar com essa tal liberdade de ter voz, de ?fazer justiça? com o próprio iphone, de se sentir pertencente a algum grupo de discussão, mesmo que de forma polarizada
Meio & Mensagem
3 de março de 2016 - 4h55
(*) Por Barbara Bono
Uma coisa vem me incomodando (mais) ultimamente: a quantidade de compartilhamentos de coisas absurdas. Desde notícias com fontes duvidosas até vídeos e posts gerados pelo vizinho ao lado a partir de um primeiro impulso. Basta ter um celular com internet à mão e pronto. Está aberta a temporada da inquisição “virtual”. Em época de eleição, isso fica ainda mais latente. Até “implosão do Pão de Açúcar pra criar estacionamento” já pulou na minha timeline. É muito surreal que algo assim seja passado adiante sem que o sujeito verifique a fonte de tal absurdo. Ou não. Vou abrir um parêntese para explicar o que acontece com esse tipo de comportamento.
Já ouviu falar de comportamento de rebanho? Quando relacionado à comunicação e acesso à tecnologia, este comportamento traduz um fenômeno em que a pessoa segue a opinião de outras e não leva em conta sua própria informação ou conhecimento. Discernimento. Tem psicólogo, acadêmico e até professor de yoga que escreve muito melhor sobre isso. Mas, a questão aqui é que as redes sociais estão potencializando essa história. Há uma dificuldade de se formar opinião. Mais fácil passar a opinião pronta de alguém adiante. Opinião self-service. Escolhe o lado A ou B, azul ou vermelho e segue o barco, excluindo os amigos que pensam diferente, se fechando no condomínio virtual. São sempre as mesmas vozes reverberando para as mesmas pessoas. Assim como o rebanho faz.
Fechando parênteses, quantas vezes você já não se pegou passando adiante uma série de conteúdos provocado por esse tal impulso (muitas vezes estimulado por estratégias de SEO e conteúdo, o famoso título caça-clique figura aqui também), sem verificar a fonte ou se aquele conteúdo condizia de fato com a realidade? Sabe por que você não verifica? Porque a validação hoje em dia vem por meio de alguém que você conhece e confia. Mas será que esse alguém mora fora do seu “condomínio virtual”? Da sua vila
Nesse mundo onde todo mundo é produtor de conteúdo, também somos responsáveis pelo que é passado adiante e a responsabilidade com a ética deveria caminhar lado a lado com os cliques, fotos e vídeos em produção desembestada que rolam por aí.
Talvez ainda tenhamos muito o que aprender, somos imigrantes digitais, o brasileiro ainda está aprendendo a lidar com essa tal liberdade de ter voz, de “fazer justiça” com o próprio iphone, de se sentir pertencente a algum grupo de discussão, mesmo que de forma polarizada. Usar “discussão” e “polarizada” chega a ser até engraçado. Se isso não estivesse prejudicando um monte de gente por aí.
O nosso grande problema, quando você não olha para fora do rebanho, é condenar primeiro para perguntar depois. Enquanto isso acontecer, enquanto a vontade de ser o primeiro a falar de determinado assunto for mais importante do que o significado de tal assunto, seremos todos a ambulante baiana crucificada por encher a garrafa d’água durante um bloco em Salvador. Seremos todos essa tal escória da população que mata bebês golfinhos para tirar selfies. Somos todas mães com perfis derrubados no Facebook quando falamos o que é real (para uma parte) em relação à maternidade num desafio qualquer que surge a cada semana nas redes sociais.
No fim do dia, do assunto da semana ou do mês, somos todos vítimas de nós mesmos nessa inquisição virtual. Afinal, por que não será você a figurar pela timeline alheia na próxima fila do pão?
E a pergunta que fica é: quanto vale o share?
(*) Barbara Bono é head de conteúdo e engajamento da Artplan Rio de Janeiro
Compartilhe
Veja também
Britânia promove espetáculo natalino ao som de Air Fryers
Iniciativa foi desenvolvida pela Calia Y2 Propaganda e Marketing e conta com a presença do maestro João Carlos Martins
Campanhas da Semana: verão, festas e presentes
Intimus reforça importância do conforto no Verão, enquanto McDonald’s e Multishow apostam em música para se conectar com o público